VisoGrafia: Aprendizagem da Escrita e da Leitura de Língua de Sinais
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Sobre este e-book
eliminar ou amenizar as barreiras linguísticas e socioculturais impostas aos sujeitos visuais, uma vez que são privados de tal conhecimento, mesmo inseridos numa sociedade que, historicamente, é regida pela cultura da escrita. Desse modo, a leitura deste livro torna-se indispensável aos profissionais da educação, da linguagem, pesquisadores, estudantes e falantes da LS (visuais ou ouvintes).
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VisoGrafia - Áurea de Santana Bueno
Sumário
CAPA
INTRODUÇÃO
CAMINHOS TRILHADOS: UM OLHAR RETROSPECTIVO PARA A MINHA FORMAÇÃO ESCOLAR-ACADÊMICA
CAPÍTULO 1
CONTEXTUALIZANDO: BREVE PANORAMA HISTÓRICO DA ESCRITA DE SINAIS
1.1 Escrita de Sinais: da gênese à atualidade
1.2 Sistemas de Escrita de Sinais que circulam no Brasil
1.2.1 Sistema de Escrita de Sinais SignWriting (SW)
1.2.2 Sistema Brasileiro de Escrita das Línguas de Sinais (ELiS)
1.2.3 Sistema de Escrita para Libras (SEL)
1.2.4 Sistema de Escrita de Línguas de Sinais – VisoGrafia (VG)
CAPÍTULO 2
VisoGrafia: DA INQUIETUDE À CONSOLIDAÇÃO DE UM SISTEMA DE ESCRITA DE LÍNGUAS DE SINAIS
2.1 VisoGrafia: a fecundação de uma nova ideia
2.2 VisoGrafia: aspectos técnicos e conceituais
2.3 VisoGrafia: a economia na escrita como facilitadora do aprendizado
2.4 VisoGrafia: a visualidade como potencializadora da aprendizagem
CAPÍTULO 3
VIGOTSKI E BAKHTIN: UM ENCONTRO DE APRENDIZAGEM MEDIADO PELA LINGUAGEM
3.1 O desenvolvimento da linguagem humana
3.2 O processo de aprendizagem humana
3.3 Aprendizagem da escrita e suas implicações no processo de formação das funções superiores da mente
3.4 A importância da Escrita de Sinais na constituição do sujeito visual
3.5 A função da Escrita de Sinais no aprendizado da Língua de Sinais
CAPÍTULO 4
A PESQUISA: PERCURSOS METODOLÓGICOS
4.1 Caminhos metodológicos
4.1.1 Questões e Objetivos
4.2 Apresentação, histórico e descrição do corpus de pesquisa
4.3 Aplicação da VisoGrafia no meu processo de aprendizagem da Libras
CAPÍTULO 5
ANÁLISE DOS DADOS: CAMINHOS PARA O (DES)APRENDER
5.1 Análise de aprendizagem: aspectos cognitivos e pedagógicos
5.2 Análise de aprendizagem: um olhar reflexivo para o próprio aprendizado
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
SOBRE A AUTORA
SOBRE A OBRA
CONTRACAPA
VisoGrafia
Aprendizagem da escrita e da leitura
de Língua de Sinais
Editora Appris Ltda.
1.ª Edição - Copyright© 2023 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi realizado o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nos 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010.
Catalogação na Fonte
Elaborado por: Josefina A. S. Guedes
Bibliotecária CRB 9/870
Livro de acordo com a normalização técnica da ABNT
Editora e Livraria Appris Ltda.
Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês
Curitiba/PR – CEP: 80810-002
Tel. (41) 3156 - 4731
www.editoraappris.com.br
Printed in Brazil
Impresso no Brasil
Áurea de Santana Bueno
VisoGrafia
Aprendizagem da escrita e da leitura
de Língua de Sinais
A Deus, que, por meio do seu incomensurável poder, me colocou no mestrado por intermédio de um sonho, revelando-me uma questão da prova na noite anterior ao seletivo, pois, quando Ele quer, não há quem possa impedi-lo.
Ao professor Anderson, que, por muitas vezes, me apontou o caminho.
