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Cartografias Contemporâneas: Novos Estudos (Historiográficos) para um Mapeamento da Formação e Atuação do Professor que Ensina/Ensinava Matemática no Brasil
Cartografias Contemporâneas: Novos Estudos (Historiográficos) para um Mapeamento da Formação e Atuação do Professor que Ensina/Ensinava Matemática no Brasil
Cartografias Contemporâneas: Novos Estudos (Historiográficos) para um Mapeamento da Formação e Atuação do Professor que Ensina/Ensinava Matemática no Brasil
E-book426 páginas5 horas

Cartografias Contemporâneas: Novos Estudos (Historiográficos) para um Mapeamento da Formação e Atuação do Professor que Ensina/Ensinava Matemática no Brasil

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Sobre este e-book

Quando um Grupo de Pesquisa como o Ghoem (Grupo de Pesquisa História Oral e Educação Matemática) dispõe-se a produzir um material como este livro, ele, ao mesmo tempo, tem a intenção de falar "para fora" e para si próprio: fala "para fora", pois reúne algumas de suas pesquisas mais recentes e as divulga de modo a permitir que uma comunidade mais ampla avalie os resultados a que se tem chegado e os modos como esses resultados são obtidos, visando a promover debates; e fala "para dentro", pois um coletivo que produz pesquisa a partir de certos princípios comuns a todos os que dele participam se alimenta recebendo, sempre, novos participantes que devem não só se familiarizar com os modos de produção do grupo que os recebe, como também animar o trabalho daqueles outros, já integrantes, com os quais os ingressantes passarão a produzir. Uma reunião das produções deste coletivo é, portanto, como uma carta de boas-vindas a esses ingressantes e é, para todos, um modo de conhecer e analisar os discursos que aqui circulam. Em seus 11 capítulos, este livro traz síntese de pesquisas relacionadas ao projeto "Mapeamento (histórico) da formação e atuação dos professores que ensinam/ensinaram Matemática no Brasil", no qual a metodologia usualmente mobilizada é a História Oral. Com esta obra, pretende-se contribuir para os estudos sobre a formação de professores de Matemática e para as pesquisas inscritas no campo da História da Educação Matemática.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento13 de mai. de 2021
ISBN9786525000084
Cartografias Contemporâneas: Novos Estudos (Historiográficos) para um Mapeamento da Formação e Atuação do Professor que Ensina/Ensinava Matemática no Brasil

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    Cartografias Contemporâneas - Ivete Maria Baraldi

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    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE

    Sumário

    INTRODUÇÃO 9

    Professores de Matemática na Educação de Jovens e Adultos no município de Betim (MG) e no Colégio Técnico da UFMG 17

    Ana Rafaela Correia Ferreira, Kelly Maria de Campos Fornero Abreu de Lima Melillo

    Maria Laura Magalhães Gomes

    Introdução 17

    Constituição das fontes históricas 18

    Dois cenários: a EJA na Rede Municipal de Educação (RME) de Betim e o Colégio Técnico da UFMG 20

    EJA – Betim e Coltec: formação e atuação de professores em dois ambientes muito específicos 23

    Correspondências e dissonâncias entre os dois contextos 28

    Considerações Finais 29

    Referências 29

    Guarapuava-Paraná: uma faculdade, sua história e seus cursos de especialização 31

    Leoni Malinoski Fillos, Antonio Vicente Marafioti Garnica

    Introdução 31

    Contexto histórico da criação da Fafig 32

    Os primeiros anos da Fafig 36

    A especialização no contexto da pós-graduação 39

    Os cursos de especialização da Fafig 43

    A criação da Unicentro 49

    Considerações finais 51

    Referências 51

    Referências 52

    Um ensaio sobre História Oral e documentos

    curriculares 55

    Carlos Roberto Vianna, Elenilton Vieira Godoy, Emerson Rolkouski

    Introdução 55

    Célia Maria Carolino Pires e os PCN 56

    Cristiano Alberto Muniz e o Gestar II 65

    Três pontos de vista sobre as entrevistas e práticas com a história oral 73

    Referências 77

    Os Centros Específicos de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério (CEFAM): sobre o ensino de matemática e a política paulista de formação pedagógica 79

