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Pesquisa fenomenológica de um encontro intercultural
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E-book244 páginas3 horas

Pesquisa fenomenológica de um encontro intercultural

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Sobre este e-book

Em meio aos desafios contemporâneos da convivência entre culturas, esta investigação psicossocial objetivou compreender como crianças da comunidade tradicional de Morro Vermelho/MG encontram a alteridade cultural ao começarem a frequentar a escola na cidade. O referencial adotado – a fenomenologia clássica de Husserl e Stein – orientou a coleta de dados em observação participante e a análise das vivências. Foi possível identificar que a transição é vivida pelas crianças como processo de abertura pleno de juízos, orientado pela exigência por uma experiência totalizante de familiaridade que elas se empenham por concretizar. Evidenciou-se como essa exigência, fator estruturante do mundo-da-vida da coletividade investigada, articula-se a características culturais barrocas e brasileiras e constitui-se como recurso da formação tradicional no encontro com a sociedade modernizada, pois mobiliza os sujeitos a uma inserção aberta, ativa e crítica.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de jan. de 2016
ISBN9788547302207
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    Pesquisa fenomenológica de um encontro intercultural - Roberta Vasconcelos Leite

    Editora Appris Ltda.

    1ª Edição – Copyright© 2016 dos autores

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

    Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

    Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIA E TRANSDISCIPLINARIEDADE

    Àqueles que, abrindo caminho e

    sustentando meus passos,

    tornaram possível esta trajetória:

    meus pais, Marta e Paulo. Yuri e Miguel.

    AGRADECIMENTOS

    A vida apresenta-se a mim como inexplicável, tão frágil e potente, tão contraditória e plena de possibilidades de realização. Agradeço Àquele que é o fundamento de tudo, pelo dom da existência.

    O dom de existir se faz possível pelo sim de pessoas que concretamente me acolhem. Agradeço aos meus pais, Paulo e Marta, pelo amor sem limites e pela aposta no meu caminho.

    A alegria da trajetória não seria possível se desde o início não contasse com verdadeiros companheiros de jornada. Agradeço aos meus irmãos, Fernanda e Guilherme, pela oportunidade de crescermos juntos, compartilhando tudo o que somos.

    Não há percurso que se sustente sem o solo forte onde repousar os pés. Agradeço a toda a minha família pelas raízes de minha formação e pelo imenso carinho, mesmo à distância. Especialmente às minhas avós, Maria Amélia e Maria Inês, agradeço pelas lições de vida que me dão confiança para seguir em frente.

    O caminhar se faz realização no encontro que surpreendentemente nos corresponde de modo pleno. Agradeço ao meu esposo, Yuri, pelo olhar que me salva, pela companhia que me completa, pela persistência em me sustentar quando minha fragilidade se faz mais evidente e por ter me propiciado receber o dom da vida encarnado em nosso filho, Davi.

    O que parecia completo sempre pode se ampliar. Agradeço a Ovídio e à família Elias por me acolherem como filha, por me aceitarem como irmã, por cuidarem de mim como neta.

    Atravessar a graduação com mais que colegas permitiu-me chegar a ser psicóloga. Agradeço aos amigos – especialmente Bruno, Aline, Carol e Davi – que comigo enfrentaram as dificuldades sem perder a alegria, fazendo valer a pena cada dia dos meus anos de formação e permanecendo como companhias para a vida toda.

    Na formação, a pesquisa e a docência se apresentam como vivência correspondente, horizonte ao qual me dirigir. Agradeço aos amigos do LAPS a oportunidade de cuidarmos juntos de um espaço de diálogo real e efetiva construção de uma psicologia da pessoa.

    Os passos seguintes, no mestrado, revelaram-se como desafio constante num caminho estreito, cujos obstáculos podem ofuscar o destino almejado. Agradeço a todas as companhias presentes nessa travessia, especialmente a Cláudia, por ser presença constante, companhia com quem dividir as fraquezas e conquistas, amiga com quem sei que posso contar.

    A travessia também requer outras modalidades de recurso para se concretizar. Agradeço ao CNPq, pelo apoio financeiro materializado em bolsas de iniciação científica e mestrado.

    O percurso não é completo sem o tributo a quem nos abriu caminho. Agradeço a meu orientador, mestre, amigo, padrinho, Miguel, pela afeição e paciência em correger meus passos.

    APRESENTAÇÃO

    Realizar uma pesquisa em Morro Vermelho – comunidade rural tradicional mineira – acompanhando dez crianças no momento em que elas vivenciavam a transição para a escola na cidade. Essa foi a proposta inicial da investigação que apresentamos nesta obra, fruto do encontro vivo com essa comunidade que culminou na pesquisa de mestrado Viver a tradição e encontrar a alteridade cultural: investigação fenomenológica na comunidade rural de Morro Vermelho (LEITE, 2011), orientada pelo Prof. Dr. Miguel Mahfoud, no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais¹.

