Formação Docente: A Pesquisa Colaborativa em Processos Dialógicos Alfabetizantes
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Sobre este e-book
O tema abordado faz uma passagem pelos caminhos da formação de professores, contextualizando os modelos e concepções de formação continuada e as tendências dos movimentos formativos dessa categoria profissional. Entrelaçando a temática da formação docente com as práticas de desenvolvimento da linguagem escrita, a autora buscou, por meio de um recorte teórico, demonstrar quais são os saberes empreendidos pelos docentes ao desenvolver a linguagem escrita a partir dos textos. Demonstra também como a pesquisa colaborativa favorece o trabalho de formação continuada, constatando ainda que a escola deve ser o lócus da formação continuada e que os professores devem ser estimulados a serem protagonistas, produtores de seus saberes.
Pela relevância da temática, cientificidade da pesquisa e linguagem de fácil compreensão, esta obra pretende ser uma contribuição para estudiosos, professores/as, pesquisadores, que apresentam interesse por esse tipo de assunto. Especialmente aos docentes dos Anos Iniciais, é um desvelamento da prática pedagógica, dos saberes e crenças que são desenvolvidos no território da sala de aula ao utilizarem o texto como unidade básica de ensino no processo de alfabetização de crianças.
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Formação Docente - Francisca das Chagas dos Passos Silva
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Ao Prof. Dr. Antonio Solon Dias
À minha filha, Solânea Silva Dias Araújo
Aos meus netos: Mateus Dias Araújo e
Lucas Dias Araújo
AGRADECIMENTOS
A produção do conhecimento é sempre um ato compartilhado, envolvendo tanto o que já é conhecido, como os que contribuem para o seu aperfeiçoamento. Dessa forma, torna-se imperativo que esses colaboradores recebam o devido agradecimento.
A Deus, fonte de luz e sabedoria, por me inspirar na tessitura destes escritos.
À minha família: ao dileto companheiro Prof. Dr. Antonio Solon Dias; à nossa querida filha, Solânea Silva Dias Araújo; aos meus netos, Mateus Dias Araújo e Lucas Dias Araújo, por serem força e alegria na minha vida.
Aos professores e às professoras da 1ª turma (2016) do Programa de Pós-Graduação em Gestão de Ensino da Educação Básica, da Universidade Federal do Maranhão (PPGEEB/UFMA).
De forma especial, agradeço à Prof.ª Dr.ª Vanja Maria Dominices Coutinho Fernandes, pelo apoio imensurável na orientação e elaboração da pesquisa que originou este livro.
À Prof.ª Dr.ª Marise Marçalina de Castro Silva Rosa, pelo apoio e incentivo dispensados.
À Prof.ª Me. Nádya Dutra, secretária adjunta da Secretaria de Estado da Educação do Maranhão, e à Prof.ª Patrícia Mesquita, pelo incentivo e apoio na caminhada que culminou na tecelagem deste texto.
Aos colegas da 1ª turma do PPGEEB, especialmente a Clenia Santos, pelos laços de amizade e confiança que se estabeleceram no decorrer do curso.
À professora Alexandrina Colins Martins, pelo incentivo e companheirismo constantes.
Ao Grupo de Pesquisa em Ensino da Leitura e da Escrita nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental (GruPELPAI), pelas valiosas discussões e contribuições indispensáveis para que o trabalho se desenvolvesse na escola lócus da pesquisa.
A toda equipe escolar da Unidade de Educação Básica Pedro Marcosine Bertol, da rede municipal de São Luís.
À Prof.ª Dr.ª Cyntia Graziella Guizelim Simões Girotto, livre docente em Leitura e Escrita da Unesp de Marília - São Paulo, por estar conosco como membro da Banca Examinadora do texto dissertativo e por prefaciar este livro.