    Marinéia dos Santos Silva, Heloisa da Silva, Vinícius Sanches Tizzo

    Introdução 79

    Sobre a implantação e características do CEFAM 81

    Sobre o ensino de Matemática 89

    Movimentos de descaracterização do CEFAM e sua extinção no estado de São Paulo: algumas considerações 95

    Referências 98

    As Licenciaturas em Ciências (regular e parcelada) para formar professores de Matemática no Mato Grosso do Sul 101

    Carla Regina Mariano da Silva, Kátia Guerchi Gonzales

    Introdução 101

    O Sul do Mato Grosso na década de 1970: divisões e migrações 103

    Cursos para formar professores de Matemática 108

    Cursos de Ciências (Regular) 115

    Cursos Parcelados de Ciências 118

    Considerações 121

    Referências 123

    UFPR Litoral: uma escola diferente 127

    Silvana Matucheski, Antonio Vicente Marafioti Garnica

    Situando a pesquisa 127

    O Setor Litoral da Universidade Federal do Paraná 130

    O desenvolvimento da pesquisa de doutorado 137

    Outras considerações 140

    Agradecimentos 142

    Referências 142

    Quando o aeroporto chega antes que as escolas secundárias: uma história da formação dos professores de Matemática na região de Barreiras-BA 145

    Fábio Bordignon, Maria Ednéia Martins

    Introdução 145

    Barreiras e suas primeiras instituições de ensino 146

    Considerações finais 155

    Referências 157

    Movimentos de formação de professor: aspectos de duas regiões brasileiras 159

    Bruna Camila Both Miranda, Jean Sebastian Toillier, Ivete Maria Baraldi

    Introdução 159

    Itaipulândia – Paraná 161

    Cuiabá – Mato Grosso 171

    Algumas considerações 177

    Referências 179

    A expansão de cursos regulares de Matemática/Ciências no Mato Grosso do Sul 181

    Thiago Pedro Pinto

    Um novo estado e professores migrantes 181

    Antes e depois da divisão do estado 183

    Referências 200

    Memórias e histórias de Cursos de Formação de Professores de Matemática em Minas Gerais: Montes Claros (1960-1990) e São João del-Rei (1987-2001) 203

    Shirley Patrícia Nogueira de Castro e Almeida, Paulo Henrique Apipe Avelar de Paiva

    Maria Laura Magalhães Gomes

    Palavras iniciais 203

    Do cursinho de Filosofia até o curso de Matemática: sonhos e lutas pela Educação Superior em Montes Claros – MG 206

    Memórias: mudanças e permanências na estrutura curricular e no fazer pedagógico do Curso de Licenciatura em Matemática da FUNM 209

    O curso de Ciências da Fundação de Ensino Superior de São João del-Rei 214

    A formação matemática dos alunos do curso de Ciências da FUNREI 219

    Algumas palavras finais 221

    Referências 224

    Traços de um Traduzir-se: "Ao longo de minha juventude fiquei de um lado para outro..." 227

    Claudiomiro Ferreira de Oliveira, Déa Nunes Fernandes

    Para habitar num desabitado 230

    Para conhecer/reconhecer os protagonistas da história 231

    Tramas da formação e atuação de professores (de Matemática) 235

    Considerações finais 240

    Referências 240

    Cades: táticas para a criação de um novo modelo de

    professor Secundário 243

    Bruna Camila Both Miranda, Ivete Maria Baraldi, Antonio Vicente Marafioti Garnica

