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DIFÍCIL ESCOLHA
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E-book420 páginas7 horas

DIFÍCIL ESCOLHA

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Sobre este e-book

Helena uma mulher de 39 anos, casada com João seu primeiro namorado e pai de seu filho adolescente Paulinho, vive uma vida conformada com seu destino de esposa e mulher que tem o marido a trabalhar no estrangeiro, e a cada dia mais ausente como marido e esposo, João era um excelente pai, e eles viviam uma vida mais do que confortável financeiramente graças ao esforço de João, mas isso significava para Helena ter uma vida solitária e sem amor, carinho ou desejo, principalmente por que a cada dia João se tornava mais distante e frio, mas pelo bem da família ela decidiu se anular e tudo ia mais ou menos bem até o dia que conheceu Miguel, um viúvo atraente, apaixonado e persistente, que exercia sobre ela uma atração quase impossível de resistir. Além de tudo Miguel era pai de Laura, a namorada de Paulinho, como ela poderia se entregar a esse amor proibido sem magoar seu filho ou marido? Como poderia ficar sem Miguel? Helena sabia que mais cedo ou mais tarde teria que fazer uma escolha difícil, principalmente por que Miguel queria mais... muito mais e ela não encontrava forças para resistir a esse amor tão sedutor e arrebatador.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento2 de set. de 2022
ISBN9789403650432
DIFÍCIL ESCOLHA
Autor

Rose Lima

Sou uma iniciante nesta arte, apesar dos meus 51 anos, mesmo tendo escrito dois livros quando ainda era uma adolescente, mas sem ter tido a oportunidade de publicar nenhum deles e de agora estarem perdidos no meu passado, apesar disso sempre cultivei o sonho de conseguir finalmente publicar um livro. Este será o primeiro de vários outros. Sou brasileira, casada e vivo em Portugal. Sou uma dona de casa como outra qualquer tenho um filho, dois cachorros e um gato. Escrevi este livro com muito amor e sonhos, espero que vocês apreciem. Boa leitura.

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    DIFÍCIL ESCOLHA - Rose Lima

    Difícil Escolha

    Capítulo 1 

    Helena

    Estava uma tarde de quarta-feira quente e ensolarada, não se sentia nem uma brisa no ar e ao sair do enorme prédio comercial pude sentir esse calor com toda a sua força, olhei para o meu terninho e saia com desagrado, tanta preocupação para me apresentar na entrevista de emprego, cabelo bem esticado, maquilhagem suave, mas bem produzida, para quê? Para nada… bufei desanimada.

    Essa era minha décima entrevista de emprego e apesar do meu excelente currículo, anos de experiência e até percebia uma certa admiração, principalmente este último entrevistador, mas era sempre igual, a crise, queriam pessoas com menos experiência ou a empresa queria fazer o treinamento de seu pessoal, que não podiam pagar um salário compatível com minha experiência etc., etc. No fim a prejudicada… sempre eu. Com 39 anos era uma mulher elegante e discreta, ninguém lhe dava mais de 30 anos, pois era uma mulher bonita e atraente… com pele bronzeada, cabelos cor de mel escuro, um pouco abaixo dos ombros,  bem tratados e olhos da mesma cor sendo um tom mais claro e sim apesar de ter um menino de 16 anos, continuava a ter belas curvas… um pouco mais cheias do que quando era mais nova e isso a deixava de alguma maneira mais sensual, talvez a idade me tenha dado mais confiança, estou mais madura, mais segura de quem sou e do meu corpo, com todas as cicatrizes que vem junto com a idade, não só em meu corpo mas em meu ser. E apesar de todas as coisas que já aconteceram, umas maravilhosas e muitas decepções, me sentia orgulhosa por isso.

          Bem, mas isso agora pouco importava, precisava de um emprego. Porque recebia tantos não, era difícil entender, como não era mulher de desistir fácil continuaria tentando.

          Estava tão perdida em meus pensamentos que quando o celular vibrou acabou me assustando, ao olhar na tela um largo sorriso surge em meus lábios, ao ver o lindo rosto do meu príncipe.

          − Oi filho! Está precisando de alguma coisa? – disse rindo baixinho, já que sabia exatamente o que meu filho queria.

        − Nada não, mãe – disse Paulinho – conseguiu o emprego? – perguntou ele.

        − Infelizmente amor, mais um não. Nem me deram a esperança de um telefonema no futuro – respondi suspirando de tristeza, mas não podia deixar o meu desanimo abater sobre Paulinho, por isso com uma alegria que não estava realmente sentindo continuei – não se preocupe meu querido arranjar um trabalho na minha área é questão de tempo…

        − Mãe! MÃE! – interrompe ele com voz estridente.