    Empenhamo-nos para que a pesquisa se enraizasse na experiência, ao mesmo tempo em que buscamos contemplar os horizontes amplos que gradativamente se abriam aos nossos olhos. Acolhendo questões complexas que nasciam no percurso, adentramos os desafios da generalização nas ciências humanas e, particularmente, nas pesquisas qualitativas. Assim, chegamos a nos interrogar sobre como a experiência das crianças que acompanhamos poderia nos dizer algo sobre o modo de elaboração próprio das comunidades tradicionais da atualidade. Ou, ainda: quais seriam as particularidades do encontro entre o mundo rural-tradicional e o mundo urbano-modernizado, talvez o encontro intercultural mais frequente em nosso país? E o que nossos achados poderiam nos revelar sobre os processos de escolarização, sobre como crianças com formação tradicional os vivenciam e como transitam entre diferentes ambientes escolares?

    Questões cuja possibilidade de resposta necessariamente remete à consistência metodológica da investigação que desenvolvemos. Seria possível acolher as interrogações amplas em nosso labor científico sem perder a vitalidade da experiência? Como chegar a tematizar o dinamismo de encontros interculturais e da própria cultura brasileira tendo encontrado apenas dez crianças na concretude de seu cotidiano agora transformado pelo intercurso constante entre o campo e a cidade?

    Esses são alguns dos desafios lançados nesta obra, os quais encontram seu caminho por meio da metodologia de pesquisa da Psicologia da Cultura de orientação fenomenológica. Uma modalidade de investigação em que a psicologia se abre à dimensão cultural buscando compreender os processos sem reducionismo, dedicando-se a preservar a complexidade e a diversidade da experiência humana. E, assim, entendemos dar a nossa resposta ao chamado de Edmund Husserl – pai da Fenomenologia Clássica – à construção da ciência sobre as novas bases sedimentadas pelo projeto fenomenológico.

    Por essa razão, além de apresentar os resultados da pesquisa na primeira parte da presente obra, buscamos na segunda parte relatar de forma detalhada os fundamentos e a metodologia inerentes à pesquisa fenomenológica que desenvolvemos. Intentamos evidenciar os aportes que nos permitiram buscar dar um testemunho fiel da experiência do encontro vivo com crianças da comunidade tradicional de Morro Vermelho e, gradativamente, ampliar horizontes, podendo chegar a tocar e oxalá dar contribuições para a compreensão de todas aquelas questões que se abriram a nós, lançando provocações para o entendimento de fenômenos semelhantes em contextos diversos.

    Nascida do encontro, dedicada a desvendar um encontro, essa obra carrega o desejo de que também o leitor possa vivenciar o encontro com nossa experiência de pesquisa ao longo de suas páginas. Essa é a nossa aposta, esse é o nosso convite. Vamos caminhar?

    PREFÁCIO

    Este texto começou a ser escrito há muito tempo, e talvez Roberta não se lembre desse nosso primeiro encontro que foi num congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia. Andava eu olhando a sessão de pôsteres quando me deparei com um que me encantou: era sobre um lugar chamado Morro Vermelho e, apresentando-o, estavam Roberta e Yuri, provavelmente com bolsa de iniciação científica. Faz tempo mesmo.

    Meu encantamento ante o que li foi por ser este um estudo de campo etnográfico, buscando registrar a memória e a história de uma cultura tradicional de muitos anos, mais de 300, e das pessoas que habitavam o vilarejo. Na época, poucos eram os estudos, em psicologia, com essa abordagem.

    Lembro-me que ficamos conversando e fui informada que era um estudo a que Miguel Mahfoud (que eu não conhecia) se dedicava há tempos – agora há 20 anos, leio depois no texto –, e que Morro Vermelho era uma comunidade rural tradicional em Minas Gerais. Muito entusiasmada, contei que eu também fazia estudos de campo, mas nada comparável ao deles.

    Outro encontro que registrei, bem mais tarde, muitos anos depois, foi, ao irmos ao Morro Vermelho, na companhia de Miguel e de outros, Roberta me contando sobre o caminho que as crianças faziam para ir da localidade à escola. Registrei isso como se estivéssemos na perua das crianças, o que, de fato, nunca aconteceu. Nesta ida à comunidade, pude também presenciar as crianças, circulando livres pela comunidade, em interação.

    Durante esses anos, muitos foram os encontros em que acompanhei Roberta até chegar a este momento em que me pediu para apresentar este livro do qual é a autora e que decorre de seu mestrado.

    Ao tomar ciência deste trabalho, logo na Apresentação, leio: como as crianças transitam entre diferentes ambientes escolares? Portanto, a indagação tanto mobilizou Roberta que eu a assimilara como tendo participado dela.

    Para mim, a verdade de um estudo é ele ter a ver consigo (MAHFOUD, 2012) por corresponder a uma exigência de verdade, uma centelha que põe em ação o motor humano (GIUSANI, 2009, p. 25). Essa centelha, ou dedicação apaixonada, é que faz Roberta ser o seu campo, correspondendo ao método fenomenológico que, como ela bem apresenta, é baseado na experiência, na experiência das crianças e na dela própria. Disso resulta uma inteireza que todos, ao lerem este livro, certamente dar-se-ão conta.