    Introdução 243

    Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário (Cades) 246

    A Cades e um novo modelo de professor e de escola secundária 255

    Referências 262

    Sobre os autores 265

    Índice remissivo 269

    INTRODUÇÃO

    Quando um Grupo de Pesquisa como o nosso se dispõe a produzir um material como este livro, ele, ao mesmo tempo, tem a intenção de falar para fora e para si próprio: fala para fora, pois reúne algumas de suas pesquisas e as divulga de modo a permitir que uma comunidade mais ampla avalie os resultados a que se tem chegado e os modos como esses resultados são obtidos, visando a promover debates; e fala para dentro, pois um coletivo que produz pesquisa a partir de certos princípios comuns a todos os que dele participam se alimenta recebendo, sempre, novos participantes que devem não só se familiarizar com os modos de produção do grupo que os recebe, mas também animar o trabalho daqueles outros, já integrantes, com os quais passará a produzir. Uma reunião das produções desse coletivo é, pois, como uma carta de boas-vindas aos ingressantes e é, para todos os possíveis leitores, um modo de avaliar a sincronia e as lacunas dos discursos que circulam nesse coletivo. É nesse sentido – com a intenção de falar tanto para fora quanto para dentro – que o Grupo de Pesquisa História Oral e Educação Matemática (GHOEM) divulga este livro que, como parte de um compromisso estabelecido entre seus pesquisadores, opera como que uma atualização da obra Cartografias Contemporâneas: mapeando a formação de professores de Matemática no Brasil¹, lançado em 2013.

    Outra obra, a ser lançada sincronicamente com essa, tratará dos trabalhos inscritos no projeto relacionado à análise de livros antigos e outras fontes escritas relacionados ao ensino de Matemática. No caso desse outro volume, mais particularmente, o tema central é a interpretação de formas simbólicas – a hermenêutica –, objeto de outro projeto – o segundo dos dois projetos de maior envergadura desenvolvidos pelo GHOEM². Mais usualmente, neste projeto, temos trabalhado com o exame de textos escritos, mas nossos referenciais nos permitem compreender que a noção de forma simbólica vai para além disso e, desse modo, o grupo se abre, homeopaticamente, para interpretação de outras manifestações além das escritas.

    O leitor que já conhece o GHOEM não estranhará que um grupo que tem a História Oral como tema se dedique sistematicamente a um projeto que visa ao estudo de textos escritos, mas talvez seja importante esclarecer, para o leitor não familiarizado com nossas produções, que o GHOEM foi criado reunindo pessoas que tinham, em comum, o interesse de estudar as potencialidades da História Oral para o campo da pesquisa em Educação Matemática. Nos anos que se seguiram, porém, entendemos que os exercícios que praticávamos nos abriam a perspectiva de estudar a cultura matemática escolar, que se tornou nosso tema central. O estudo da cultura matemática escolar é, por vezes, no grupo, conduzido a partir dos pressupostos da História Oral, mas é certo que compreender os modos como a Matemática ocorre nos espaços em que se ensina e se aprende (daí usarmos o adjetivo escolar num sentido alargado, não apenas se referindo às instituições escolares formais), exige que outros protocolos de pesquisa, outras fontes e várias abordagens teóricas se vinculem às nossas práticas de pesquisa e de ação docente. Os livros didáticos, por exemplo, são elementos essenciais para compreender o universo da cultura matemática escolar, e embora a História Oral possa nos ajudar a compreendê-los e analisá-los, apenas ela é insuficiente para uma análise mais detalhada desses materiais. Foi exatamente a necessidade de estudar livros didáticos que nos levou à Hermenêutica de Profundidade, um referencial teórico-metodológico enraizado na Sociologia, fundamentado na filosofia de Ricoeur e proposto, em suas linhas gerais, por John Thompson. O livro que agora apresentamos, entretanto, não trata de materiais didáticos. Ele traz, em cada um de seus capítulos, pesquisas relacionadas ao projeto Mapeamento (histórico) da formação e atuação dos professores que ensinam/ensinaram Matemática, a outra proposta de pesquisa de grande envergadura do GHOEM e, neste projeto, a metodologia usualmente mobilizada é a História Oral.