          Bem e aqui vamos nós, pelo desespero em sua voz sabia o que vinha por aí… adolescentes! Quando querem algo, se tornam teimosos e chatos.

          − Diz Paulinho – falei condescendente.

          Ele demorou alguns segundos para responder, era como se estivesse com medo de alguma coisa.

          − Mãe, sobre o que te pedi?! – perguntou relutante.

          − O que foi mesmo que me pediu? – respondo com voz inocente, como se não soubesse o que ele estava pedindo, o que vem fazendo desde ontem, mas era divertido brincar com a ansiedade dele… primeira namorada, primeiro cinema…ficava comovida, nada como o primeiro amor! – Paulinho… − e antes que conseguisse falar qualquer coisa ouvi o dizer.

          − Mãe?! Paulinho não – enfatizou ele – Paulo, Paulo mãe, será que não entende?! Eu não sou nenhuma criança para ser chamado assim! – enfatizou ele com desprezo – Paulo, ok?

          − Para mim vai ser sempre o meu adorado filho Paulinho, o meu bebê…− respondo com amor e um tiquinho de prazer, pois sabia o quanto ele ia ficar arreliado e sorri baixinho.

          − Mãe! – falou ele com firmeza e completou – é, Paulo! Paauulo.

          − Ok, ok vou tentar, só não prometo sr. Paulo – respondo provocando o e ouço ele bufar do outro lado da linha.

          − Então mãe como vai ser? Já decidiu?! – perguntou ansioso.

          − Nossa rapaz… quanta pressa! A ida ao cinema não é domingo? – perguntei inocentemente, como se não soubesse como são os ímpetos da juventude e um pequeno sorriso saí de meus lábios – será que não pode esperar até eu chegar?

          − Poder… pode – respondeu ele relutante – mas não entendo, porque está fazendo assim, olha Laura que é mulher…

          − Menina – cortei o.

          − Menina não! – frisou ele – adolescente e apesar disso o pai dela permitiu que fôssemos ao cinema, porque você não deixa?! – perguntou angustiado.

          Respirei fundo e soltei um grande suspiro, sabia que estava indo longe demais, mas só de pensar que meu bebê está crescendo e que daqui a pouco vai deixar o ninho, me assustava, mesmo sabendo o quanto estava errada, respondi – vamos falar sobre isso em casa? Por favor! – supliquei.

          − Inferno! – exclamou ele.

          − Olha a língua menino. Não fale assim com sua mãe − afirmei determinada.

          − Mas se o pai estivesse aqui já teria concordado comigo a muito tempo, droga mãe!

          − Droga, digo eu – falei realmente brava com os maus modos dele – o teu pai não está aqui e por isso quem decide sou eu – falei categórica – e só por ter mencionado o teu pai, que deixou todas as decisões familiares em minhas mãos, me espere em casa e conversaremos – e sem esperar resposta desliguei.

          Mais uma vez uma certa angústia me domina, abro a porta do carro, entro e saio do estacionamento indo para casa. Deixo me perder em meus pensamentos… João, meu marido e pai de meu filho… por que? Por que as coisas tinham que ser assim? Sou casada com ele há 20 anos, no começo tudo era tão diferente, ele era atencioso, carinhoso e estava sempre presente. Conseguiu um ótimo trabalho como gerente de uma grande empresa de tecnologia avançada, apesar das várias viagens e reuniões de trabalho estava sempre disponível, a família estava sempre em primeiro lugar, depois de 4 anos de casamento nasceu Paulinho, nosso filho adorado e aí sim, estávamos vivendo um sonho perfeito, me sentia a mulher mais sortuda do mundo. João era um homem maravilhoso como marido, mas como pai… ninguém competia, ele era extraordinário.

          E a vida era perfeita. Depois que Paulinho foi para o infantário, consegui um emprego como assistente num escritório de Contabilidade, João tinha conseguido uma grande promoção e apesar das viagens e responsabilidades terem aumentado, continuava sempre igual, disponível e presente para a família. E as coisas continuaram assim durante muitos anos, seu filho crescendo, seu marido prosperando e mesmo eu, apesar de não ter tido a oportunidade de terminar os estudos, sempre quis ser contabilista, adorava fazer contas, trabalhar com números e era muito boa no que fazia, tanto era verdade que consegui ser em poucos anos a assistente de confiança do chefão, era assim que todos os funcionários o chamavam, era um senhor de cabelos grisalhos e muito simpático, mas também rigoroso e exigente quanto ao andamento dos trabalhos.