À Camila Rodrigues da Conceição, por me carregar em seu ventre; e à Maria de Nazaré da Silva, pelo carinho, cuidado e por me incentivar sempre na busca do conhecimento. Saudades eternas! (in memoriam)
[...] pesquisar colaborativamente envolve a necessidade de compreender que, para mudar a teoria, a política e a cultura escolar, é necessário optar pelo desafio de co-produzir conhecimentos com os professores, aproximando o mundo da pesquisa ao da prática. Na Démarche de pesquisa colaborativa, o pesquisador não dirige um olhar normativo e exterior sobre
o que fazem os docentes, mas procura com
eles compreender as teorias que regulam a prática docente, de forma a favorecer o desenvolvimento da capacidade de transformar reflexivamente e discursivamente a atividade desenvolvida por esse profissional (IBIAPINA, 2008, p. 113).
PREFÁCIO
Alfabetização em painel policromático no contexto maranhense: exuberâncias do ensinar e aprender a ler e escrever em processos formativos de professores
Prefaciar é mesmo trazer à tona o conteúdo de uma obra. Na condição de um texto preliminar de apresentação, é escrito pelo autor ou por outrem. Posicionado já no começo do livro, em suas páginas preliminares e até o miolo da peça a ser apresentada, exibe, normalmente, desde objetivos até exemplificações de capítulos, narrando o que neles é abordado. Por vezes, inicia-se falando sobre a pessoa do autor e, eventualmente, apresenta algumas impressões de outros acerca da obra. Enfim, o prefácio procura oferecer ao leitor uma visão antecipada da essência contida na obra. Então, prefaciar é procurar suscitar, envolver, seduzir o leitor a se interessar pela obra, produzindo até, em alguns casos, um ar de curiosidade, dando aquele gostinho de quero mais
. Mas em linguagem academicizada (pois seria imperdoável uma linguagem tão rasteira e coloquial aos olhos dos ortodoxos e conservadores), dever-se-ia dizer algo assim: possibilitando conexões humanas capazes de despertar sensações de confiança, vínculo, gratidão, culminando em um desejo intelecto-afetivo proveniente, notadamente, daquilo que, de alguma forma, já surpreendeu o leitor
.
MARANHÃO, é de lá que vem a autora, mais precisamente, da cidade de Barreirinhas, portal de entrada de um dos mais belos cenários mundiais: os Lençóis Maranhenses. Vivendo em São Luís desde os 7 anos de idade, ela já é uma ludovicense apaixonada pela capital. Como não se encantar pela cidade dos azulejos de tantos tesouros estéticos. São Luís inspira poesia! Cidade território da ‘poésis’, que aguça todos os sentidos e nos convida a conhecer os painéis de Silva (2018), coloridos, encantadores, poéticos e reveladores. Tanto quanto os dos casarões maranhenses, um dos patrimônios culturais mais belos do mundo, cujas características arquitetônicas, dos sobrados e telhados com eiras e beiras, remetem-nos a um passado colonial que, além de render importantes títulos à capital maranhense, como Cidade Patrimônio da Humanidade em 1997, revela uma história dura, sofrida, contudo bela. Azulejos e mais azulejos, seja revestindo as fachadas dos casarões antigos localizados no centro da cidade, seja nas igrejas ou até mesmo como itens decorativos nos interiores dos sobrados e moradias da São Luís colonial, numa viagem rodopiante e envolvente.
O meu encantamento e descrição por essa azulejaria origina-se na minha própria descendência portuguesa paterna. Ao visitar Portugal, dentre os aspectos da cultura e vida de meus ascendentes, não escolhi o fado nem as sardinhas (que por sinal, comia-as invariavelmente todos os dias, acompanhadas de batatas e vinho, muito boas e saborosas). Ainda assim, prefiro as artes, literatura, a poesia, a azulejaria. Em 2009, descobri mediante a riqueza do lado de lá, daquilo que me falavam os maranhenses do lado de cá, em 2008. Maranhenses que estudaram em Marília, como Joelma Reis Correia, Maria José, Raimundo, Conceição e Vanja Maria Dominices Coutinho Fernandes. O meu contato com a autora veio pelo convite de sua orientadora (Vanja) para compor a Banca Examinadora do trabalho dissertativo de Francisca.