    A História Oral, segundo nossa perspectiva, é uma trama metodológica disparada pela oralidade, em situações de entrevistas, mas não restrita à oralidade (o que implica o diálogo com fontes das mais diversas naturezas). Os temas e abordagens exercitados no GHOEM refletem certa flexibilização de enfoques e fazeres: nosso grupo trabalha com História da Educação Matemática, mas não só com História da Educação Matemática (embora os textos deste livro possam ser, todos, inscritos no domínio da História da Educação Matemática); a História Oral é mobilizada para trabalhos de natureza historiográfica, mas não só para trabalhos dessa natureza; a Hermenêutica de Profundidade que mobilizamos dialoga, no caso das análises de textos escritos, com outras estratégias e inspirações metodológicas (como, por exemplo, aquelas que decorrem da noção de Paratextos Editoriais de Genette), mas texto, embora possa ser entendido como texto escrito, não é apenas texto escrito (a Hermenêutica de Profundidade pode, por exemplo, ser aplicada à arquitetura, a obras de arte, a narrativas orais, fílmicas etc.).

    As produções de que cada um dos capítulos a seguir trata têm como tema central a formação e a atuação de professores que ensinam/ensinaram Matemática no Brasil, e estão calcadas em trabalhos de pesquisa já apresentados e defendidos no GHOEM ou em grupos parceiros. O projeto que chamamos Mapeamento pretende investigar (mapear), como que criando uma cartografia simbólica, modos e contextos de formação de professores que ensinam/ensinaram Matemática nas mais distintas regiões do Brasil. Do mesmo modo que, segundo nossa concepção, tempo e espaço não se apartam (do que defendemos uma concepção de história que vincula temporalidade e espacialidade), também o conceito de região é mobilizado numa concepção ampla: uma região é um traçado entrecortado pela historicidade, e que se constitui mais segundo a sensibilidade dos que ocupam determinados terrenos e os significados que esses ocupantes atribuem às situações que vivem do que segundo as disposições das Geografias. Ainda assim, a noção clássica de Geografia nos ajuda a compreender os contextos que temos abordado em nossas pesquisas: os doze capítulos deste livro, por exemplo, discutem cenários que incluem os estados de São Paulo, Bahia, Paraná, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, enquanto outros estudos já abordaram outros estados como o Rio Grande do Norte, Goiás, Tocantins, Paraíba e Santa Catarina, por exemplo. Essa configuração ampla nos permite perceber de que modo a formação de professores que ensinam/ensinaram Matemática no Brasil está marcada pelos signos da carência, da urgência e da transitoriedade, mas esse conjunto de estudos, publicado neste livro, em especial, põe em evidência uma outra marca essencial para compreender as coreografias dessa formação: a migração. Assim, nos parece necessário atentar para os movimentos migratórios fomentados por e fomentadores desses cenários e trilhas nos quais os sujeitos buscam – por opção ou necessidade – tornar-se professores.

    Assim, tratando desses temas, segundo essas perspectivas, os capítulos deste livro podem ser sintetizados como segue.

    Ana Rafaela Correia Ferreira, Kelly Maria de Campos Fornero Abreu de Lima Melillo e Maria Laura Magalhães Gomes, no primeiro capítulo, entendendo que os estudos de natureza historiográfica sobre a formação e atuação de professores de Matemática no Brasil pouco têm contemplado os contextos da educação de pessoas jovens e adultas (EJA) e do ensino técnico, ressaltam, a partir de depoimentos de educadores que atuaram na Rede Pública Municipal de Educação de Betim e dos cursos técnicos de nível médio do Colégio Técnico vinculado à Universidade Federal de Minas Gerais, especificidades dessas duas modalidades de ensino, concluindo que, de modo geral, em ambos os cenários, seja na educação de pessoas jovens e adultas, seja no ensino técnico, as práticas docentes não atendem/atendiam às especificidades de suas modalidades de ensino e o perfil de seus estudantes, estando, ao contrário, centradas no conteúdo usualmente trabalhado na disciplina escolar Matemática, em grande parte sem se diferenciar do que ocorre nas demais escolas.