          Mas como tudo que é bom um dia acaba, João foi convidado pela empresa para supervisionar uma nova filial que iam abrir em França e assim começaram as mudanças, no início ia, ficava 15 dias a um mês no máximo e vinha direto para a família, mas conforme a empresa foi crescendo, passou a ir de país em país para acompanhar tudo de perto, ficando as viagens mais longas e frequentes, as visitas a casa mais curtas, parecia que o interesse dele tinha sido direcionado a empresa, não que o amor pelo filho tenha diminuído, não, mas estava diferente comigo, como se o interesse dele por mim tivesse acabado. Agora ele estava na Guiana Francesa sem data para voltar – suspirei profundamente ao lembrar de tudo. Aquele homem carinhoso, atencioso, sexy e ardente parece ter desaparecido, mesmo quando estava em viagem João sempre me ligava e se mostrava tão caloroso e saudoso que muitas, várias chamadas de vídeo terminavam com os dois se excitando e praticando virtual sex, não era o ideal, mas para quem estava longe era consolador, pelo menos assim podia sentir que o amor e desejo entre eles ainda existiam.

          Mas agora ele estava diferente e já fazia algum tempo que isso vinha acontecendo, de repente tudo mudou, poucas chamadas de vídeo, a maioria para Paulinho, quando falávamos ele estava frio e distante, nada fazia ele voltar, nada o deixava ardente, fazia as perguntas ocasionais sobre a casa, do que precisávamos e ao desligar sempre lhe dizia ‟eu te amo e a resposta era ou eu também ou um simples te amo" quase inaudível e desligava.

          Perdida em meus pensamentos só percebi que estava chegando em casa quando entrei pela alameda iluminada e sossegada da rua.

          Morávamos num condomínio de apartamentos muito requintado, João fez questão de comprar o melhor apartamento para o conforto da família. Nosso apartamento ficava no bloco E, na verdade o último andar era todo nosso, a cobertura mais elegante do condomínio, sim vivíamos uma vida muito confortável graças a João, mas não ter o marido presente para disfrutarem juntos todos esses benefícios, era um preço alto demais para se pagar, sem falar na solidão, do trabalho que tinha como esposa, mãe e dona de casa e também o meu próprio emprego, ter que me desdobrar para cumprir direito todas as obrigações era muito cansativo e estressante… mas o que mais me custava era a mulher dentro de mim que sentia uma saudade imensa de ser tocada, beijada. Parei o carro dentro da garagem individual para 2 carros, sentia me esgotada, coloquei a testa sobre o volante dizendo para mim mesma – que falta me faz João, quero sentir ele dentro de mim e ouvir o seu gozo junto ao meu…eu preciso fazer amor! – declarei num tom forte e alto, sentindo um pequeno arrepio passar por meu corpo.

          Saí do carro balançando a cabeça 6 meses era tempo demais, demais mesmo… sei que não sou mais jovem, mas era uma mulher madura em plena atividade sexual e que tinha necessidades… necessidades que eu tentava por tudo enterrar, esconder dentro, bem no fundo de mim mesma. Se não fizesse isso, suspirei mais uma vez entrando no elevador e apertando o botão para a cobertura, mas antes que a porta se fechasse uma mão apareceu impedindo a porta de fechar e dona Margarida uma senhora de cabelos grisalhos acinzentados e com muitas rugas, entrou.

          − Ah! – exclamou ela – muito obrigada menina e como vocês estão? E o Paulinho? Esses dias eu o vi está um homem, tão lindo! – continuou ela sem esperar resposta, apenas sorri e concordei com a cabeça, conhecia muito bem o fôlego de dona Margarida… era sempre assim e agora vem o golpe de misericórdia e antes mesmo de terminar o pensamento a velhinha atacou – e o seu marido já sabe quando volta? Ah! Tadinha… − disse acentuando a palavra e me olhando com tristeza – tanto tempo sozinha, ele não devia fazer isso contigo – continuou ela e mesmo que a porta do elevador tenha se aberto no andar da simpática e intrometida velhinha, ela parou no batente da porta impedindo a de fechar, sentia que se ela não se calasse e fosse embora logo, iria cometer um assassinato, já não estava fácil manter o sorriso no rosto, mas ela está abusando de minha paciência – você ainda é muito jovem e bonita para estar sozinha. Uma mulher precisa de um homem, falo por experiência quando meu primeiro marido morreu arranjei logo outro em seguida – falou com um olhar matreiro – e era muito mais velha do que você. Se eu fosse jovem, bonita assim… não ficava sozinha não… arranjava logo outro homem para me coçar – disse me dando uma piscadela, rindo baixinho e ficando um pouco corada.

          Mas que velhinha mais sem vergonha e descarada pensei e dessa vez resolvi responder.

