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Unasp no Tempo: histórias, tradições e transformações
Unasp no Tempo: histórias, tradições e transformações
Unasp no Tempo: histórias, tradições e transformações
E-book235 páginas2 horas

Unasp no Tempo: histórias, tradições e transformações

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Sobre este e-book

O Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp) possui uma história centenária, rica em experiências e variada em tópicos. A vivência de quem estudou ou estuda no Unasp é marcada por pilares que vão de uma filosofia de ensino integral até a cultura gastronômica. É dentro dessa perspectiva que o livro "Unasp no tempo" explora o legado do campus São Paulo para o ensino superior adventista, assim como suas transformações e histórias.
IdiomaPortuguês
EditoraUnaspress
Data de lançamento13 de ago. de 2021
ISBN9786589185550
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    Unasp no Tempo - Unaspress

    Uma nação ou um povo é a expressão de sua cultura, e estudar a cultura de um povo ou de uma nação é compreender os porquês de suas conquistas e também de suas derrotas.

    Anísio Teixeira

    O Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), seguindo a orientação deixada por Deus aos pioneiros do movimento adventista, nasceu com propósitos e objetivos bem definidos. Estes o aproximam da razão de existir da educação adventista – a qual não difere da própria denominação. Compreender quais são esses marcos filosóficos educacionais e como eles permeiam a vida e a história da instituição é uma maneira de manter ativa a memória institucional, mas, ao mesmo tempo, olhar para frente com a certeza de que é possível continuar vivenciando a essência de valores estruturantes.

    A Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) nasceu como fruto do movimento milerita do século 19, cuja mensagem era o iminente retorno de Jesus, marcado para acontecer em 22 de outubro de 1844. Tal convicção, resultado de estudos profundos nas profecias apocalípticas contidas na Bíblia Sagrada, movimentou centenas de grupos de origem protestante estadunidense a se prepararem para esse grande acontecimento revivacionista. Embora o fato esperado não tenha ocorrido, contribuiu para que grupos religiosos continuassem a estudar a Bíblia Sagrada e compreendessem o que Deus tinha a lhes dizer. Entre esses grupos religiosos, uma minoria de não mais de vinte pessoas iniciou o que se pode entender como o embrião do movimento adventista do sétimo dia.¹ Elas eram lideradas por José Bates, Tiago White, Ellen Harmon e Josué Himes.

    O objetivo central do adventismo não se estrutura em valores educacionais de sua rede de ensino e nem nos conceitos de saúde vivenciados em seu vasto sistema de promoção de vida saudável ou hospitalar. O movimento adventista se originou e mantém seu foco no propósito de evangelização e preparo do maior número de pessoas para o breve retorno de Jesus à Terra, algo associado não só às suas crenças, mas à identidade. Adventistas, afinal, são aqueles que aguardam o advento de Cristo (MAXWELL, 1982, p. 149).

    A educação e a mensagem de saúde são, contudo, apoios para o evangelismo. Eles auxiliam a compreensão do plano de Deus para cada pessoa. Assim, pode-se melhorar a qualidade de vida e aumentar o desenvolvimento cognitivo, capazes de auxiliar nas tomadas de decisão que construirão o futuro de cada indivíduo.

    Os primeiros passos para o estabelecimento de um sistema educacional ocorreram no início da década de 1870, quando Ellen e Tiago White, casal de pioneiros adventistas, demonstraram grande preocupação com a necessidade de se ter um grupo de pastores eficientes e bem-preparados, pois a grande parte das forças de trabalho no campo missionário era formada por autodidatas (WHITE, 2015). Paralelamente à necessidade de preparo de líderes para atuarem no propósito da evangelização, os filhos de novos membros da denominação precisavam receber uma educação consoante ao pensamento religioso e filosófico defendido por seus pais.

    Figura 1 — Tiago White e Ellen G. White em 1864.

    Fonte: cortesia do Ellen G. White Estate

    Os dirigentes da igreja decidiram, então, começar um plano de educação que contemplasse as necessidades dos filhos da membresia adulta e, ao mesmo tempo, qualificasse jovens para o serviço missionário. Isso pode ser visto na fala de Tiago White, líder da igreja naquela época que, ao se preocupar com a necessidade de líderes, expressa: Devemos ter uma escola denominacional onde o objetivo deva ser, do modo mais prático e direto, qualificar jovens homens e mulheres para atuarem em algum local, de forma pública na causa de Deus (WHITE, 1872, p. 60). Por isso, em 3 de junho de 1872, foi inaugurada a primeira escola adventista. Localizada em Battle Creek, no estado norte-americano do Michigan, a instituição possuía dois objetivos: ensinar as crianças e preparar líderes. Este foi um passo importante para o estabelecimento do que hoje é chamado de Rede Educacional Adventista (STENCEL, 2004).

