Devaneios de um Tolo
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Sobre este e-book
Dando voz a essas divagações, que muitos de nós, talvez, já tenham internamente vivenciado, o poeta canta uma canção em tom nostálgico que se apresenta revestida de uma atualidade que fala diretamente ao coração e ao ouvido do leitor.
A aparente rigidez de seus decassílabos se desfaz e se funde em harmonia, com a desenvoltura da fala cotidiana, levemente rebuscada aqui ou acolá, gerando um agradável padrão sonoro, estranhamente encantatório, que se mantém naturalmente compreensível.
Em alguns momentos, sua lira revive o melodioso hendeca de 4 pés, tão primorosamente utilizado por Gonçalves Dias, e Castro Alves, hoje esquecido pela grande maioria dos poetas, sendo encontrado apenas no cantar dos repentistas nordestinos, em seus extasiantes galopes.
No único alexandrino, que adorna seus Devaneios, optou pelo tetra anapéstico com sua cadência de marcha, rigorosa e solene, como o fez Manuel Bandeira, ao se reconciliar com o soneto, em seu afamado "Ouro Preto".
Nestes Devaneios, uma camada profunda do Ser, em alguns momentos, toma forma e fala-lhe, cantando o invisível sublime e o ordinário concreto, e revela o que, talvez, já saibamos, mas que necessitamos de que o outro nos diga para que possamos finalmente aceitar como real.
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Devaneios de um Tolo - Jader C. I. Barbosa
Poemas
O Apodeca
É
tão
sem
vida
o verso
de agora.
Sem luz!
Sem força!
De precária
harmonia,
o seu som
é ruído…
Mesmo tentando,
e já ritmando,
pouca beleza
nos comunica.
Alguns, sem saber,
conseguem cantar,
estando restritos
em tanta ilusão.
Confesso que sinto
a tal melodia,
perdida nos tempos,
falazes, modernos.
Mas se o bardo persiste
o caminho, ao final,
deslumbrante, o cantar
lhe oferece algo mais.
Percebendo ter logrado,
algo que tantos ignoram,
vislumbra um novo horizonte.
O som começa a sentir!
E agora o caminho se estreita,
já poucos conseguem segui-lo,
o Bardo persiste, ascendendo,
buscando um perfeito expressar.
Um murmúrio se escuta de longe,
a destreza começa a surgir,
mas lhe falta outros passos pequenos
para a voz retumbante soltar.
Do verso, o tom sublime conquistado,
ao Bardo que ascendeu na estreita via,
exige-se um requinte aprimorado,
que, enfim, conceda ao som toda harmonia.
Já não se apetecendo da brancura,
nas obras discursivas consagrada,
buscando ao verso dar a envergadura,
que em todo grande canto é desejada.
De Olavo Brás Martins segue o ditame,
que, ao fim de uma sentença, o som tangido
retorne à mente, e gere um tal liame,
que o peito sinta e pulse comovido.
Fazendo ressurgir toda a grandeza,
que juvenis arroubos deturparam,
julgando como olímpica beleza
a falsa liberdade que adotaram.
Se o próprio pensamento é prisioneiro
da mente que o gerou, à luz brotando
das bases do falar, se é passageiro
num mar de formas prévias navegando.
Podendo dar ao leme a direção
que o seu desejo mais profundo prega,
mas, quando, louco, nega a embarcação
sucumbe às águas fundas que navega.
Assim, reconhecendo um simples Bardo,
que tange a sacra lira reverente,
ciente que o cantar implica o fardo
de emoldurar a luz de um Nume ingente,
produzirá, nos sons que a musa canta,
do ouvido e pensamento um himeneu,
co’a força divinal que, então, garanta
de novo erguer o verso ao apogeu…
A Canção dos Senhores do Norte
Nas terras do Norte, de tudo distante,
de um frio cortante que a carne retalha,
senhores bravios, na guerra afamados,
retornam prostrados de longa batalha.
De faces curvadas, os homens caminham,
os que antes detinham orgulho e vigor,
perdido o combate lhes cinge a vergonha
e à dor acompanha um silente clamor.
Na frente de todos, com passo sofrido,
caminha ferido um guerreiro voraz,
senhor soberano daquelas paragens,
reflete as imagens da luta mordaz.
Os homens caminham, com fracas passadas,
de faces curvadas, não param pra ver
as damas que acorrem, com tristes semblantes,
chorando, hesitantes, a lhes receber.
Algumas procuram… seus homens não vendo,
se calam sabendo que a morte os beijou,
a velha donzela de face velada
naquela jornada do lar os privou.
Não mais voltarão a subir nos fiordes,
nem junto dos Lordes sentar-se e beber;
Não vão festejar do verão nos solstícios
os belos auspícios que vem promover.
Não vão abraçar os seus filhos queridos,
nem vê-los, crescidos, a glória assumir;
não mais contarão seus triunfos honrosos
aos fracos idosos que aguardam partir…
Aos beijos lascivos de amadas esposas,
às quentes alcovas não mais tornarão;
não mais ouvirão as cantigas solenes
às chamas perenes do grande salão.
Seguindo o cortejo de infausta aparência,
sem mais resistência, sem nada expressar,
ao grande salão, que os antigos legaram,
os homens chegaram com tépido andar.
Sentaram-se às mesas co’ olhar moribundo,
num gesto profundo de quem sucumbiu,
os rostos refletem a dor que persiste
na cena mais triste que ali já se viu.
As damas se apressam trazendo-lhes vinho,
visando os espinhos do peito aplacar,
persiste o silêncio, ninguém nada fala,
e a brasa que estala preenche o lugar.
Sozinho num canto, abalado, um soldado,