          − Acontece dona Margarida que meu marido não está morto e sim, longe de casa por causa do trabalho. Trabalho esse que paga todos os meus luxos e do meu filho também – e fiz um movimento a minha volta – e sendo assim merece todo o meu orgulho, respeito e admiração, pois se para mim não é fácil estar sozinha e nisso concordo com a senhora, para meu marido deve de ser bem mais difícil – falei de forma enfática – e agora se a senhora me dá licença – e apontei para a porta do elevador que ela ainda segurava – tenha uma boa semana dona Margarida – disse enquanto a porta do elevador se fechava deixando para trás uma idosa lívida de raiva.

          Soltei uma gargalhada, assim quem sabe ela aprende de uma vez por todas a não se meter na vida dos outros e dei de ombros quando a porta se abriu para minha casa, vida que segue!

           - Paulinho!! – chamei, pousando a bolsa no móvel do hall, indo diretamente em direção ao quarto dele, que com certeza é onde ele está - Paulinho!!-  Voltei a chamar encostando me no batente da porta, lógico como ele poderia me ouvir com os auscultadores nos ouvidos, claro... que ele só podia estar jogando – Paulinho!! - chamei mais alto entrando no quarto e indo em direção à ele, vendo o se virar na cadeira de jogos instantaneamente e me fazer um sinal para esperar. Fui até ele deu-lhe um beijo na bochecha e falei - estou na cozinha se quiser falar comigo - e saí indo em direção a cozinha, fechando a porta de comunicação que dava para os quartos, fui direto para a sala de estar, desligando a TV Plasma que fora esquecida ligada −  será que esse menino nunca vai aprender? − Fui então para sala de jantar e como previra o prato, talheres e copo do almoço estavam na mesa de vidro em cima de um individual, retirei tudo da mesa e levei para a cozinha. − preciso ter uma conversa muito séria com esse menino, de novo!− Nunca quis uma empregada doméstica a tempo inteiro, mesmo quando trabalhava, e agora que fiquei desempregada não ia ser diferente, Luiza vinha 3 dias por semana, limpava, deixava comida para o dia seguinte, lavava e passava roupa, sempre deixei a organização nas mãos experientes dela.

            Luiza era de total confiança e já trabalhava para a família  a muitos anos .... - e por falar em trabalho – comentei em voz alta, tinha saudades do meu último emprego, adorava trabalhar para o sr. Alberto, o Chefão. Mas quando ele faleceu, nós, os funcionários nunca imaginamos que a firma seria vendida e transformada em uma loja de calçados, deixando a todos desempregados, claro que havia ganho uma boa indemnização e lógico que se quisesse não precisava trabalhar, João lhe dava de tudo... mas eu sempre gostei de trabalhar, ter meu próprio dinheiro, poder me mimar sem estar dando explicação, porque é onde gasto mais dinheiro,  continuei com meus pensamentos, enquanto fazia um lanche para os dois, peguei copos e enchi com sumo de laranja. Colocando tudo sobre a mesa que tinha na cozinha, onde geralmente as refeições eram feitas com Paulinho. 

              E por falar em Paulinho por que estava demorando tanto? Para não ter que o chamar provavelmente aos gritos, peguei o celular para enviar uma mensagem. 

    - Estou na cozinha com um lanchinho pronto, não tinha urgência de falarmos? Então, estou a tua espera – escrevi e enviei. Esperei por 5 minutos como ele não vinha, comecei a comer, estava faminta e estressada com tudo o que estava acontecendo... tudo estava mudando muito rápido, perdi o emprego, meu marido agora mais parecia um estranho, meu filho também mudou, mas isso já esperava, a fase da aborrecência era complicada, todos os pais me diziam isso, só não imaginei que fosse tão difícil me adaptar ao novo Eu do meu próprio filho, sempre pensei que esse processo seria adaptado aos dois, pensei sinceramente que conseguiria mudar junto com meu filho, agora percebi que foi uma grande ilusão da minha parte, ele estava mudando... eu nem tanto. Isso sem falar na minha vida sexual ou melhor na falta dela, talvez não sentisse tanta necessidade de sexo, se meu  marido estivesse mais presente, mais carinhoso, mais caloroso... mas até isso era coisa do passado e me sentia sozinha neste mundo cheio de mudanças... que não conseguia acompanhar...

              - Mãe! - ouviu uma voz distante chamando - Terra chamando - continuou Paulinho e percebi naquele instante que até a sua voz havia mudado para um tom mais rouco, mais grossa, naquele segundo notei mais esta mudança, balançei a cabeça e levantei os ombros resignada... - mãe está tudo bem? A senhora está estranha. - afirmou ele pegando um dos lanches.