    Se a prioridade era a evangelização, os líderes preparados para esse fim deveriam ser vocacionados não só para alcançar o território norte-americano, mas sim para seguir o chamado apostólico de espalhar o evangelho em todo o mundo, em conformidade com o texto bíblico encontrado em Mateus 24:14. Desde então, assim como em outras denominações protestantes norte-americanas, a igreja adventista investiu no preparo e envio de jovens líderes de diversas profissões, como pastores, professores, médicos e enfermeiros que serviram em todos os continentes com o objetivo de pregar o evangelho e, ao mesmo tempo, estabelecer escolas e hospitais que pudessem ajudar na formação de uma liderança local. Em pouco tempo, esse grupo nativo assumiu a missão em seu próprio território.

    No Brasil, o primeiro grupo de pastores adventistas norte-americanos aportou entre os anos 1890 e 1895 (VIEIRA, 1995). Eles foram enviados após descobrir-se que em solo brasileiro havia guardadores do sábado desejosos de conhecer mais sobre as crenças adventistas. Em fevereiro de 1895, o pastor Frederico H. Westphal realizou o primeiro batismo de novos conversos ao adventismo, na cidade de Piracicaba, SP, iniciando formalmente o que seria a história da igreja adventista no Brasil (GREENLEAF, 2011).

    Ao tomarem conhecimento da variedade linguística que existia no Brasil devido à expansão da imigração europeia, os líderes da IASD na América do Norte – especialmente os que eram responsáveis pela Comissão de Missões Estrangeiras – viam na educação uma forte ferramenta para o proselitismo religioso. Sobre esse pensamento, Floyd Greenleaf (2011) comenta que os líderes da denominação acreditavam que, ao expor as crianças à educação adventista, o acesso aos pais seria desobstruído. Tratava-se de uma sugestão clara de que a educação adventista poderia consistir numa poderosa ferramenta evangelística (GREENLEAF, 2011, p. 58). No entanto, outros fatores foram levados em conta para abertura de escolas, pois também considerava-se que a vantagem da educação era a conservação da juventude na igreja e a preparação de obreiros (GREENLEAF, 2011, p. 56).

    Os primeiros vinte anos (1895-1915) da educação adventista no Brasil foram marcados por tentativas de evangelizar através da educação. Escolas paroquiais iniciaram as atividades junto às igrejas recém-construídas, seguindo as práticas adotadas por outras denominações (VIEIRA, 2011). Esse período é identificado como embrionário para o ensino adventista no Brasil. Ele foi marcado pelos esforços de pioneiros, que viam a escola como uma forma dinâmica e sólida de expandir a IASD no país (AZEVEDO, 2004).

    Além das escolas paroquiais, o movimento adventista no Brasil se preocupava com a abertura de escolas para a formação de líderes. Dois projetos embrionários aconteceram: o primeiro em Gaspar Alto, SC (1897-1903) e o segundo em Taquari, RS (1903-1909). Devido à escassez de recursos e difícil acesso aos locais escolhidos para a implantação das instituições, nenhuma prosperou, fechando as portas poucos anos após iniciarem suas atividades. Passados cinco anos dessas intenções, um novo centro de formação de líderes foi estabelecido, dessa vez na cidade de São Paulo. Em funcionamento desde 1915, ele viria a ser o centro de formação de líderes da denominação por mais de 100 anos.² O nome dado inicialmente foi Seminário Adventista, mas, em 1923, passou a denominar-se Colégio Adventista; mais tarde, em 1941, tornou-se Colégio Adventista Brasileiro. Em 1961, o nome foi mudado para Instituto Adventista de Ensino. Atualmente, é conhecido como Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp) e composto por três campi e cerca de 20 mil alunos matriculados.

    Figura 2 — Estudantes do Colégio Adventista Brasileiro em 1915.

    Fonte: Acervo do Centro de Memória / Unasp campus São Paulo

    Mas o que faz uma instituição centenária se manter sólida, resiliente ao tempo e às mudanças culturais, cumprindo o seu papel na formação de líderes para a denominação adventista e preparando jovens para o mercado de trabalho? A resposta a essa pergunta está no fato de que o Unasp, como instituição de ensino básico e superior, mantém suas bases filosóficas e valores educacionais alicerçados nos princípios fundantes da denominação adventista.

    Os valores espirituais e a visão adventista de educação

    A continuidade de um sistema educacional confessional só é possível através da construção de uma identidade. Ela tece uma filosofia educacional própria e resignatária aos propósitos da denominação religiosa que o criou. No caso do adventismo, esses propósitos são dois: a formação de líderes missionários e a educação de crianças e jovens moldada e permeada pelos conceitos denominacionais.