    Em Memórias e Histórias de Cursos de Formação de Professores de Matemática em Minas Gerais: Montes Claros (1960-1990) e São João del-Rei (1987-2001), mais uma vez regiões das Geraes são tematizadas no projeto do Mapeamento. Shirley Patrícia Nogueira de Castro e Almeida, Paulo Henrique Apipe Avelar de Paiva e Maria Laura Magalhães Gomes discutem os resultados de duas investigações sobre as memórias e histórias de dois cursos de formação de professores de Matemática em Minas, especificamente em Montes Claros, no período de 1960 a 1990, e em São João del-Rei, de 1987 a 2001. As investigações empreendidas revelaram que, como em outras instituições brasileiras, a implantação dos cursos, nessas regiões, foi feita em caráter de urgência, num cenário de carência de professores do ensino secundário e superior.

    Em Guarapuava-Paraná: uma faculdade, sua história e seus cursos de especialização, Leoni Fillos, cujo doutorado analisa a dinâmica de idealização e desenvolvimento dos primeiros cursos de Especialização em Modelagem Matemática, realizados em Guarapuava/PR, nos idos de 1980, e os determinantes políticos e sociais para a sua efetivação no contexto da formação continuada daquela década, estuda, neste capítulo, especificamente, o processo de criação e desenvolvimento da Fundação Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Guarapuava, os embates políticos, desafios e contradições até a sua transformação em Universidade, à luz dos depoimentos dos professores, de documentos e de outros estudos que se aproximam desse contexto histórico.

    Como uma contribuição não só à História da Educação Matemática no país, mas também aos estudos sobre a mobilização da História Oral em pesquisas desse campo, Carlos Roberto Vianna, Elenilton Vieira Godoy e Emerson Rolkouski articulam duas entrevistas realizadas em momentos diferentes e com propósitos distintos, sublinhando nelas aspectos relacionados a documentos curriculares. Trata-se de uma entrevista com a professora Célia Maria Carolino Pires, realizada para a dissertação de Karen Gonçalves Britis, e da entrevista com o professor Cristiano Alberto Muniz, realizada para a dissertação de Jeser Caleb Candray Menjívar. Os autores pontuam a possibilidade de releituras a entrevistas disponíveis, abrindo frentes de pesquisa com as problematizações que podem surgir dessas (re)leituras.

    No capítulo intitulado Os Centros Específicos de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério (CEFAM): sobre o ensino de Matemática e a política paulista de formação pedagógica, Marinéia dos Santos Silva, Heloisa da Silva e Vinícius Sanches Tizzo nos trazem uma narrativa sobre a formação (em nível de 2º grau) de professores das séries iniciais na região de São José do Rio Preto/SP durante as décadas de 1980 e 1990, no Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério (CEFAM), uma política pública paulista de formação docente hoje extinta.

    Há dois capítulos voltados para a discussão da formação de professores no estado de Mato Grosso do Sul. O primeiro, de Carla Regina Mariano da Silva e Kátia Guerchi Gonzales, estuda a formação de professores de Matemática na região que, hoje, é o estado de Mato Grosso do Sul, em época em que essa região ainda era o Sul do Mato Grosso (Uno). Voltam-se, especialmente, para as Licenciaturas em Ciências (regular e parcelada). Thiago Pedro Pinto, por sua vez, aborda alguns cursos de caráter regular ofertados por Instituições de Ensino Superior (IES) do estado de Mato Grosso do Sul que visavam a formar professores que atuariam na disciplina de Matemática do ensino fundamental e/ou médio (Primeiro e Segundo graus respectivamente). Destacando as Licenciaturas (curtas) em Ciências com Habilitação em Matemática, Licenciaturas (Plenas) em Matemática e os cursos de Matemática com ênfase em Computação, analisando os embates institucionais dos quais resultaram a criação dessas instâncias de formação docente. Os conceitos de centro e periferia, como ocorre em muitos trabalhos do GHOEM, servem de guia para a análise aqui apresentada.