              - Pelo amor de Deus Paulinho sente se para comer - exigi num tom um pouco mais dramático do que pretendia e vi meu filho levantando as mãos como se pedisse desculpas e sentando se a seguir. Coloquei dois dedos de cada lado de minha testa e suspirei... ele não tinha culpa pelo o que estava acontecendo comigo, fechei os olhos para me acalmar e quando abri, vi dois olhos complacentes cor de mel iguais aos meus.

               - Não é nada não filho, a mãe está bem - afirmei

               - É por causa do trabalho, não é? - e antes que pudesse responder continuou ele - mãe não precisa se preocupar, o papai cuida de nós, tenho certeza que ele nunca vai nos deixar faltar nada - Paulinho era completamente apaixonado pelo pai, tinha uma confiança cega, não que o amor dele por mim fosse menor, mas acho que por serem homens havia mais afinidades entre eles - por isso não se preocupe se essa entrevista não foi como esperava, temos o papai, tudo vai ficar bem - afirmou ele se levantando e dando me um abraço apertado e um beijo na bochecha.

              Acenti com a cabeça resignada, apesar de me sentir um pouco inútil por depender do João - tens razão filho vamos esperar com calma. O meu emprego vai aparecer - afirmei com convicção.

              - Então, qual é o seu grande problema? −perguntei e sem resperar resposta continuei - o pai da garota já não permitiu? E quanto a ti?! Não é a primeira vez que vai ao cinema com seus amigos sem me pedir permissão – pelo menos era o que acontecia desde que ele fez 15 anos, suspirei baixinho. - faça como sempre, pegue o transporte público e vai curtir com sua namorada – terminei notando o rubor que apareceu no rosto dele.

               - Mãe, Laura não é minha namorada - disse categórico e depois baixinho completou – ainda − um pequeno brilho travesso surgiu em seu olhar.

               - Tá que seja qual é o problema? - perguntei

    - Bem... é que o pai de Laura permitiu que ela fosse... se junto estivesse um adulto - respondeu meio tímido - e nesse caso seria a senhora.

    - Como assim eu?! As regras são dele, ele que as faça cumprir - disse levantado da mesa e começando a retirar a louça - ele que fique de guarda costas para vocês - era só o que me faltava pensei, agora tenho que me submeter aos caprichos de um homem que nem conheço, pois sim. Coloquei as louças na máquina de lavar e virei-me para meu filho, mas encontrei-o de cabeça baixa desanimado, meu coração de mãe logo amoleceu, detestava ver meu filho assim, então perguntei - o que foi Paulinho? - e levantei a cabeça dele para que olhasse em meus olhos − o que vi fez meu coração derreter de vez - me diz amor, o que foi?!

          Ele olhou no fundo dos meus olhos e disse

          - É que se a senhora não fizer isso, não poderei sair com Laura e eu queria tanto! - falou quase como se suplicasse.

          - Paulinho entenda, porque ele não leva vocês?! Não sou eu quem estou impondo regras - disse com carinho.

    - Eu sei mãe, mas é que o pai dela não pode. 

    - Por quê ele não pode? Por acaso ele trabalha aos domingos?! - perguntei curiosa, assim até poderia compreender.

    - Normalmente não, mas como ele é advogado e está com uma grande causa em mãos, vai ficar trabalhando em casa revendo todo o processo - respondeu ele com segurança.

    - E como é que ficaste a saber disso tudo?

    - Por Laura é claro, nós conversamos sobre tudo, não escondemos nada um do outro - disse com orgulho.

    A inocência da juventude, sorri saudosa, pena que esse mundo cor de rosa, um dia acaba. Não deveria acabar, mas acaba, suspirei sentindo me quase nostálgica

    - Mãe? - chamou ele – mãe, você anda tão estranha, sempre perdida... nem parece que está aqui - olhando para cima percebi o quanto meu filho havia crescido, já me ultrapassava em altura uns bons 3 cm e olha que não sou uma mulher baixa, com meus 1,70 de altura, mas João era um homem alto com 1,84 de altura, era de esperar que o filho muito parecido com o pai tivesse uma boa altura, pelo jeito passaria a ser a baixinha da família, pensei sorrindo largamente.

    - Tás a ver? É o que digo - continuou meu filho - agora do nada começas a rir, eu não entendo mãe.

