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A meta da humanização: Do atendimento à gestão na saúde
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A meta da humanização: Do atendimento à gestão na saúde
E-book310 páginas5 horas

A meta da humanização: Do atendimento à gestão na saúde

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Sobre este e-book

A Meta da Humanização: do atendimento à gestão na Sáude

A Humanização é uma aposta ética? O que parece uma ironia, é alvo de embates entre os pacientes e profissionais. Humanizar é reconhecer o ser humano na ação, o que implica cuidado no sentido integral, de maneira natural e consciente. Já humanizar a saúde compreende o respeito à unicidade de cada indivíduo, personalizando a assistência.

O diferencial deste livro é chamar a atenção para a necessidade de uma mudança de protocolo: O estabelecimento de uma meta para cada etapa do atendimento, de maneira que o tratamento seja estruturado para se tornar, ao mesmo tempo, eficaz e humanizado.
Na prática de um atendimento humanizado requer, primeiramente, que o profissional desenvolva sua própria humanidade, que inclui solidariedade, fraternidade e doação.

No livro, o autor aborda temas como liderança, gestão de pessoas, ética e responsabilidade social, sempre com o objetivo de mostrar como esses aspectos podem contribuir para uma cultura empresarial mais humana e engajada.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento19 de jun. de 2018
ISBN9788584001088
A meta da humanização: Do atendimento à gestão na saúde

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    Pré-visualização do livro

    A meta da humanização - Marcelo Fouad Rabahi

    Capítulo 1

    Humanização em saúde

    Humanizar a saúde é promover a aproximação do atendimento, oferecido por todos os agentes envolvidos no processo, à expectativa do paciente.

    Quero começar este livro citando um caso recente. Um médico residente que eu supervisionava estava cuidando de uma paciente que precisava ir para casa, mas dependia de um equipamento chamado CPAP⁴. Para quem não conhece, é um aparelho que envia, acoplado a uma máscara, um fluxo de ar contínuo para as vias respiratórias, possibilitando alívio respiratório. Era uma paciente jovem, portadora de uma síndrome que a obrigava a ficar dependente desse aparelho e estava no hospital por causa disso.

    No meio de uma sessão clínica, para discutir a gênese da doença, eu disse ao residente: Já sabemos tudo da doença. O que precisamos é providenciar que o poder público compre o equipamento para que essa paciente volte para casa e prossiga seu tratamento no ambiente que lhe faz bem. Respondeu-me o residente: Mas já fiz a solicitação. Minha ponderação: Meu caro, você precisa ser um líder nesse processo! Não basta ter feito a solicitação. Tem que acompanhar, ligar para as pessoas que administram a compra, explicar a situação, cobrar urgência. Precisa deixar claro para todas as pessoas que esse aparelho é tão importante quanto o tratamento daquela paciente. Telefone para o setor responsável pela compra e vá, também, falar com a assistente social e dê-lhe a certeza de que ela faz parte do tratamento dessa paciente.

    Isso ocorreu em uma quinta-feira. Na segunda seguinte, o residente veio, todo feliz, me mostrar o documento de empenho de verba que evidenciava que a Prefeitura tinha consolidado o processo de compra do aparelho. É uma prova de que o poder público funciona, desde que adequadamente envolvido no processo.

    Concluí a questão dizendo ao residente: Isso também faz parte do seu atendimento. Você fez muito mais por essa paciente do que aquilo que a gente é capaz de fazer dentro do hospital. A paciente está feliz porque vai para casa para continuar o tratamento no ambiente dela, o que deve favorecer a recuperação.

    Mas esse caso não parou por aí. Entre o empenho e a compra efetiva do aparelho, passa o tempo – necessário ou não – da burocracia. Em minha clínica, eu tinha um aparelho desses, como sobressalente. Emprestei-o à paciente até que o aparelho adquirido pelo setor competente chegasse. Não doei o aparelho, apenas emprestei, para ensinar ao residente que precisamos fazer a coisa certa, ou seja, acompanhar os processos e incentivar a resolução por parte de quem tem a responsabilidade. Senão, acabaríamos fazendo o que nós, médicos, sempre fazemos, ou seja, apagar incêndios. Nesse exemplo, eu daria meu aparelho para essa paciente, depois correria atrás da empresa fabricante para doar outro aparelho para outro paciente, enquanto o poder público não se movimentaria, porque nem saberia que existe a urgência ou qual era o tamanho dessa urgência.

    O que desejo mostrar, com esse exemplo, é que nosso país tem recursos, mas, muitas vezes, não sabemos administrá-los, e essa falha é que dá a impressão de que não há dinheiro. Se o líder de uma equipe, qualquer que seja ela, não disser com todas as letras onde os recursos devem ser aplicados, a pessoa que toma decisões de investimento seguirá sua própria cabeça. Toda equipe precisa de líder.

    Com esse exemplo, quis mostrar a essência do que abordaremos neste livro: humanizar o atendimento significa envolver toda a equipe, familiares e grupo social, conversar francamente, ouvindo com atenção, para entender as expectativas, e empoderar as pessoas para que cumpram seus papéis, cuidando do paciente e não apenas da doença, oferecendo alternativas para que todos participem do processo de cura, que, seguramente, não envolve só o médico e o paciente, mas uma constelação de colaboradores, cada qual com sua função.

