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Em Defesa Do Jejum
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E-book303 páginas4 horas

Em Defesa Do Jejum

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Sobre este e-book

E se tudo o que você acha que sabe sobre jejum for um grande equívoco? E se te mostrassem, baseado em evidências sólidas e rigoroso controle, que esta prática milenar tem benefícios nunca trazidos ao público de forma clara, didática e objetiva? O jejum tem sido praticado por nossa espécie desde os primórdios. Seja por falta de opção, seja por uma busca voluntária por seus benefícios. Porém, ele é alvo constante de críticas de boa parte dos profissionais da saúde. O leitor verá que os assuntos abordados no livro não vêm de opinião ou achismo . Não há uma tentativa de se reinventar sua prática. O livro é apenas uma visita a uma das práticas mais antigas e naturais da espécie. Visita esta que tentar rever nossa relação atual com a abundância de alimentos que parece ser uma das causas motores dos males de saúde, entre eles, a obesidade. Será que combater o jejum, como fazem as diretrizes, é mesmo a melhor opção? Não estaríamos fazendo algo de muito errado ao abandonar um hábito que durante nossa existência mostrou ser promotora de saúde? Leia e descubra! Você vai se surpreender!
IdiomaPortuguês
Data de lançamento13 de dez. de 2021
Em Defesa Do Jejum

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    Em Defesa Do Jejum - Danilo Balu

    Capítulo 1

    UM POUCO MAIS SOBRE

    O QUE É JEJUM

    Ainda no prefácio falei sobre a diferença entre dieta, que é comer, de jejum, que é o não comer. Dieta é presença, é fazer algo. Jejum seria assim a ausência. Jejum é, lembrando, a abstinência voluntária de alimento.

    Antes mesmo de comermos algo, podemos dizer que não comemos algo. Por si só, conceitualmente podemos argumentar que jejum é tão ou mais antigo do que a própria alimentação. Até porque antes de comermos pela primeira vez há o não comer. O jejum assim veio antes, é antigo. Houve tempos longínquos durante os quais não comíamos trigo, laticínios e outros alimentos modernos (ultraprocessados). Então discutimos a segurança desses alimentos tomando como base seu consumo historicamente bem mais recente, do ponto de vista da escala evolutiva.

    É preciso frisar, o não comer sempre esteve na realidade de nossa espécie! E esse conceito é importante porque debateremos sustentado neste pilar fundamental que a análise de risco nos ensina: que o tempo é a variável mais robusta de análise de segurança de algo.

    Há entre praticantes menos iniciados um debate que parece ser sem fim sobre até onde iria um jejum. Comer duas azeitonas quebraria assim o jejum? Uma mordida em uma maçã? Uma gelatina diet?

    Antes de debatermos detalhes sobre o que quebra ou não o jejum é importante contextualizá-lo dentro da nossa espécie.

    O ser humano é um animal onívoro, ou seja, que tem em sua dieta alimentos de origem animal e vegetal. Aliado a isso, vale destacar que a sensação de fome é tão intuitiva e nos desperta reações e sentimentos de sobrevivência tão básicos e primitivos que faz com que o jejum praticado voluntariamente seja quase que irreproduzível 100% na natureza.

    Isso porque ao sentirmos muita fome, nosso corpo nos leva a buscar comida a qualquer custo e, onívoros que somos, faremos uso das alternativas mais variadas que se possa imaginar a fim de consumir alguma fonte energética.

    Estou assim querendo dizer que o jejum com absolutamente zero calorias provavelmente quase nunca existe na natureza entre animais onívoros como os humanos ou entre carniceiros como cães selvagens, por exemplo. Este conceito será útil mais à frente para entendermos melhor alguns limites do que consideramos sendo jejum.

    Mas antes disso se faz necessário entendermos melhor outra coisa: como nosso onivorismo, ou seja, o fato de nossa dieta ser composta por alimentos de origem animal e vegetal, impacta de modo decisivo não somente nossa dieta, mas a intermitência dela.

    Líquido quebra jejum?

    Ou ainda: Liquidum non frangit jejunum.

    Essa é uma famosa frase em latim dita ainda no século XVII pelo cardeal Francisco Maria Brancaccio. Ela proferida teria então finalizado assim um longo debate teológico estabelecendo que, ao menos religiosamente, alimentos líquidos não quebrariam jejum.

    Bom, pode ser que religiosamente não quebrasse à época. Mas hoje sabemos que quebra. Açaí (seja o creme, seja a fruta) quebra jejum. Fruta quebra jejum. Mas estes são alimentos sólidos. Pois bem, suco quebra jejum, leite também quebra, água de coco idem.