Como descrevi anteriormente, o texto possibilita essas conexões humanas. Cercada dessa história encantadora, os painéis em grandes telas tecidas por Francisca neste livro, cujas páginas convidam o leitor à sua leitura, assim como a usar de todos as suas estratégias metacognitivas mobilizadas no ato de ler, todos os seus sentidos e capacidades humanas para compor junto da autora a sua arquitetônica — já que a obra é construída em acabamento relativo, na extravocalização, na interlocução de vozes variadas com seu leitor presumido. Neste diálogo com Silva em alternância de vozes, pode muito o leitor em seu processo de leitura dialógico; posto que ler se dá sempre na relação de duas pessoas, não do texto em si como um receptor passivo, porém das diversas e infinitas vozes aí presentes.
Aqui, a metáfora é por mim adotada. E se a palavra azulejo refere-se a uma peça de cerâmica, de fina espessura, normalmente, quadrada, que possui uma das faces vidradas, resultante do cozimento de um revestimento que, em geral, é chamado de esmalte caracterizado pela impermeabilidade e brilho reluzente, podendo ser monocromática ou policromática, lisa ou em relevo, devo dizer que antevemos Francisca das Chagas dos Passos Silva trazendo ao leitor uma arquitetônica de texto acadêmico, desde o prólogo e introdução, já feita painel de cerâmica do ser professora em cozeduras profundas e quentes, fruto de percursos policromáticos.
Originalmente, os temas dos azulejos percorrem elaborações distintas, oscilam entre os relatos de episódios históricos, aplicados em diversas edificações. Aqui, todas as arestas e superfícies da casa da mestra-artesã Silva atestam a fiel temática que, ao resgatar a alfabetização e a formação de professores alfabetizadores no Brasil maranhense de São Luís, perseguiu seus objetivos com dedicação primorosa. Os capítulos da obra em tela, como painel azulejado policromático, traduzem o feito esteticamente, surgido no cotidiano, do lócus ético, e por que não épico, da pesquisa.
Processos formativos e autoformativos sempre brilhantes; e talvez, por vezes dentre eles, alguns mais opacos que outros, porque vívidos; impermeáveis, porque resistentes a todas barreiras em/para busca de sonhos adormecidos em sonos profundos de barro-argila recolhido nas beiras dos rios maranhenses: suas raízes, suas infâncias, sua militância, seus criançamentos
em seu professorar, alfabetizando e formando alfabetizadores.
O azulejo¹ está relacionado à arquitetura, sendo, em grande parte, utilizado como revestimento de superfícies, sejam interiores ou exteriores, ou como item de decoração. Todavia aqui vemos Francisca não como mera azulejista a assentar os azulejos, no interior e exterior da peça que aqui se apresenta (como resultado de sua pesquisa de mestrado). Ela é a mestra produtora do seu artefato.
É ela a artesã que busca fontes teóricas diversas para dar consistência a sua massa, base de sua produção. Bem como aquela que vai à procura de metodologias, técnicas e instrumentos capazes de lhe permitirem a composição das ilustrações em desenho único e singular para as paredes internas e externas de seu edificar acadêmico, resultado de todas as escolhas enunciativas em arte de um projeto de dizer em autoria, cujas vozes dizem daquela proveniente de um território encharcado de poésis. O leitor concordará, pois, enredado pelas linhas das folhas iniciais, poderá certificar-se de tais assertivas tão logo de sua chegada às páginas intituladas Nas trilhas da pesquisa.
De glamorosa natureza, com um vasto repertório de imagens imponentes e características descritivas, a azulejaria é atualmente uma das criações mais originais da cultura lusitana e — para nós no Brasil — da cultura maranhense em que se dá a conhecer, de modo que, por intermédio de um grande livro ilustrado como se fosse um mosaico, de riqueza cromática, revela-nos a história e o pensamento da sociedade de uma determinada época vivida de forma tão intensa e vigorosa que continua esplendorosamente viva!
