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Psicologia do esporte, desenvolvimento humano e tecnologias: o que e como estudar
Psicologia do esporte, desenvolvimento humano e tecnologias: o que e como estudar
Psicologia do esporte, desenvolvimento humano e tecnologias: o que e como estudar
E-book292 páginas3 horas

Psicologia do esporte, desenvolvimento humano e tecnologias: o que e como estudar

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Sobre este e-book

Depois de muito pensar e procurar, entendi que era chegada a hora de apresentar algo novo, diferente, arrojado e desafiador na Psicologia do Esporte. Há muito tempo se ter lido e encontrado bons livros didáticos ou de consultas, que tratam das questões básicas de Psicologia do Esporte, quais sejam: os atletas, os treinadores, a torcida, as famílias, os árbitros, as relações interpessoais, a motivação e a liderança, a ansiedade e a agressão esportivas, o medo e a vergonha, o estresse e o abandono.
A variedade de textos ficava por conta da literatura de base e da maneira como se encara cada modalidade e a temporada em que cada equipe descrita se encontrava. Mas minha curiosidade e atenção estavam focadas em outros campos, em outros detalhes.
Com a consciência da temporalidade e do espaço que ocupo, neste século XXI, diante da coordenação de um excelente programa de pós-graduação em Desenvolvimento Humano e Tecnologias (no campus de Rio Claro, Unesp) e na dianteira de um dos grupos de pesquisas mais agressivos da área (Lepespe - Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte) arrisquei em focar num aspecto que tumultua o homem (em especial os atletas) da pós-modernidade: as novas mídias.
Afinal, do que estou falando? Bem, se uma torcida ou um dirigente ou uma crise familiar é suficiente para criar uma crise emocional em nossos atletas, como pode a Psicologia do Esporte negligenciar a imersão de nossos jovens atletas (dos mais inexperientes ao de mais alto rendimento) no mundo virtual? Que mundo será este? E como este mundo coexiste junto aos treinamentos, competições, compromissos esportivos?
Inova, ainda, ao apresentar formas de pesquisar, neste mundo virtual, com a seriedade que cabe ao investigador responsável e cônscio de seu dever de propagar a ciência e avançar para terrenos inusitados, com procedimentos igualmente inovadores.
Está aí, algo que faltava à Psicologia do Esporte, no Brasil, mas que já é um fato em países como Itália, Israel, França, Portugal, Bélgica e Alemanha. Um avanço ao que, de mais novo, existe no academicismo, sem se desvincular do tradicional.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento6 de mar. de 2023
ISBN9788583340546
Psicologia do esporte, desenvolvimento humano e tecnologias: o que e como estudar

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    Psicologia do esporte, desenvolvimento humano e tecnologias - Afonso Antonio Machado

    Capítulo 1

    PSICOLOGIA DO ESPORTE, DESENVOLVIMENTO HUMANO E TECNOLOGIAS:

    NOVOS CAMINHOS A TRILHAR

    Afonso Antonio Machado

    Debra Frances Campbell

    Desde início do programa de pós-graduação em Desenvolvimento Humano e Tecnologias, do Instituto de Biociências de Rio Claro, na Unesp, ouvimos que nosso Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte não mais se debruçaria em problemáticas e indagações da área a que está ligado. No entanto, nunca, mais do que agora, estudamos a Psicologia do Esporte.

    Temos nos aprofundado à exaustão em temas que atormentam estudiosos, pesquisadores, atletas, técnicos, comissões esportivas e iniciantes da área, sem arredar o pé da Psicologia e sua aplicação no esporte ou no esporte em seu viés psicológico, um segundo sequer, apenas com outros olhares na forma de pesquisar. Talvez resida aí um princípio a ser explorado e divulgado, à comunidade acadêmica e aos estudiosos do tema, de modo a facilitar novos avanços e ampliar o número de investigadores.

    Hoje, nosso laboratório mantém seus objetivos bem balizados e suas fontes de investigações bem centradas, de modo a possibilitar muitas pesquisas e muitas divulgações, alinhadas com o que há de mais recente em um ambiente virtual: espaço este, ocupado pelos atletas, pelos alunos das diversas graduações, mas ainda distante dos técnicos, professores, pesquisadores e, infelizmente, dos especialistas em Psicologia do Esporte.

    A virtualidade: que espaço é este?

    Não temos como fugir de avanços tecnológicos em plena atividade. Das grandes descobertas às invenções e disponibilizações em redes, somos tomados por um conjunto de elementos que facilitam nossas vidas, em seus vários ambientes. É assim que a tecnologia e as redes sociais se tornam rotinas no nosso cotidiano, cumprindo seu objetivo de facilitadora e excitadora de nossa comunicação, relações pessoais, sociais, intelectuais, amorosas, entre outras, acontecem nesses ambientes, tornando os indivíduos de certa maneira distantes do contato físico, da conversa pessoal (AMARAL, 2010).

    Diante de um contexto tão diversificado, acreditamos na importância de utilizarmos a pesquisa netnográfica devido a esse aumento das relações pessoais nos ambientes, seja ela virtual ou real. A cibercultura faz sua aparição nos anos de 1970, com a crescente informatização e modificação da sociedade, por meio da evolução e criação tecnológicas e as novas culturas que vão sendo inseridas nas redes, numa velocidade sem precedente na história das comunicações e do próprio homem (WOLTON, 2014).