    Mas café puro, sem nada, não quebra jejum. Isso vale ainda para os chás. Aquelas infusões (tereré, chimarrão...), ervas, ou mesmo de saquinhos, não quebram jejum quando puros, ou seja, sem absolutamente nada para adoçá-los.

    Porém, os chás comerciais populares (de latinha ou de caixinha), que nutricionalmente nada mais são que um refrigerante sem gás, estes quebram jejum.

    E a água com gás? Não quebra. Sua prima distante, a água tônica, que é totalmente diferente da água com gás, esta sim quebra jejum.

    A frase que abre este assunto foi dita para decidir se chocolate quente quebraria jejum. Chocolate quente é tão gostoso que teria havido uma intervenção papal de Alexandre VII dizendo que ele não mais quebraria jejum. Isso porque havia um debate sobre se eclesiásticos celebrando uma missa após tomar chocolate quente, estariam infringindo em quebra de jejum¹.

    Mas saiba que fisiologicamente e metabolicamente falando chocolate quente (ou frio ou morno) quebra jejum. Mas e refrigerante zero, chá diet e água tônica light quebram jejum? Saiba desde já que farei mais à frente, no capítulo 16, uma defesa da razão de eles não quebrarem jejum e de como mesmo não quebrando vale considerar mantê-los todos fora do seu jejum.

    A frase em latim ainda nos remete a outra reflexão. De como a mudança da sociedade impacta nossa alimentação sem necessariamente mudar nosso DNA. No século XVII, época do ditado da abertura, não havia geladeiras para conservar sucos, então praticamente inexistentes. Não havia refrigerantes ou bebidas industrializadas e o consumo de leite era coisa de gente abonada ou de quem trabalhava no campo.

    Temos que enxergar a dinâmica da sociedade atual com outro olhar de relações. Não custa muito hoje para que mesmo alguém de baixa renda consiga comprar uma garrafa de dois litros de refrigerante que contém mais energia que um prato de comida. Visto assim fica bem claro que líquidos contendo calorias quebram jejum.

    Capítulo 2

    ONIVORISMO versus JEJUM ABSOLUTO

    T oda morte nos diminui. Entretanto, seria a guerra capaz de proporcionar benefícios? Eu acredito que sim. Por mais tristes e inacreditáveis que pareçam ser alguns dos fatos bélicos ocorridos no passado recente, e até em respeito pelas almas daqueles que durante eles pereceram, talvez valha o esforço de tentar aprender um pouco com um dos períodos mais decisivos na história moderna da humanidade: o da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e seus campos de concentração nazista.

    Tenho enorme interesse pessoal no assunto, e um dos aspectos mais tristes é aprender sobre o que aconteceu nos campos de extermínio e de trabalho forçado. Ao serem submetidos a uma fome excruciante, consequência de uma dieta pobre em nutrientes e reduzidíssima em calorias, ficamos sabendo de inúmeros relatos de prisioneiros que utilizavam todo recurso disponível para obter seu alimento¹, ².

    Era comum cozinharem qualquer planta que brotasse, misturavam com cascas de batata, qualquer coisa virava alimento, entre aspas mesmo.

    Não podemos ainda nos esquecer jamais que a ideia de supermercados 24 horas, aplicativos de entrega, fast food e enorme abundância alimentar, onipresente a quem tem um mínimo de renda, é fenômeno e recurso contemporâneo que nem sequer os ricos de poucas décadas atrás possuíam.

    Ou seja, o conceito da abstinência no jejum ser voluntária altera o resultado. A saúde no ser humano é fruto também de seus sentimentos e sensações. Jejuar voluntariamente e não por ter que fazer pesados trabalhos braçais forçados sob a mira de um rifle contam mais do que comer ou não duas azeitonas. O jejum como ferramenta de saúde, falarei adiante, não precisa assim ser de zero calorias, mas precisa com certeza ser voluntário.

    Alguns autores e mesmo clínicas de saúde trabalham com protocolos e abordagens de jejum que me soam um tanto generosas ao permitir de 300 a mesmo 500 calorias por dia em jejuns longos.

    E aqui é importante destacar: dizer que um jejum longo de - digamos – cinco dias, por exemplo, permite até 300 calorias por dia pode gerar mais confusão do que orientação. Isso porque o praticante pode encarar isto como uma meta, uma obrigação, uma lição de casa, e não um teto, um limite, como deveria ser.

    Além disso, ficará mais claro, estabelecer energeticamente em calorias o quanto se pode comer no jejum trata as calorias como iguais, este um dos maiores erros da Nutrição moderna e ortodoxa.