    Silvana Matucheski e Antonio Vicente Marafioti Garnica, no sexto capítulo, apresentam e problematizam os contextos de criação e funcionamento do Câmpus Litoral da Universidade Federal do Paraná, conhecido como UFPR Litoral, criado em 2004 e institucionalizado em 2007. Esse câmpus tem sede no município de Matinhos, mas também desenvolve ações e atividades em outras cidades do litoral paranaense – que era considerado uma região geográfica desacreditada historicamente e com grande debilidade econômica. Trata-se de um modo de formação bastante diferenciado no que diz respeito à grade curricular e ao modo como essa grade é desenvolvida.

    Quando o Aeroporto chega antes que as escolas secundárias: uma história da formação dos professores de matemática na região de Barreiras-BA é título do capítulo – de autoria de Fábio Bordignon e Maria Ednéia Martins – no qual os autores nos contam uma história sobre a formação de professores de Matemática da região de Barreiras, na Bahia, a partir do depoimento de sete professoras que atuam na região desde 1959, época em que as primeiras escolas de ensino secundário estavam sendo instaladas e bem antes da institucionalização dos primeiros cursos de Licenciatura em Matemática que, na região, só começaram a funcionar a partir do ano de 2006.

    Bruna Camila Both Miranda, Jean Sebastian Toillier e Ivete Maria Baraldi são os autores do capítulo Movimentos de formação de professor: aspectos de duas regiões brasileiras, que se organiza a partir de dois trabalhos de mestrado que estudaram, respectivamente, a região de Itaipulândia, no estado do Paraná (TOILLIER, 2013) e o Mato Grosso, mais particularmente a região em que se situa a capital, Cuiabá (BOTH, 2014). As duas pesquisas têm como metodologia a História Oral – Toillier entrevistou oito professores que atuaram na educação básica e Both entrevistou nove docentes que, de algum modo, estiveram relacionados à formação de professores de Matemática em Cuiabá, nas décadas de 1960 a 1980. A migração aparece como central aos cenários das duas pesquisas, sendo esse o tema que os autores tomaram como guia para a elaboração deste capítulo.

    Tendo como leitmotiv a acepção de traduzir-se, buscada no poema do maranhense Ferreira Gullar, Claudiomiro Ferreira de Oliveira e Déa Nunes Fernandes discutem elementos relativos ao cenário em que se formam e atuam professores que ensinam/ensinaram matemática em dois municípios do interior do estado do Maranhão: São José dos Basílios e Arari. Trata-se de ter como linhas norteadoras os trabalhos de dois jovens pesquisadores maranhenses, Jasmines Fernandes Chaves e do próprio Claudiomiro Ferreira de Oliveira, que dialogam com os estudos de Fernandes, a segunda autora e orientadora dos dois trabalhos aqui considerados.

    Bruna Both Miranda, Ivete Baraldi e Vicente Garnica, no capítulo que encerra essa coletânea, defendem a Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário (Cades) como criadora de um novo modelo de professor Secundário nas décadas de 1950 e 1960, apresentando e discutindo algumas ações dessa Campanha (em especial os Cursos de Orientação para os Exames de Suficiência, o Concurso Dia do Professor, a revista Escola Secundária e os livros por ela publicados) a partir do conceito de tática, isto é, o capítulo tem como foco o estudo de algumas das táticas, utilizadas pela Cades, julgadas essencial para que o ideário relativo à necessidade um novo professor para uma nova escola secundária fosse promovido.