Podemos, assim, continuar questionando e fazendo conexões: que cenografia descritiva e monumental há em Silva (2018)? Ao ampliarmos a discussão para o cenário da alfabetização discursiva e a correlata intervenção em curso de formação de professores nessa vertente, Francisca, em autoria, inclui todos os elementos que contribuem para estabelecer uma atmosfera e um sentido para a imagética do espetáculo alfabetizador. O cenário, a iluminação e o figurino para todos os componentes de seu monumental painel azulejado, como grande livro a criar visualizações realizada em toda a pesquisa, em suas ações bibliográficas e de campo.
Os leitores junto a ela fazem a criação de cenários virtuais de tais itinerários formativos. Incorpora Silva também a concepção de espaços de exposição do vivido, assumindo muitas vezes em uma curadoria primorosa e numa acessão contemporânea da arte do alfabetizar, fazendo-a em percurso autorreflexivo cooperado, coparticipativo. O leitor, ao folhear esta obra, encontrará nas palavras cenas do realizado no âmbito da performance da pesquisadora, da formadora de professoras e de crianças; sentirá os debates de vozes escritas e transcritas, dos eventos sociais todos em afetamentos alfabetizadores e alfabetizantes contínuos, arriscando novas formas de pensar o espaço de intervenção, quase artísticas, da idiossincrasia do fazer-se alfabetizadora: ser, pensar, estar e agir em discursividades.
Das páginas contidas nas últimas páginas do livro e sua conclusão, depreendemos quão não é mecanicamente que possuímos o espaço estético-ético do qual somos parte constituinte, e sim de que passamos a possuí-lo porque estamos vivos em linguagem interativa constituidora de todos nós. A nossa vida cria o espaço-tela-painel em foco, o nosso corpo-mente-espírito, exprime-o em cenário ilustrativo-descritivo-analítico. Para chegar a essa suprema convicção, tivemos de caminhar, gesticular, curvarmo-nos e erguermo-nos, deitarmo-nos e levantarmo-nos, tivemos de metamorfosearmo-nos. Foi preciso Francisca em alteridade desaguar-se feito rio de suor e lágrimas em direção ao grande oceano da linguagem escrita e dos processos de formação de professores na redescoberta, em tempos tão sombrios, da alfabetização discursiva no Brasil. A liberdade por escolhas enunciativas responsivas e responsáveis torna-se grande experiência, como buscou realizar Francisca das Chagas dos Passos Silva.
Termino com Bakhitn (2019)² o homem ao Espelho:
O mundo está todo diante de mim e embora esteja também atrás de mim, eu sempre me desloco para sua borda, sobre a tangente a ele. Essa dependência do outro no processo da autoconsciência determina [...] a imagem do homem [...] o mundo está todo diante de mim, e o outro está inteiramente nele (BAKHITN, 2019, p. 55).
A pequena experiência, pensada de maneira prática e consumista, aspira a mortificar tudo, a grande experiência tende a reanimar tudo (ver em tudo a incompletude e a liberdade, o milagre e a revelação). Na pequena experiência, há um que conhece (todo o resto é objeto de conhecimento), um único sujeito livre (todo o resto são coisas mortas), um único ser vivo e não fechado (todo o resto é morto e fechado), um único sujeito que fala (todo o resto cala sem resposta). Na grande experiência, tudo é vivo, tudo fala, essa experiência é profunda e essencialmente dialógica (BAKHITN, 2019, p. 65).
Prof.ª Dr.ª Cyntia Graziella Guizelim Simões Girotto
Unesp – Marília – São Paulo
APRESENTAÇÃO
A escrita, uma das mais maravilhosas invenções humanas tem o poder, a magia de nos conduzir por universos e cenários desconhecidos; leva-nos a conhecer experiências praticadas por outros, de socializarmos saberes, adquirirmos conhecimentos, registrarmos ideias, pensamentos; relatarmos os vários e diferentes sentimentos do ser humano; registrarmos, documentarmos, preservarmos a história. A importância e finalidades da escrita são muitas! São tantas que chegam a criar muito incômodo nas vistas pouco lubrificadas daqueles insensíveis pesquisadores de gabinete, que nada suaram ou choraram para verter sua água interna em direção à felicidade de tantas e tantas crianças brasileiras à espera de poder brilhar no universo da cultura escrita, em novos painéis ilustrativos-majestosos-imponentes de/por um