    Do ponto de vista termodinâmico ninguém nega que 100 calorias de alimento, não importando sua origem, se proteína, gordura, ou carboidrato, libere a mesma energia em um teste laboratorial³.

    Então já cabe aqui esclarecer: o conceito energético de calorias foi pela primeira vez publicado e definido somente em 1825 no jornal francês⁴ Journal de l’Industrie, des Sciences et des Beaux-Arts. Entretanto, as leis termodinâmicas que o pesquisador Clément-Desormes propôs à época não se aplicam necessariamente ao organismo humano.

    Independentemente disso, ela continua a ser usada como base das diretrizes para combater ou controlar a obesidade, ainda que em um organismo animal complexo como o nosso os diferentes alimentos tenham efeitos igualmente diversos na saciedade, na taxa de metabolismo, na resposta e atividade cerebral, nos níveis de glicemia e hormônios que regulam e controlam a gordura corporal.

    A limitação da ideia de estabelecer um teto energético no jejum é

    porque isso remete ao enorme equívoco de tratar tudo como uma questão numérica, termodinâmica, aritmética e não do ponto de vista da composição e origem dos alimentos. E isto é um grave erro justamente por nosso organismo não metabolizar os diferentes macronutrientes da mesma maneira⁵.

    Muito mais importante do que quantas calorias é o quê necessariamente se ingere, ou seja, uma caloria não é só uma caloria. É importante assim sabermos de onde e de qual alimento ela vem. Isso porque os efeitos ao nosso organismo de uma caloria vinda do açúcar, apesar de ser uma grandeza termodinâmica equivalente, é muito diferente dos efeitos que tem uma caloria que vem de um bife, por exemplo.

    Os sinais, efeitos e consequências ao organismo são distintos.

    Vale destacar aqui então que caloria é um termo calculado em função da quantidade de energia necessária para elevar a temperatura de um determinado volume de água. Só que nosso organismo não usa as calorias para isso. Ele a usa para sobreviver, produzir enzimas, sintetizar nutrientes, se movimentar etc.

    Lâmpadas é que são classificadas em função da energia que consomem, não em função de sua luminosidade. Algumas são mais eficientes que outras, como as lâmpadas frias modernas, muito mais econômicas que as antigas incandescentes. Com o organismo acontece algo parecido, a quantidade de energia que diferentes pessoas utilizam para fazer tarefas distintas também é variável.

    Não podemos assim jamais acreditar na precisão de quem acha que o controle de peso é algo puramente matemático, como se fosse uma esteira na academia, se não conseguimos sequer calcular com confiança inúmeras outras variáveis.

    Um conceito muito interessante definido pelo pesquisador Robert Lustig que ilustra essa questão da quantidade calórica que quebra o jejum é: os alimentos podem ser isocalóricos, mas não necessariamente isometabólicos.

    Isto é, você pode comer 100 calorias de glicose por meio de uma batata, ou 100 calorias de açúcar e elas serão metabolizadas diferentemente pelo organismo com efeitos distintos no corpo. A energia é a mesma, as consequências metabólicas não⁶, ⁷, ⁸.

    Aqueles que gostam de assumir o corpo humano como uma máquina esquecem que os carros possuem eficiência e consumo diferentes e que nem todo combustível em um carro híbrido que aceita álcool e gasolina resulta no mesmo trabalho, desempenho e potência. Por que no ser humano, muito mais complexo, seria?

    Então é novamente muito importante que não nos prendamos ao conceito puramente energético na definição do jejum uma vez que limitar um teto de, por exemplo, 300 calorias para determinar se um indivíduo está ou não ainda em jejum, desconsidera a enorme diferença em função da origem dessas calorias. 300 calorias vindo de um sorvete geram efeitos metabólicos distintos de 300 calorias de atum fresco.

    Para que o leitor entenda, eu arrisco dizer que o impacto biológico desse pequeno pedaço de atum está muito mais próximo ao jejum do que do consumo do sorvete (mesmo equivalentes em energia). E a magnitude das consequências é outro ponto fundamental. Ela tem relação com estresse fisiológico e hormese, tema de nosso próximo capítulo.

    Capítulo 3

    HORMESE & ESTRESSE

    Aquilo que não me mata, só me fortalece. (Friedrich Nietzsche)

    Outra conhecida frase que poderia abrir este capítulo vem do latim: Dosis sola facit venenum. Ou ainda: só a dose faz o veneno. Esta é uma frase atribuída a Paracelso (1493-1541). É ainda um jeito um tanto coloquial de expressar o mecanismo de dose-resposta dos remédios e fármacos.