    - Não se preocupe está tudo bem - afirmei - eu levo vocês, fico com vocês ok? Pode confirmar com sua amiga que vocês tem companhia - mal terminei de falar e meu filho me envolveu num abraço apertado, dando me em seguida um beijo estalado na bochecha e saiu gritando de alegria

     - Obrigado, mãe!! Você é a melhor mãe do mundo!!! - continuou  correndo para o quarto

    Tudo vale a pena ou melhor qualquer coisa vale a pena só para ver a alegria, a felicidade estampada na cara linda do meu menino. Dei uma última olhada em volta da cozinha para ver se estava tudo organizado e fui para o quarto descansar.

    Capítulo 2

    Miguel (2 dias antes)

           - Droga, droga! - xinguei baixinho, olhando para o relógio de pulso, vendo que estava atrasado mais de uma hora, passando uma mão nos cabelos castanhos curtos mas cheios, pensando no quanto ela estaria zangada, tinha prometido chegar cedo e novamente por causa do trabalho estava faltando com a palavra, outra vez. Suspirei desanimado, olhando com atenção para a estrada, por mais velocidade que desse ao carro, estaria sempre atrasado e a única coisa que iria adquirir era uma multa por excesso de velocidade, bem e nem por Laura por mais que a amasse irei correr esse risco, como advogado tenho um nome para zelar.

    Como sócio-proprietário de uma grande empresa de advogacia e tinha sido muito difícil chegar onde chegara, tive que passar por muitos desafios e nem todos agradáveis...

             Nossa até que enfim estou chegando em casa, virando o carro para a entrada da garagem e esse portão elétrico que nunca mais abre, hoje ele parece mais lento do que o normal - vai droga, abre! - gritei para o portão... eu estou ficando maluco, balançei a cabeça.

             Entrei com o carro na garagem, saí, arrumei meu caríssimo terno cinza escuro, retirei o paletó e peguei a pasta no banco de passageiro, subindo as escadas que levavam direto para o hall da casa, de dois em dois degraus. Fui até o escritório para colocar minha pasta em cima da mesa, indo direto para o quarto de Laura que com certeza estaria muito brava comigo.

             - Laura! - chamei dando uma batidinha na porta antes de entrar - Laura, filha desculpa. Acredite que eu tentei mas...

             - Mas, mais uma vez me deixas te na mão - disse ela triste - tinha me prometido que vinha jantar comigo, coisa que já não faz a muito tempo - acusou ela - eu disse que  precisava falar contigo. 

              Fiquei olhando para a minha linda filha, tão parecida com a mãe, cabelos pretos e lisos, compridos até a altura da cintura e o rosto angelical, do pai tinha apenas a cor dos olhos verdes com um aro dourado e quando estava triste ou chateada como agora, eles ficava totalmente verdes e intensos, como amava aquela pequena e a deixar triste fazia com que me sentisse um péssimo pai. 

              - Ok – começei a falar - eu errei e peço desculpas. Amanhã eu venho na hora certa - prometi cruzando os dedos sobre os lábios - mas hoje ainda podemos conversar - disse entrando no quarto, sentando me na cama, ao lado dela - diga minha princesa, o que quer?

    Ela vira se para mim com aqueles lindos olhos verdes e grandes... peça o que pedir, eu sei que lhe darei.

    - Pai - começou ela com insegurança - sabe tem um garoto na escola... − e automáticamente meus ouvidos ficaram mais atentos, minhas sobrancelhas se juntaram sob os olhos e pensei, como assim um garoto? - Então, esse garoto me convidou para ir ao shopping com ele - continuou ela abaixando a cabeça - me convidou para almoçar e depois irmos ao cinema - terminou ela olhando para mim novamente. Mas eu sou pai e isso para mim pareceu uma afronta. Quem esse muleque pensava que era?  

    - Não, não - afirmei com convicção - nem pensa nisso - continuei me levantando da cama − você só tem 14 anos, ainda é uma criança, como assim? Convidou te para sair?! - terminei falando um pouco mais alto do que pretendia.

    - Tenho quase 15 anos, não sou mais criança, eu cresci caso o senhor não tenha percebido - respondeu olhando me com frieza - muitas garotas da minha idade já estão namorando.

    - Até pode ser, mas você não é muitas garotas. - afirmei sustentando o olhar dela - você é minha filha, meu anjinho.

    - E por isso vou ter que ficar presa em casa? Nunca vou poder sair com garotos, não vou poder namorar - bradou ela - eu sou sua filha, mas não pode fazer isso comigo, só quero passear, sair como toda garota, ir ao cinema, sair com meus amigos - disse ela fazendo uma pausa - você não tem esse direito - e levantou se da cama para me encarar de frente.

     Esse simples gesto me fez lembrar do quanto minha filha era voluntariosa, como a mãe é claro, lutar pelo o que queria e não medir esforços para conseguir, essa lembrança fez com que um leve sorriso de lado surgisse em meus lábios, mas por pouco tempo, afinal tenho que me concentrar na discussão.