    Resulta também um aspecto relacionado à ética, que pode visto no início da obra, na nota 2, em que ela opta por conservar o nome verdadeiro – de novo, a verdade – das crianças e dos adultos entrevistados, assim como a si própria como entrevistadora. Quando há respeito pelas pessoas, e quando elas direcionam o fazer do pesquisador e, portanto, participam efetivamente da pesquisa, têm de aparecer com seus nomes e suas caras, não vendadas. Trata-se da autoria de suas vidas que está sendo apresentada, e seus nomes e rostos são suas assinaturas.

    Lendo o trabalho, reencontro-me com meu encantamento anterior ao recordar os costumes, a história, as tradições, a identidade dos moradores do local, cuja escuta parece carregar uma esperança de um mundo melhor. Cito, porque Roberta o expressa muito bem:

    O relacionamento vivo com o povo de Morro Vermelho, pessoas que nos dão a conhecer seu mundo ao nos comunicarem suas experiências, mobiliza-nos a uma postura ética de cuidado e rigor, a não tomar suas expressões como pretexto para impor nossos interesses ou reafirmar compreensões já estabelecidas. Por isso, interessados em compreender e respeitar fenômenos sociais complexos e dinâmicos, não fomos a campo sozinhos. Caminhamos na companhia de autores que nos auxiliaram na árdua tarefa de descobrir onde depositar o olhar; compreender como manter a abertura para evitar negligenciarmos elementos importantes em prol daqueles que escolhemos como diletos; aprender a reconhecer quando foi preciso voltar atrás e reconsiderar para sermos realmente fiéis àquilo que testemunhamos (2016, p. 203).

    Cada um dos tópicos deste livro – Viver a tradição e encontrar a alteridade cultura; Investigação Fenomenológica da Cultura; Como caminhamos; A direção de nossos passos: reconstrução da vivência; Expandindo horizontes; Contemplando o caminho percorrido: conclusões – é apresentado em uma multiplicidade de óticas, pois Roberta sempre está se interrogando a respeito dos acontecimentos, das experiências, do caminho percorrido e a percorrer, do significado do que está fazendo, do ontem, do hoje e do amanhã, numa postura que enriquece sua trajetória e certamente terá interlocutores durante toda a sua travessia. Creio que esse aspecto decorre da ênfase na interculturalidade: ela se coloca também em um in-between, no mesmo momento de transição em que estão as crianças atravessando o espaço entre seu local de nascimento e maternante para outro local colocado historicamente como potencial inimigo: a cidade grande.

    Não há como minimizar a importância de um estudo em que o autor se presentifica como um nós e não se furta a se questionar, não apenas intelectualmente, como também, ou principalmente, vivencial e afetivamente. O perguntar: o que eu espero? – como resposta das crianças, leva-a a se questionar quanto ao modo de ser de sua própria cultura.

    Neste caminhar, ela conversa e escuta as vozes das crianças, concluindo que tanto para ela como para as crianças, o encontro problematiza o que era normal, convidando a ampliar horizontes. Assim, perguntas encerram cada item, evidenciando o permanente diálogo entre autora e crianças-autores. Diz ela: sigo perguntando... E são as perguntas que carregam o estudo e o próprio processo da investigação.

    Um óbvio nada óbvio emerge: enquanto o modo de ser de Morro vermelho é conhecer todas as pessoas e a familiaridade como totalidade caracteriza a vida comunitária, no encontro com a cultura urbana não conhecem todo mundo. E lança a pergunta: Como não se abrir à alteridade se a experiência se constitui como tensão a um horizonte de totalidade, a um horizonte em que todos possam ser familiares? Seria esse o modo próprio das pessoas formadas na comunidade tradicional vivenciarem o encontro intercultural? (p. 93). Prossegue confrontando esta descoberta com o que é conhecido quanto a como esta comunidade vive a tradição: vive pela abertura às gerações seguintes, abrindo o presente a horizontes de futuro e de passado alargados, ou seja, a uma totalidade no tempo.

    Conclui esta parte, apontando que o que é próprio da comunidade tradicional se faz recurso na sociedade moderna, mobilizando uma atitude aberta e positiva. Em suas palavras:

    A questão da familiaridade e a tensão à totalidade não são assuntos dos quais as crianças se ocupam, mas são vivências que estruturam seu modo de elaborar o impacto ante a alteridade cultural, de responderem ao novo abrindo-se, especialmente, à constituição de novos relacionamentos. Abertura [...] que emerge como estruturante; que brota como resposta à exigência de familiaridade total; que nos revela algo de Morro Vermelho que está no interior e além das palavras: modo de sentir e responder ao mundo, vivência fundamental (2016, p. 100-101).

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