    Um jeito mais técnico seria ainda explicar que os organismos respondem (consequência) a diferentes doses (estímulos) de um agente estressor. Se expressarmos as reações aos estímulos em um gráfico teremos um determinado comportamento desta curva (de resposta).

    Tipos comuns das diferentes curvas dose-resposta.

    Os efeitos em consequência da dose do estressor (ou agente) em questão são chamados de efeitos horméticos. Esses efeitos podem ser tanto estimulatórios como inibitórios em função da dose.

    O termo hormese em si não é novo. Teria sido datado primeiramente em 1943 por Southam e Ehrlich no periódico Phytopathology¹, ², ³, ⁴, com base na palavra grega hormo, que significa excitar. Mas haveria ainda registros da utilização de seus conceitos mesmo antes disso, ainda em 1888 por parte do alemão Hugo Schulz⁵.

    E como tudo isso funcionaria?

    O toxicologista observou e descreveu que pequenas doses de um veneno estimulavam o crescimento de uma cepa de fermento, enquanto doses maiores o prejudicavam. Podemos assim afirmar para efeitos práticos que:

    HORMESE é quando um estímulo estressor (seja uma substância ou uma carga) quando em pequena dose ou em dose gerenciável acaba por ser benéfica ao organismo ao qual ele é submetido.

    De agressora, a dose por ser baixa passa a fortalecer o organismo em questão. O que não mata o organismo, assim o fortalece. Esse mecanismo é assim dose-dependente, igual a um remédio que, se exagerado, vira veneno ao próprio doente.

    O jejum como efeito hormético estaria assim longe de ser único! O exercício físico prescrito de forma adequada também o é! Mesmo o consumo de álcool, em baixas doses, também⁶, ⁷. Analisadas as populações que consomem doses baixas de álcool presenciamos uma curva do estilo J. Nela temos que os indivíduos totalmente abstêmios, ou seja, que não bebem absolutamente nada de álcool, possuem valores de saúde piores que aqueles que consomem um pouco de álcool⁸, ⁹.

    Tipos comuns das diferentes curvas dose-resposta. Em uma das curvas mais aceitas relacionadas ao consumo de álcool e indicadores de saúde temos que homens toleram mais e metabolizam melhor o álcool que as mulheres (uma das razões e explicações mais aceitas é seu peso médio mais elevado). Temos ainda que beber um pouco de álcool seria melhor do que ser totalmente abstêmio, revelando dessa forma o caráter hormético do álcool que, ultrapassado um determinado valor, infelizmente baixo é bom não se empolgar, passaria a prejudicar a saúde de quem o consome.

    A relação disto com o jejum é que sob a ótica da hormese poderíamos especular que a restrição calórica momentânea, pontual, intermitente, possibilitaria adaptações, reações, consequências saudáveis e bem-vindas a um organismo onívoro como o nosso.

    Se os episódios de estresse fisiológico que o jejum causa prolongam a expectativa de vida de animais em laboratório, por que não especular que em nós humanos o resultado não seja também mais saúde e mesmo maior expectativa de vida?¹⁰, ¹¹, ¹², ¹³, ¹⁴, ¹⁵, ¹⁶

    Indo para o outro lado, o da oferta crônica e frequente de alimento, comer regularmente como pedem as diretrizes atuais, de três em três horas, ou de cinco a sete vezes por dia, seria ruim à espécie. A razão: isso retira do ser humano o agente estressor da fome que agiu na espécie por literalmente milhões de anos, quando a abundância alimentar não era a norma.

    O alimento frequente em nossas vidas faria assim vivermos menos que a plenitude de nosso potencial biológico. O jejum voluntário seria então o restabelecimento da norma sob a qual nossa espécie evoluiu biologicamente. É uma normalização da dose em quantidade e frequência de nossa dieta.

    Resumidamente podemos dizer que jejum intermitente, até porque sempre teremos que comer algo para sobreviver, é mais do que hormese, ele é a norma. E a ausência do estresse nos prejudica, nos fragiliza. Isso porque tal qual um astronauta que visita o espaço por meses seguidos, ao retornar ele volta com seu esqueleto fragilizado. Porque a retirada de agentes estressores essenciais, no caso a gravidade agredindo e estimulando seus ossos, limita o ótimo funcionamento do organismo. Sem eles, os estressores, a gravidade no caso de nosso astronauta, somos mais frágeis.

    É difícil saber com precisão os motivos de nosso comportamento de querer sempre comer frequentemente, a verdade é que é delicioso viver sob o conforto. E pela absoluta maior parte de nossa existência no planeta, nossa espécie viveu com escassez não só de alimentos, mas também material.

