Família e Telenovela: Um Retrato 3x4
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Pré-visualização do livro
Família e Telenovela - Camilla Rodrigues Netto da Costa Rocha
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO
À Maria Aparecida Baccega, indelével
Mestra e presença gentil nos meus dias.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à professora Baccega, pela orientação humana, afetuosa e crítica.
Aos meus pais, Luiz Miguel e Lucia e à minha irmã, Adrianna, por viabilizarem este projeto.
A Aline Carone, pelo incansável incentivo.
A professora Roseli Figaro, pelo exame preciso da pesquisa e por seu generoso aceite em contribuir enormemente com este livro.
A Juscilene Alves, Martha Junqueira, Wagner Dias, Sonia Licursi, Juliana Ketis do Prado e Ingrid Ceccacci, pelas importantes contribuições no processo de pesquisa.
Às professoras Eliza Casadei e Denise Cogo, pela avaliação crítica e atenta.
Aos amigos e membros do PPGCOM/ESPM, pela riqueza da interlocução e pelo afeto compartilhado. E à Capes, pelo financiamento da pesquisa de mestrado, que deu origem ao livro.
APRESENTAÇÃO
A telenovela entra em inúmeros lares; seus enredos, plenos de emoções e conflitos de toda sorte, contam trajetórias que muitas vezes assemelham-se às nossas. É o dia a dia, elaborado, que fervilha nas telas. Não é diferente com as duas telenovelas que o livro examina: Amor à Vida e Em Família. Nelas, os personagens Félix e Clara trilham, respectivamente, um caminho para aceitação e respeito do seu desejo. Enquanto Félix se apaixona por Niko, Clara declara seu amor à Marina e os dois, cada qual ao seu modo, enfrentam seio familiar e sociedade para formar uma família com quem amam.
Essas histórias me inquietaram; ao mesmo tempo em que no Brasil o Estatuto da Família tramita nas Casas Legislativas para proibir a união homoafetiva, a realidade do País caminha no sentido contrário: é cada vez maior o número de famílias formadas por duas pessoas do mesmo sexo. A ficção não foi indiferente a esse cenário e contou, em sua trama, algumas das batalhas enfrentadas por lésbicas e gays na vida real.
Assim, lancei-me em uma dupla aventura: conhecer os meandros discursivos dessas produções ficcionais e levar aos jovens as questões polêmicas suscitadas pelas vivências de Félix e Clara. Para tanto, aproximei-me de duas escolas públicas estaduais e, juntos – eu e os estudantes do ensino médio –, refletimos e debatemos sobre preconceito, respeito, machismo, homofobia, autonomia da mulher, entre outros temas.
Minha aposta, nesta escrita, dá-se certamente pelo encontro com pelo menos duas suposições: 1) a de que a telenovela pode ser um importante instrumento pedagógico se for parte de uma leitura crítica da mídia; 2) e, por fim, que o conhecimento é um dos melhores caminhos para superar preconceitos.
A autora
PREFÁCIO
A autora articula nesta obra três eixos: os estudos sobre televisão e telenovela; os estudos de recepção, sobretudo de jovens da escola pública; e os estudos sobre a família homoafetiva e a homofobia. Nada fácil para enfrentar em um mestrado! Conquanto a complexidade dos temas e de suas articulações, a autora realiza um estudo bastante denso, porque desenvolve sua pesquisa levando a sério o que propõe Jesús Martím-Barbero ao afirmar que é preciso conhecer o processo comunicacional – da produção à recepção – considerando as mediações da comunicação na cultura.
Assim, o leitor recebe um conteúdo que lhe oferece informações fundamentadas sobre os três eixos comentados, ou seja, o estado da arte dos estudos sobre televisão e telenovela; dados da legislação sobre o Estatuto da Família e os percalços de seus trâmites nas Casas Legislativas; e o estudo de recepção em duas escolas públicas, para entender como os discursos de telenovelas, no caso, Amor à Vida e Em Família, circulam entre os jovens e como eles comunicam os efeitos de sentidos a partir de suas experiências concretas.
No que tange à concepção da pesquisa, a autora compreende a comunicação como processo. Isso quer dizer que comunicação não é transmissão de informação como já nos ensinaram Paulo Freire, Dominique Wolton, Stuart Hall, Raymond Williams, Jesús Martin-Barbeiro e tantos outros. Coerente com sua abordagem de investigação, ela declara de início o seu ponto de vista, cumprindo assim o fundamental elemento de reflexão epistemológica indicado por Maria Immacolata V. Lopes, distanciando-se de perspectivas positivistas/cientificistas que consideram possível a nulidade do sujeito pesquisador.
Ao fazer essas escolhas, a autora delineia um percurso de investigação que vai nos fazer ouvir as vozes dos jovens de duas escolas públicas da cidade de São Paulo sobre o tema da homoafetividade versus homofobia, narrado durante meses por duas telenovelas brasileiras. Nessa perspectiva, a televisão e a telenovela passam a coadjuvante do processo comunicacional. O estudo, dessa forma, não está centrado nesses meios. O eixo estruturante de busca do conhecimento está no processo de circulação dos discursos sociais e nos efeitos de sentidos que os sujeitos vão adensando e modificando aos discursos iniciais, pois os sujeitos acrescentam e retiram elementos de sentidos a partir do seu lócus de vida e experiência.
Nesse percurso, a investigação – da televisão à escola; da narrativa ficcional à narrativa dos estudantes de escola pública – demonstra o papel das instituições como agentes mediadores dos discursos sociais. Em um polo, o da produção, está a narrativa teleficcional, estudada a partir de um tema social relevante, discutido no contexto da produção cultural comercial da tevê aberta do maior conglomerado de mídia do País; em outro, o da recepção, estão os discursos dos jovens estudantes, analisados no contexto da estrutura educacional da escola pública brasileira. Temos aí o conglomerado de mídia, o gênero telenovela e a escola pública no sistema educacional brasileiro. Como reelaborar sentidos entre dois tão poderosos agentes de socialização, de maneira geral, reiteradores do status quo? Como os jovens discutem seus valores no tocante à questão LGBT e à organização de famílias homoafetivas?
Essa é a problemática que a pesquisadora vai enfrentar em sua investigação. Sua busca é pela possibilidade da construção de um discurso crítico, capaz de quebrar estereótipos e preconceitos por meio da informação, do diálogo e do conhecimento. Na conclusão, nos mostra que os jovens estudantes têm o que dizer e querem nos dizer. Precisam dizer para compreender e mudar. As suas próprias famílias e as experiências do cotidiano compõem um emaranhado de discursos; e a telenovela e a escola, vez ou outra, abrem-se para questionar valores cristalizados. Raros momentos, embora devessem ser frequentes. Mesmo assim, a presença de um agente externo, um pesquisador, um educador, pode propor questões e fazer pensar. Introduzir uma nova janela da qual se possa pensar o mundo.
Por fim, o resultado estimula o leitor a uma série de outras perguntas. Encoraja jovens pesquisadores a levar esse plano de investigação adiante. Provoca, sobretudo, a vontade de saber mais. Desse modo, cabe-nos solicitar à autora que persista nesses caminhos de investigação, visto que os frutos que já trouxeram e prometem continuar trazendo são bastante relevantes.
Prof.ª Dr.ª Maria Aparecida Baccega e Prof.ª Dr.ª Roseli Figaro
Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Consumo da ESPM (PPGCOM/ESPM) | Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade de São Paulo (ECA/USP)