    - Laura entenda, não faço isso para te prender e sim por que quero te proteger, você ainda é muito nova – falei querendo que ela entendesse o meu lado de pai - não entende nada da vida e dos perigos que existem lá fora – levantei me e fui em direção à porta, tentando encerrar o assunto, mas senti as mãos pequenas e delicada em meu braço impedindo me de continuar.

             Ela me olhou com compreensão e tristeza, delicadamente pegou em minha mão me puxando para perto da cama, me fazendo sentar, depois sentou se ao meu lado e colocou a cabeça em meus ombros e ficamos assim por uns minutos, sentindo e tentando ultrapassar as nossas dores e perdas, depois levantou se e foi se colocar ajoelhada a minha frente, colocou suas mãos em minhas pernas e me encarou com os olhos marejados de água assim como os meus.

            - Pai, meu paizinho - disse ela com carinho - eu entendo, a tua dor e o teu medo porque também são meus. A maneira como perdemos a mamãe foi cruel, difícil de aceitar - e vi uma lágrima escorrer por sua bochecha - eu sofri com a morte da mãe, na verdade sofro até hoje, sinto saudades... muitas mesmo, mas pai, eu não posso viver numa redoma de vidro. Eu tenho que viver e ser feliz por que era isso que a mãe iria querer - e continuou me olhando com amor imenso - e isso também serve para você, a mãe foi embora - ela raramente dizia que a mãe havia morrido - a mais de quatro anos e nunca te vi com ninguém. Andas sempre triste e abatido, se dedica a mim e ao seu trabalho de corpo e alma para esquecer sua dor.

             Quando foi que minha filha cresceu tanto? Quando ela se tornou essa garota inteligente e determinada, sinto me orgulhoso dela, pensei abaixando os olhos. Desde a morte de Fátima, que minha vida tem sido a minha linda filha e meu trabalho...

    - Pai, olha para mim por favor - disse tentando ver meus olhos - a mãe ia ficar muito triste se pudesse te ver agora, tão infeliz e tão sozinho. Doce e alegre como ela era... com certeza ficaria muito infeliz de te ver desse jeito - terminou ela com carinho - você está vivo, precisa seguir em frente, encontrar alguém... se apaixonar, viver paizinho, viver - falou impondo mais ênfase na palavra viver.

    Ouvir minha filha falando dessa maneira comigo me fez reagir, afinal o adulto ali sou eu, não posso me deixar abater assim, ainda mais na frente dela. Levanto me da cama, limpo os olhos e digo:

     - Ok Laura - disse com firmeza - vamos fazer assim. O convite desse garoto é para quando?

    - Domingo que vem.

     Droga, lógico que tinha que ser, pensei desanimado.

     - Olha neste domingo não posso te levar, tenho uma audiência na segunda e vou precisar do domingo para me concentrar no caso... - mas Laura me interrompeu 

    - Pelo amor de Deus pai, você não precisa me levar...

    Dessa vez fui eu que a interrompi com um gesto autoritário de mão e o meu olhar  firme de pai.

    - Nem pense menina, as opções são simples ou um adulto vai com vocês para almoço, cinema etc ou então marque para outro dia, um que eu possa ir junto! - e antes que ela pudesse dizer qualquer coisa continuei - ou é assim ou vai continuar na redoma de vidro! E não tem discussão.

            Caminhei até ela dei lhe um beijo na testa e fui saindo do quarto enquanto falava - e vai dormir porque amanhã é dia de escola e você sabe o quanto os estudos são importantes! Dorme bem querida! - e fechei a porta do quarto saindo, sabia que Laura nesse momento estava com certeza, muito triste, ela odiava não conseguir o que queria, mas ela também tem que aprender que a vida não é feita só de vitórias.

             Enquanto pensava segui pelo corredor, desci as escadas e fui em direção ao bar, pegando um copo e enchendo com uma dose de whisky, olhei para o copo e coloquei mais um pouco. Tinha por hábito chegar em casa e tomar a minha única dose, não era do tipo que bebia muito, mas hoje... hoje depois daquela conversa com Laura, eu precisava e muito, enquanto afrouxava a gravata indo para o sofá levando a garrafa comigo...

    Eu até compreendia que Laura, nova como era, quisesse levar uma vida normal, que se esquecesse da dor de ter perdido a mãe, ela é uma criança que ainda não viveu nada, tomei um grande gole da bebida que desceu rasgando a minha garganta, mas querer que eu me esqueça do amor da minha vida... ela está me pedindo o impossível. Fátima era tudo para mim, minha amiga, parceira, mulher e amante... como posso pensar em a substituir? E balançando a cabeça negativamente tomei mais um gole, percebi que meu copo estava vazio, deixando o ali na mesinha do centro rumei para o quarto levando comigo a garrafa.