    Provavelmente a modernidade, o avanço tecnológico, a pujança econômica, tudo aliado ao enorme prazer que o conforto e descanso nos dão, nos fez concluir que a retirada total ou quase que completa do estresse fosse melhor a nós como organismo e espécie.

    Talvez usando um paralelo com máquinas que é sempre bom fazer com enorme prudência, os teóricos deduziram que ao retirar o estresse, protegeríamos melhor o equipamento. Mas a limitação e fragilidade deste raciocínio é apontada brilhantemente por Nassim Taleb que nos explica em seu livro Antifrágil: as máquinas são prejudicadas por agentes estressores de baixo impacto (fadiga do material), os organismos são prejudicados pela ausência de agentes estressores de baixo impacto (hormese).

    Visto sob essa ótica o jejum como hormese é apenas o restabelecimento da normalidade.

    O leitor ainda está um pouco inseguro sobre como algo nocivo pode nos fazer bem em pequenas doses, em cargas gerenciáveis pelo nosso organismo? Então voltemos uma vez mais à 2ª Guerra Mundial como um dos maiores experimentos indesejados pelo qual a humanidade passou.

    Nem o maior defensor do jejum irá negar que precisamos em algum momento comer algo. Não existe alguém que viva sempre em jejum. Retiramos energia dos alimentos, não da luz como fazem os vegetais. Existem jejuns longos e curtos, mas algo teremos que comer para sobreviver. Mas mesmo a mim, que sempre tive enorme interesse no assunto 2a Guerra Mundial, foi enorme surpresa saber que os prisioneiros dos campos de concentração ficavam menos doentes na primeira fase de restrição calórica, para só então adoecerem¹⁶.

    Como podemos afirmar que isso foi efeito de um jejum não-voluntário? Em um estudo para compreender melhor essa questão o autor testou experimentalmente em ratos e descobriu que nas fases iniciais de fome induzida pelo jejum os animais conseguiam suportar altas doses de quimioterapia sem efeitos colaterais visíveis.

    Ou seja, o jejum aos prisioneiros, ainda que momentaneamente, foi durante sua chegada inicial ao campo de trabalho forçado um promotor de saúde mesmo quando submetido a um estresse nocivo.

    Ainda no campo da radiação outro levantamento com radiação ionizante chegou ao que podemos chamar de hormese radioativa. Ela é a ideia de que a radiação em baixas doses provoca uma reação hormética com efeitos protetores¹⁷ e positivos. Isso talvez explique por que médicos radiologistas britânicos tenham maior longevidade que a média populacional daquele país¹⁸. Seria sua exposição à radiação a explicação? Pode ser que sim, como alguns pesquisadores apostam.

    Esses achados, é importante insistir, estão longe de serem únicos. Outro levantamento encontrou haver menor risco para câncer de pulmão em trabalhadores de usinas nucleares, trabalhadores de estaleiros, pacientes de fluoroscopia e habitantes de locais com maior radiação¹⁹. É a hormese mais uma vez atuando.

    Por isso que no livro por vezes uso aspas quando falo benéfico e nocivo. Porque como definir acrilamida como nociva se um estudo chegou que pessoas com alta exposição a ela na Suécia tiveram 40% menos chance de ter câncer do cólon?²⁰ É a dose quem define se algo é veneno.

    E munidos dessas informações podemos fazer então outra defesa do jejum. No início deste capítulo especulei como a sociedade com alimento muito mais abundante deduziu que mais comida (em termos de refeições regulares) seria superior. Este foi nosso engano. Porque esse aumento do número de refeições traz mais danos do que benefícios. Parece haver uma janela mágica (ou janelas mágicas como trataremos mais tarde) de jejum. Um aumento exagerado na carga do estresse e a pessoa simplesmente morre de fome. Mas a diminuição do estresse também vem a um custo de perda do estímulo positivo.

    Sim, a sua nutricionista ao receitar várias refeições ao dia jogaria contra a saúde de você que está lendo. Porque comer regularmente é assim uma negação da hormese, o jejum como um agente estressor de uma privação intermitente.

    Que fique claro, pois, que o jejum como prática alimentar não tem relação apenas com restringir calorias, mas relação com sinalização e uma imposição voluntária de um estresse, tal qual alguém que vai à academia agredir um pouco seu aparelho locomotor, ou seja, de forma gerenciável e assimilável ao organismo, seus próprios músculos.

    O jejum é hormese, que é quando uma baixa dose de algo nocivo passa a ser benéfico ao

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