Ao professor Benassi, que, por todas as vezes que precisei, me auxiliou.
À VisoGrafia, escrita pela qual me encantei, o encanto transformou-se em pesquisa, a pesquisa resultou em conhecimentos, estes constituíram esta obra.
Ao meu esposo, Maurício Bueno, companheiro excepcional para todas as horas, boas ou ruins.
Aos meus filhos, Acsa Emanuelle e Áxel Fellipe, os quais contribuíram possibilitando-me dedicação às formações que cursei, simultaneamente: graduação, especialização e mestrado.
Enfim, aos usuários da Língua de Sinais, especialmente, os visuais, para os quais considero que os conhecimentos aqui compartilhados são de extrema importância.
AGRADECIMENTOS
Toda honra, toda glória e todo louvor sejam dados a Deus, o autor e consumador da vida! Pois reconheço que, se aqui cheguei, foi pela excelência de suas obras. Contudo, parafraseando Carlos Drummond de Andrade, digo que houve, sim, muitas pedras ao longo do meu caminhar, mas todas elas eu usei para apoiar-me e construir meu próprio caminho.
À minha família: esposo, Maurício Bueno; filhos, Acsa Emanuelle e Áxel Fellipe. Eles constituíram verdadeiro sustentáculo em todos os momentos, bons ou difíceis. Para tudo existe um culpado
, assim, sempre direi que o meu esposo é o responsável pelo meu processo de transformação desde o dia em que ele me inscreveu no Enem, sem me consultar.
À minha mãe – eterna admiradora e meu referencial –, pelas incessantes orações.
Aos meus pastores e à minha igreja, pela cobertura em oração.
A todos os professores do meu percurso escolar e acadêmico, em especial, os docentes da graduação de Pedagogia, de Letras-Libras e da pós-graduação, os quais me constituíram enquanto pessoa e profissional da Educação e da Linguagem.
Ao professor/orientador/amigo/papi Anderson Simão Duarte, aaaah, o que dizer dele!? As palavras parecem que sumiram em razão da palavra que nos envolve. De admiradora anônima, co-orientanda no TCC da Pedagogia, aluna em Letras-Libras, passando pelo Pibid, finalmente, ele, com toda sua luz, conseguiu enxergar uma luzinha, talvez fumacinha, lá dentro de mim, a qual nem eu enxergava. Algumas falas dele me marcaram profundamente e me impulsionaram em direção ao mestrado: Áurea será minha primeira orientanda
, Áurea está pronta para o mestrado
, Áurea só precisa de um ‘tapa’ para ir para o mestrado
. De fato, o tapa
dele foi fundamental para que eu conquistasse mais um degrau na escada do conhecimento. Entretanto, Deus nos revelou outros planos.
Ao professor-amigo Claudio Alves Benassi, para o qual também me faltam palavras para agradecer. Mas, ainda que me faltem palavras suficientes, ele sabe que até o silêncio seria capaz de traduzir o carinho, respeito, admiração, amor e o benquerer que nutro por ele. Desde a nossa primeira conversa, a sua paixão pelo que faz foi tão contagiante que fez com que eu me apaixonasse pela Escrita de Sinais. Então, colei nele
e o resultado não poderia ser outro: meu co-orientador na pesquisa de mestrado, a qual se transformou na presente obra. Na verdade, ele me orienta desde o meu TCC no curso de Pedagogia. Ah, profe
, uma palavra resume tudo isso: GRATIDÃO!
Enfim, a todos que direta ou indiretamente contribuíram para o meu processo de formação deixando alguma marca que aqui não coube ser mencionada.
Sou uma pequena porção de ideias
Igualmente constituídas por outras ideias
Que convergindo ou divergindo
Deixam marcas que não podem
E nem devem ser ignoradas
Desde meu ato de nascer
Que aprender é minha essência
Contudo, foi preciso também desaprender
Num contínuo despertar de consciência
Enriquecendo meu processo de aprender a aprender
Prazer, eu sou...