    É importante, por fim, ressaltar que essa coletânea de textos deixa à mostra duas outras características muito caras ao GHOEM: muitos dos autores de cada capítulo – em especial aqueles que tratam do estado do Mato Grosso do Sul – são, eles próprios, migrantes que saem do estado de São Paulo para apoiar, no novo estado que passam a ocupar, o desenvolvimento de pesquisas em Educação Matemática em centros de graduação e pós-graduação, ou formam-se no estado de São Paulo – como é o caso dos pesquisadores paranaenses e maranhenses –, e retornam aos seus lugares de origem para atuar com a mesma intenção de promover a pesquisa e o ensino de Matemática. Percebe-se, assim, claramente, que a política do GHOEM de formar pesquisadores e motivar a criação de novos grupos de pesquisa tem sido desenvolvida como havia sido pensada em 2002, quando o Grupo se constituiu.

    Os organizadores

    Professores de Matemática na Educação de Jovens e Adultos no município de Betim (MG) e no Colégio Técnico da UFMG

    Ana Rafaela Correia Ferreira

    Kelly Maria de Campos Fornero Abreu de Lima Melillo

    Maria Laura Magalhães Gomes

    Introdução

    Neste texto, apresentamos parte dos resultados de investigações sobre a formação e atuação de professores de Matemática em dois cenários usualmente não contemplados em pesquisas no campo da História da Educação Matemática: a Educação de Pessoas Jovens e Adultas (EJA) e o ensino técnico. Consideramos os cursos voltados para estudantes jovens, adultos e idosos nos anos finais do ensino fundamental, oferecidos pela Rede Pública Municipal de Educação (RME) de Betim, e cursos técnicos de nível médio, praticados no Colégio Técnico vinculado à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), chamado Coltec.

    Com base nos depoimentos de educadores que atuaram nesses contextos, buscamos discutir, entre outros assuntos, aspectos da sua atuação na sala de aula de Matemática, bem como de sua formação para o ensino dessa disciplina especificamente nesses cursos. Tendo a História Oral como princípio teórico e metodológico, esses relatos constituem, essencialmente, nossas fontes históricas.

    As considerações aqui realizadas são baseadas nas teses³ A Educação de Pessoas Jovens e Adultas em Betim (MG), 1988-2007: perspectivas de educadores e professores de matemática (FERREIRA, 2016) e História de práticas de ensinar-aprender Matemática no Colégio Técnico da UFMG – Coltec (1969-1997) (MELILLO, 2018), defendidas em 2016 e 2018 respectivamente. Essas pesquisas tinham como objetivo elaborar histórias sobre o ensino de Matemática com base, principalmente, nos relatos de professores.

    Ao escolher os contextos da EJA e de cursos técnicos para nossa análise, consideramos a multiplicidade de modalidades que compõem a educação básica e os diferentes cenários nos quais o professor de Matemática pode lecionar. Por isso, acreditamos que analisar historicamente a formação de professores de Matemática que atuam nessas modalidades pode nos ajudar a refletir sobre o ensino de Matemática de forma geral.

    Constituição das fontes históricas

    As fontes são ferramentas essenciais do trabalho historiográfico, por constituírem aquilo que nos possibilita a elaboração de relatos do passado. Em nossas pesquisas, utilizamos fontes documentais (arquivos), impressas (periódicos), orais (entrevistas) e visuais (imagens e fotografias). As fontes orais foram o alicerce de nossa construção sobre a formação e atuação de professores de Matemática na EJA no município de Betim e no Colégio Técnico da UFMG.

    Falamos de constituição de fontes por considerarmos que todas as fontes são produzidas pelos pesquisadores, e não meramente coletadas por eles. O ato de acessar o que é necessário à produção historiográfica, quaisquer que sejam os vestígios do passado de que lancemos mão,

    [...] consiste em produzir tais documentos, pelo simples fato de recopiar, transcrever ou fotografar estes objetos mudando ao mesmo tempo o seu lugar e o seu estatuto. Este gesto consiste em isolar um corpo, como se faz em física, e em desfigurar as coisas para constituí-las como peças que preencham lacunas de um conjunto, proposto a priori. (CERTEAU, 1982, p. 81)

    Para a produção das fontes orais, fizemos uso da História Oral como metodologia, pautada em uma fundamentação específica, que guiou os procedimentos de constituição dessas fontes e justificou a escolha desses métodos (GARNICA, 2010). Ao ouvirmos os nossos depoentes, particularmente os professores, foi possível criarmos situações de sala de aula e compreender sentimentos, impressões, lembranças, esquecimentos, opiniões e individualidades. O trabalho com os registros orais permitiu o contato com elementos que seriam inacessíveis de outro modo, com outras fontes; em especial, contemplou a subjetividade das pessoas entrevistadas.