    Apesar de haverem existido vários educadores adventistas à frente da construção do sistema educacional, as bases dos pressupostos filosóficos que fundamentaram a ideologia educacional confessional adventista foram construídas por Ellen G. White. Ela é reconhecida pela Igreja Adventista do Sétimo Dia como

    líder do pensamento profético da educação adventista desde seu início até a sua morte em 1915 [...]. É impossível compreender a educação adventista, do ponto de vista atual ou histórico, sem compreender o papel e o impacto de Ellen White sobre seu desenvolvimento. Ela não foi apenas a figura central em seu desenvolvimento, mas a única líder adventista que esteve em constante destaque desde os seus primórdios até o fim de seu período formativo (por volta de 1910) (DOUGLASS, 2001, p. 344).

    Knight (1983, p. 30) enfatiza que, sob a guia de Ellen White, os adventistas do sétimo dia sempre estiveram comprometidos com a qualidade da educação. Na visão de um dos anteriores presidentes da denominação adventista, W. A. Spicer (1937), a base de todo o sistema educacional adventista está nos escritos deixados por Ellen G. White. Ele escreve:

    Como desenvolvemos esse sistema de educação cristã que é distintivo em todo o mundo e que produz tanto fruto em educar obreiros para o serviço evangélico? Vocês sabem como fomos levados a isso. Conhecem os anos em que esse dom do Espírito de Profecia nos advertiu e exortou, e traçou e assinalou o caminho. Todos esses livros produzidos por Ellen White enfatizam a verdadeira ideia educacional (SPICER, 1937, p. 79).

    Não há como identificar quais são os pressupostos filosóficos da instituição adventista sem relacioná-los ao que a mentora e pioneira da denominação deixou escrito sobre o que acreditava ser uma educação redentora. Para ela, a obra da educação e da redenção são uma, pois, na educação, como na redenção, ‘ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo’ (I Co 3:11) (WHITE, 2007, p. 30).

    O ponto de partida da construção filosófica da educação adventista, tendo como estrutura filosófica os escritos de White, é aceitar que sua base é bíblico-cristã. No livro Educação³, escrito por ela em 1903, a base conceitual da educação adventista é identificada logo nas primeiras páginas: implementar um processo educativo restaurador.

    De acordo com seu pensamento, para compreender o significado e o objetivo da educação na visão bíblico-cristã é necessário considerar os seguintes aspectos:

    1. A natureza do homem;

    2. O propósito de Deus ao criá-lo;

    3. A mudança na condição humana devido ao conhecimento do mal;

    4. O plano de Deus para alcançar seu propósito na educação da humanidade.

    Para Knight (2012), esses quatro itens ajudam a compreender a essência da filosofia de educação adventista. No primeiro ponto, Ellen G. White enfatiza que o ser humano foi criado à imagem de Deus tanto física e mental quanto espiritual (KNIGHT, 2012, p. 25). Já após refletir sobre o propósito de Deus ao criar o homem, White acredita que ele é de desenvolvimento contínuo para que [a pessoa] pudesse sempre refletir ‘mais plenamente a glória do Criador’ (KNIGHT, 2012, p. 25). Para que isso fosse possível, o Criador dotou suas criaturas com aptidões que possam ser amplamente desenvolvidas. Em terceiro lugar, houve uma ruptura no processo de desenvolvimento do ser humano do projeto original de Deus após o conhecimento do mal pelos seres humanos. Naquele momento, a semelhança do homem com o caráter divino ficou obscurecida: a capacidade física do homem e sua capacidade mental diminuiu; ofuscou-se-lhe a visão espiritual (KNIGHT, 2012, p. 25).

    Para White, contudo, o último item da lista expressa totalmente o grande propósito da educação. Ela observa que, apesar de sua rebelião e afastamento do plano original do Criador,

    o ser humano não foi deixado sem esperança. Por infinito amor e misericórdia, foi concebido o plano de salvação, concedendo-se um tempo de graça. Restaurar no homem a imagem de seu Autor, levá-lo de novo à perfeição em que fora criado, promover o desenvolvimento do corpo, espírito e alma para que se pudesse realizar o propósito divino de sua criação – tal deveria ser a obra da redenção. Este é o objetivo da educação, o grande objetivo da vida (WHITE, 2007, p. 15-16).

    É a partir desse objetivo final que o processo filosófico da educação adventista é construído. Stencel (2004, p. 17) afirma que a educação sem uma filosofia bem fundamentada é inútil e direcionada a um alvo errado, ocultando as questões mais importantes da vida. Os educadores devem ter objetivos primários para alcançar seus objetivos finais. Assim, entendemos claramente que White estava especialmente preocupada com a educação como um meio para um fim (CADWALLADER, 1974).

    Nesse ponto, o pensamento whiteano é bem definido. Sua filosofia educacional está nitidamente relacionada à religião. Muitos de seus princípios

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