Essa porção que você já conhece
E como pode ver
Sou 1530 milímetros
Medidos pelo teu olhar
Mas se ainda não sabes quem sou
Com prazer, descreverei
Sou adulta, sou jovem
Mas também sou criança
Dependendo de cada olhar
Sou mulher, esposa e mãe
Sou filha, amiga e estudante
Logo, sou tudo ao mesmo tempo
Porém, antes de tudo
Sou filha do Deus altíssimo
Mas, às vezes...
Também sou ninguém
Depende de onde me situo.
(Santana Bueno)
A história simplesmente se repete. O que foi feito antes será feito outra vez. Nada debaixo do sol é realmente novo. De vez em quando, alguém diz: Isto é novidade!
. O fato, porém, é que nada é realmente novo.
(Eclesiastes 1:9)
PREFÁCIO
Prefaciar um texto é sempre uma atividade que requer do prefaciador, aqui relembrando as palavras bakhtinianas, uma apreciação autoral. Além disso, essa atividade pressupõe a arquitetônica de dizeres, nos quais o arquiteto tece uma malha dialógica na qual se entrelaçam vozes diversas, entre elas a do autor e a do texto prefaciado, cujo tecido discursivo põe em evidência, num primeiro e mais superficial nível, as impressões daquele que o apresenta.
Nesse sentido, o discurso de apresentação de uma dada obra pode ser uma espécie de guia
para o leitor, indicando-lhe, por vezes, o que ele poderá encontrar no percurso de estudo da enunciação que ele tem nas mãos. No entanto, um ledor desavisado pode se contaminar com os dizeres do prefaciador e, com isso, buscar no texto apenas as impressões do autor-apreciador que apresenta a obra. Posto isso, antecipo que não quero, com essas minhas elucubrações, induzir ao estudante dessa obra as impressões sobre ela.
Assim sendo, gostaria de contextualizar a autora e sua obra. Devotada mãe, querida amiga, extraordinária aluna e pesquisadora por excelência, conheci Áurea há um certo tempo, quando ela conhecia a Libras, o surdo e seu processo de alfabetização por intermédio daquele que considero o maior formador
na área da Libras no Estado de Mato Grosso, de quem também sou cria
, do professor Dr. Anderson Simão Duarte.
Por fazer parte do mesmo projeto de extensão de ensino de língua portuguesa como segunda língua, na modalidade escrita para o surdo, as interações me levaram a mediar informações sobre a escrita de língua de sinais para a então graduanda Áurea, que se viu deslumbrada mediante aquele novo universo que lhe ia sendo desvelado em cada uma das minhas enunciações, sempre envoltas numa aura valorativa de grande paixão e comprometimento pela bandeira que dois ou mais anos atrás eu havia levantado.
Defendido seu dossiê, logrando o título de licenciada em Pedagogia, Áurea nos surpreende ao ingressar no curso de Letras-Libras, consequentemente, por tabela, assim por dizer, nos meus cursos de escrita de sinais, conseguindo êxito arrebatador em sua aprendizagem. Dada sua iniciação exitosa na escrita de sinais, Áurea decide dar um passo além, ao ingressar no mestrado em Estudos de Linguagem, com proposta de pesquisa relativa a aprendizagem da escrita de sinais.
Concomitantemente, eu escrevia minha tese sobre o novo sistema de escrita de sinais, que eu desenvolvera, facilmente dominado
por Áurea. Em minha pesquisa doutoral, ofertei cursos para testar, convencionar e verificar como seria a aprendizagem desse novo sistema. Não consegui, na tese, analisar os dados que obtive relativos à aprendizagem, pelo menos, não profundamente: o fiz en passant.
Dada as dores e delícias do contexto no qual se desenrolou a pesquisa de Áurea, sua atenção acabou recaindo sobre os dados dos cursos de escrita de sinais que ministrei, dos quais ela fora a mais brilhante cursista. Como não poderia ser diferente, dada a competência e habilidade dela, um belo texto na forma de dissertação é arquitetado e defendido sob recomendações da banca, da qual tive o privilégio de ser membro, para posterior publicação, algo que se torna real no presente empreendimento.