    Realizamos um total de 33 entrevistas. Na pesquisa sobre a EJA, escutamos 11 professores de Matemática e seis outros educadores: pedagogos, ex-coordenadores e outros professores. Na investigação referente ao Colégio Técnico, os colaboradores foram sete professores de Matemática, oito ex-estudantes do Coltec e o primeiro diretor da escola.

    Depois de realizada a etapa das entrevistas, com gravação em áudio, passamos do registro oral para o escrito. Inicialmente, realizamos a transcrição, ato de converter o conteúdo gravado na fita em um texto escrito, buscando fidelidade à gravação, anotamos erros e ruídos (MEIHY; RIBEIRO, 2011, p. 107).

    As transcrições foram seguidas por textualizações, com a eliminação de algumas marcas muito fortes da oralidade, e a reorganização dos textos para gerar novos textos, com a intenção de favorecer uma leitura fluente. Dessa forma, as fontes orais originaram fontes escritas, que serviram de suporte para nossas análises (GARNICA, 2010). Não perdemos de vista que as histórias que os sujeitos contam-nos, suas narrativas, servem para constituir outras narrativas nas quais a voz do pesquisador está irremediavelmente contaminada pelas vozes daqueles que teve como interlocutores (GARNICA, 2010, p. 34).

    Finalmente, realizamos a validação das textualizações produzidas. Nesse momento, cada entrevistado conferiu o texto e corrigiu possíveis erros e enganos, acrescentando ou suprimindo alguma informação, legitimando o trabalho realizado (MEIHY; RIBEIRO, 2011). É importante destacar que todos os nossos colaboradores autorizaram a publicação integral das textualizações de suas entrevistas.

    Em seguida, no processo de análise, realizamos sucessivas leituras das textualizações, identificando palavras ou ideias recorrentes que poderiam nos permitir compreender perspectivas e relatos de práticas docentes nesses diferentes contextos, de Educação de Jovens e Adultos e de formação para o trabalho (NOSELLA; BUFFA, 2013). Essas análises são portadoras de significados e permitem que, como ouvintes e leitores, nos apropriemos, de algum modo, desses textos, constituindo uma nova trama interpretativa e produzindo, a partir deles, significados que são nossos, embora gerados de forma compartilhada (GARNICA, 2007).

    Vale ressaltar que, ao investigarmos nossas fontes e escrevermos outras narrativas, não pretendemos ter constituído verdades, mesmo quando estivemos diante de diversos documentos ou de um número considerável de entrevistas convergentes em alguns aspectos. Ao contrário, levamos em conta cada uma das versões disponíveis, lembrando que são lacunares e tomadas ora por sincronias, ora por desarmonias (GARNICA, 2007).

    Por fim, destacamos, em conformidade com Garnica (2007), que quem faz as análises é o pesquisador, com o pé no presente, com suas práticas de habitar, de vestir, de trabalhar, de descansar, de viver uma época, de atribuir significado ao que vive. É o pesquisador, munido dos referenciais de que dispõe, quem elabora uma construção dos acontecimentos, não como foram, mas como lhe é possível compreendê-los (GARNICA, 2007, p. 28).

    Assim, é fundamental reconhecermos que os testemunhos de nossos entrevistados são constituídos com base nas perguntas que lhes fizemos e são afetados pelo tempo decorrido entre aquilo que rememoraram e a realização/validação da entrevista, seja pelo esquecimento ou pela alteração de suas ideias sobre como as coisas se deram.

    Dois cenários: a EJA na Rede Municipal

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