            Hoje me sinto destruído, amargurado, como no dia que fiquei sabendo que minha amada Fátima tinha sido vítima de um atropelamento fatal, um maluco qualquer a tinha atropelado e fugido, sem nunca terem encontrado o culpado e isso me deixava furioso, adoraria botar as mãos naquele assassino e bater lhe tanto... queria o matar, sem me preocupar com meu trabalho, só queria extrapolar o ódio, o rancor que tinha em meu coração, abri a porta da minha suite indo até a cama e peguei a foto de minha amada Fátima na mesinha de cabeceira, levei a garrafa a boca e tomei mais um longo gole, a dor, a angústia não desapareciam e olhando para o lindo rosto, sorriso perfeito de minha mulher falei:

            - Como Fátima, como posso te esquecer? – a minha voz trêmula com palavras entrecortadas devido ao choro e também por causa da bebida, mas não me importei e tomei mais um gole - você ouviu o que nossa filha me disse hoje? Que preciso seguir em frente...- ri com desdém - como se eu nunca tivesse tentado, é claro que tentei e você sabe disso - falei num tom acusativo, tomando um último gole da bebida, jogando a garrafa na parede vendo a se espatifar e o líquido escuro escorrer.

             Coloquei as mãos na cabeça apoiando os cotovelos em minhas coxas musculosas, parecia que todo o peso do mundo estava em minha cabeça, meu corpo, minha alma.

             - Você sabe melhor do que ninguém que tenho saído com várias mulheres, uma mais linda do que a outra - disse ele olhando para o porta retrato - mas nenhuma é você e como não é você, meu amor, eu sinto que estou fazendo tudo errado, faço sexo, mas não amor - e voltei a pegar o porta retrato que tinha deixado de lado começei a acarinhar pelo vidro aquele rosto tão amado, lembrando me de todos os momentos de alegria, carinho e amor que vivi com Fátima - uma mulher única e que amarei sempre, sempre! – gritei, dando um beijo carinhoso no porta retrato e colocando o de volta no lugar. 

              - Vou tomar banho – comentei, como se Fátima ainda estivesse ali e pudesse me ouvir, enxuguei as lágrimas e fui para o banheiro.

               Enquanto tirava a roupa percebo o quanto estava excitado, entro no chuveiro deixando a água cair por meu corpo esculpido, mas nem isso me acalmou, era sempre assim, quando pensava em Fátima sempre ficava excitado, lembrando do seu corpo moreno e bonito, seios pequenos, mas firmes, ah! Aquela boca que pedia um beijo esmagador e sem perceber estava me tocando, precisava de Fátima de sentir seu calor, sua boca em meu corpo, provar o sabor gostoso que só ela tinha e senti que ia gozar, sentindo meu corpo estremecer de prazer, mas não pude evitar o choro, chorei de saudades, chorei por não ter aquela que amava, mas chorei principalmente por pena de mim mesmo, com meu gozo solitário... por ter um coração amargurado e vazio...

    Capítulo  3

    Helena (sábado)

              - Nossa!! Como essa semana passou rápido e mais uma semana desempregada. – falei baixinho, isso me deixava estressada, sabia que não precisava de trabalhar, sabia que João supriria qualquer necessidade minha e do nosso filho, por mais fúteis que fossem, meu marido era o meu porto seguro, aquele a quem confiava a vida se fosse preciso, mas... era esse, mas que realmente me incomodava. Porque sentia essa necessidade desesperada de encontrar emprego? Sim, gostava de ser independente, de trabalhar, mas na verdade não precisava do dinheiro e mesmo assim a cada dia que passava e um não que recebia, meu corpo todo estremecia com a angústia, uma angústia dilacerante, como se o meu sexto sentido gritasse não desista, você vai precisar desse emprego e o medo me consumia.

               Deitei me na cama do meu quarto sofisticado e elegante como o resto de minha casa e pensei. Como posso ter medo? Com toda essa mordomia e segurança que meu amado marido fazia questão de me dar, sem nunca cobrar ou jogar na cara tudo o que faz pela família? Sentia me uma ingrata, mas não conseguia deixar de sentir medo..., mas medo do que?

               Ainda estava perdida em meus pensamentos quando o celular tocou, estiquei me ainda deitada para o alcançar na mesa de cabeceira, olhei na tela para ver quem era e atendi alegre, minha melhor amiga Lúcia, nos conhecemos

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