Prezado leitor, nas páginas que seguem, você vai fazer um belíssimo passeio pelo mundo encantador da aprendizagem da escrita de sinais VisoGrafia – cuja criação é desse ser humano que ora tece esses comentários iniciais – guiado pelas lentes valorativas de sua autora, pesquisadora e aprendente, guardadas as devidas proporções do distanciamento necessário para a boa análise dos dados, sem a qual os resultados não são visualizados nitidamente.
Para finalizar esse meu pequeno preâmbulo, cuja intenção é apenas de chamar a sua atenção para o fato de que sua jornada, pelo estudo dessa obra que você, caro leitor, está iniciando, será de descobertas agradáveis e de constituição alteritária com um mundo visossinalizado, gostaria de esboçar um pequeno trajeto iniciático em dez passos, que evidenciam a trajetória de Áurea pela pesquisa acadêmica que originou a presente obra.
O número 0 evidencia o repouso, a tranquilidade da unidade, no qual não há objeto para o conhecimento, pois, como evidencia Bakhtin, o objeto do conhecimento só se torna real quando é percebido como um problema, logo, no zero não há inquietação, não há necessidade de realização, de expressão: somente a tranquilidade e o repouso do espírito. O número 1, ou uno, referencia o ponto inicial, no qual o espírito se unifica para preparar uma realização. Nele surge a necessidade de expressão.
No número 2, nasce a dualidade, noutras palavras, relembrando a sabedoria do Tao Te King, a realidade é percebida como uma circunstância provisória de opostos necessários, como uma dualidade. Uma vez que o uno não se divide, ele então irradia essa dualidade a partir de si mesmo, para fazer surgir a necessidade de realizar, de expressar o objeto do conhecimento que ora emerge como um dado problema.
O passo seguinte é desvelado pelo número 3. Na trindade, ou no triplo logos, são percebidos a lei que se traduz pelo conteúdo, que na perspectiva bakhtiniana é sempre ideológico; o amor ao conhecimento e a energia, que por um lado vivifica o material para a realização e, por outro, o reifica; e, por último, a inteligência com a qual a pesquisa é realizada para obter a forma do conhecimento.
No passo 4, na tétrade, os elementos naturais serão canalizados para a manifestação da realização, para a expressão do objeto do conhecimento. O fogo é calor dos fenômenos que serão observados; o ar se converte na força motriz que impulsiona a observação dos fenômenos; a água é a materialização dos fenômenos da observação em forma de dados; e, por último, a terra que representa o fundamento da realização, da expressão, da pesquisa.
No passo 5, que é a pêntade, temos então a adição do quinto elemento: o éter do conhecimento tornando-o a estrela de 5 pontas. Nessa fase temos a análise dos dados. Essa etapa requer do pesquisador um distanciamento suficiente para que ele não se confunda com seu objeto de estudo, tampouco projete sobre ele seus anseios. É nessa fase que surge o brilho. No número 6, na sêxtade, temos o passo mais difícil da caminhada: a criação em perfeição do conhecimento sobre o objeto da realização. Nesse passo temos a produção escrita.
No número 7, na séptade, surge então a elevação. Nessa etapa cumpre-se o ritual da efetivação do conhecimento: a defesa. Assim, o pesquisador prova, mediante avaliação de iniciados, que laureou a estatura daqueles que compõem o seleto grau dos produtores do conhecimento. Na óctade, ou seja, no passo 8, o pesquisador experimenta o eterno, o contínuo movimento da inovação do conhecimento. É exatamente o passo da divulgação, o momento no qual encontramos a pesquisadora Áurea.
No número 9, na nônade, damos o passo que nos lega, o lugar dos iniciados no conhecimento. Nessa fase, temos o despertar dos nossos outros, que farão suas leituras, estudos, citações e referências, reiniciando o nosso próprio ciclo, ampliando-o, inclusive. Por fim, no passo 10, na décade, temos o encerramento do nosso próprio ciclo, do nosso próprio processo de conhecimento para que haja o seu reinício.
Claudio Alves Benassi
Doutor em Estudos de Linguagem. Professor do Departamento de Letras da Universidade Federal de Mato Grosso. Coordenador do Grupo de Estudos em Filosofia da Linguagem – Gefil Licor de Pequi