    A importância do contato

    Quero contar uma experiência recente. Estive na colação de grau de minha sobrinha e tive a oportunidade de ouvir o discurso do paraninfo, que foi absolutamente emocionante. Falou muito de humanização na saúde, tocando em vários assuntos que trataremos neste livro, mas acho uma pena que os jovens médicos possivelmente não conseguiram entender a dimensão do discurso. O paraninfo se emocionou durante a fala e levou-me a pensar em meus alunos, acadêmicos de Medicina e residentes que supervisiono no CTI do Hospital Alberto Rassi e no ambulatório do Hospital das Clínicas da UFG. Chama-me a atenção como, às vezes, distanciam-se daquilo que eles mesmos acreditam até a metade do curso. Esquecem, frequentemente, do princípio da generosidade e dos deveres que permeiam a vocação pela Medicina e se perdem nos próprios direitos. Reclamam que trabalham demais, que precisam ganhar mais dinheiro... Em um piscar de olhos, parece que tudo muda. Talvez, em um futuro próximo, nem o excelente conteúdo do discurso que ouviram na formatura será lembrado.

    O capítulo introdutório de um livro de clínica médica, Cecil⁵, que li pela primeira vez em 1986, no terceiro ano da faculdade de Medicina, conta a história de um desses médicos antigos, que seria homenageado na cidade dele e empossado como presidente da sociedade médica local. Ele compareceu, mas logo recebeu um bilhete e deixou o auditório. Quando voltou, três horas depois, estava com aspecto cansado e exaurido e, então, foi indagado sobre o motivo de ter se ausentado daquilo que seria seu triunfo profissional. O médico explicou que o motivo da condecoração era justamente a maneira que escolheu exercer a Medicina. Momentos antes da cerimônia, um de seus pacientes faleceu e ele considerou que, mais importante que receber a condecoração, era estar presente ao lado da família.

    Os autores do livro descrevem: Se estivesse procurando um modelo de médico a ser intimamente imitado pelos atuais estudantes de Medicina, eu traria esse médico do interior do Mississippi. Eis o resumo do que quero dizer, de representativo, em relação a esse profissional: o médico exerceu sua prática, envelheceu, foi indicado para receber uma homenagem e nem por causa dela se distanciou da razão pela qual seria homenageado.

    Não vai longe o tempo em que existia, entre as pessoas das cidades pequenas e mesmo dos bairros de cidades grandes, o conceito do médico que conhecia bem seu paciente e o universo deste, porque atuava sempre na mesma região. Esse contato frequente e próximo fazia com que o médico tivesse um acompanhamento melhor do indivíduo, não simplesmente no momento da doença – apesar de ser nessa circunstância que as pessoas procuram o médico. Esse profissional, conhecido como médico de família, já conhecia os pais, os irmãos e os tios, já trazendo consigo a vivência e a abrangência do universo daquele indivíduo. No momento em que atendia aquela pessoa por um motivo de saúde, antes de entender da doença, já conhecia o doente. Ao lado disso, também por não poder contar, especialmente em cidades pequenas, com recursos de encaminhamento ou mesmo sem outros profissionais da área com quem trocar opiniões e experiências, era imbuído do papel de líder na circunstância, e foi desenvolvendo, ao longo do tempo, habilidades que o capacitaram a resolver a grande maioria dos problemas. Isso não é muito diferente de hoje, quando os estudos mostram que cerca de 80% dos problemas poderiam ser resolvidos por médicos generalistas – que talvez comparássemos, em essência, mas guardando as devidas proporções, ao então chamado médico de família, aquele que atendia em uma unidade básica porque não contava com grandes recursos de exames diagnósticos, restritos talvez a alguns exames de sangue, uma radiografia e quase nada mais. Isso fazia com que ele aumentasse suas habilidades de raciocínio e sua capacidade de identificar problemas em exames físicos, simplesmente pela palpação, fazendo uso, evidentemente, dos dados que possuía do histórico familiar. A facilidade dos exames, como o ultrassom, a tomografia e a ressonância magnética, pode ter promovido uma acomodação dos médicos e, por isso, está desaparecendo o raciocínio diagnóstico?

    Por outro lado, não podemos negar que, hoje, as pessoas vivem muito mais e com mais qualidade de vida, como reflexo do desenvolvimento de uma variedade de tecnologias. Por exemplo: antes do advento da geladeira, as carnes estocadas para alimentação ficavam ao relento, penduradas, e, para serem conservadas, precisavam de grandes quantidades de sal, o que, certamente, concorria para a ocorrência de câncer de estômago. O diretor-geral do Instituto Nacional de Câncer (Inca), Luiz Antonio Santini Silva, relatou ao jornal Folha de S. Paulo, nos primeiros dias de 2018, quando da divulgação de informações sobre a doença no Brasil, que um dos principais fatores a influenciar essa queda foi o aumento no acesso à energia elétrica, especialmente no Norte e no Nordeste. Com a possibilidade de conservar alimentos na geladeira, explicou, a população diminuiu o consumo de sal em excesso, usado na conservação da carne – uma prática que pode levar ao câncer. Apoiado em estudos, o diretor afirmou que a redução no número de casos ocorreu no mesmo período em que aumentou o acesso à energia. Outra explicação foi o melhor combate à bactéria Helicobacter pylori, isolada pela primeira vez em 1982. A descoberta de que ela poderia causar câncer no estômago facilitou o tratamento com antibióticos.

    Portanto, podemos concluir que a história do câncer de estômago é inversamente proporcional ao número de geladeiras nas residências. Por esse exemplo singelo, podemos ver que as pessoas passaram a viver mais e com mais qualidade graças à tecnologia e ao aumento do conhecimento. É inegável que, hoje, nós, da área da Saúde, entendemos muito mais das doenças, mas não é tão inegável que a gente entenda mais dos doentes. Vivendo mais tempo, as pessoas podem desenvolver mais doenças e, muitas vezes, a qualidade de vida é comprometida. Nosso desafio é entender como a humanização poderia contextualizar esse processo de evolução

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