    A Netnografia ou Etnografia Virtual, então, é o estudo em ambientes virtuais que possibilita, dentre outros, os estudos nas redes sociais e sobre a rede, obviamente. Um dos aspectos que possibilitam fazer a diferença da etnografia clássica, é que na netnografia não há a presença física do pesquisador. Entretanto, aí começa uma grande peleja, pois segundo Castells (2013), o lugar físico e todas as suas relações sociais não ficam fora do campo de estudo, ao contrário, são inseparáveis no contexto geral que conecta todas as relações.

    Inclusive esta peleja fica mais intensa quando estudiosos da netnografia apontam que não há diferença entre o real e o virtual, em especial, porque ambos os mundos se misturam e o virtual é tão real quanto o próprio real. E mais: o real é tão virtual quanto o próprio virtual, no ponto de Kraut (2014), Fragoso; Recuero; Amaral (2012) e Kozinets (2011). Estabelecido o campo de batalha, temos que virtual e real podem ser objeto de estudo da netnografia e assim todos crescem e ampliam as linhas do conhecimento.

    Pela contemporaneidade dos trabalhos que investigam as redes sociais e a internet, há um processo de aprendizado muito intenso no decorrer da pesquisa; a explosão e utilização das redes sociais cresce exponencialmente e tanto os usuários quanto os pesquisadores são contumazes frequentadores desta rede, ou para negociar, especular ou contatar pessoas ou grupos distintos. Porém, para Fragoso; Recuero; Amaral (2012), ainda são poucos os que se aventuram a pesquisar no ambiente virtual, ou por desconhecerem as facilidades e limites ou por temerem pela fragilidade metodológica (KOZINETS, 2011). Nossa percepção diz que pelos dois motivos: desconhecerem e temerem o uso da rede, em pesquisas acadêmicas.

    Historicamente, temos que o termo Netnografia ou Etnografia Virtual surge pela primeira vez no trabalho de Bishop; Wilson; Keil (1995) e ganha relevo com o estudo realizado, em 2011, por Kozinets com comportamentos de consumo de comunidades e culturas na internet. Em 2000, Hine adota o termo Etnografia Virtual. Tais referências são amplamente tratadas e analisadas em Amaral (2010).

    Percebemos, em nossa pesquisa, que a etnografia e a netnografia se confundem no contexto da pesquisa, mas na etnografia o indivíduo está inserido no ambiente investigativo reunindo informações por meio da observação, do envolvimento com o contexto investigado. Por outro lado, na netnografia o pesquisador fará um estudo das práticas comunicacionais pelo computador, analisará os dados coletados pela internet, fará suas comunicações com seus investigados e sobre seus objetivos por meio das redes sociais, num encontro virtual, num ambiente virtual. Portanto a netnografia pode ser considerada um método que amplia seu leque epistemológico estudando as comunicações e a cibercultura (MARTINS, 2013; KRAUT, 2014).

    O ambiente virtual é também real

    O que passamos a ter é um ambiente virtual com suas redes sociais possibilitando uma interação entre as pessoas, que favorece um variado meio de contatos e mensagens, bate-papos e exposição de situações pessoais, permitindo uma coleta de dados sincrônica e realista. É um ambiente onde qualquer pessoa consegue se moldar e construir seu mundo (CRESWELL; CLARK, 2012). Notamos que as novas tecnologias estão cada vez mais a favor das pesquisas, sejam elas quais forem, podendo auxiliar em vários momentos, facilitando com maior agilidade, assertividade e dimensão. Não podemos negar que as redes sociais proporcionam um maior contato, acessibilidade, organização, dinamismo e variedade com os questionamentos, dados e as coletas de respostas, com um menor gasto de tempo.

    É perceptível que o campo das pesquisas científicas acorda para uma tendência, um novo paradigma metodológico. Um modelo que atende integralmente as necessidades dos pesquisadores (AMARAL, 2010). Não acreditamos que exista um modelo único para coleta de dados, tão pouco um único ambiente, bem como para a análise dos problemas propostos; temos modelos adequados ao problema (KRAUT, 2014), que variam de mundos reais e virtuais sem comprometer o avanço paradigmático e atentar para os reais desejos de investigação pretendidos.

    O método netnográfico, em virtude de distanciar investigador do investigado (não-presencial) tem entre suas vantagens o fato de propiciar uma maior aplicabilidade em uma amostra grande e de regiões distintas, em curto espaço de tempo; por ser uma forma de experimentação do uso de uma ferramenta tecnológica e por ser eficaz e eficiente para mapear o perfil dos usuários de uma plataforma de sociabilidade virtual, sempre garantindo o anonimato nas respostas, passa a favorecer a obtenção de respostas que atendem a uma maior veracidade nos questionamentos. Ele dificulta a contaminação do pesquisador diante do investigado, porque o questionamento será virtual, tanto quanto a resposta (KRAUT, 2014).

    Para Kraut (2014) e Wolton (2013), os problemas são os mesmo em pesquisas realizadas no virtual e real: problemas e limitações existem em todos os ambientes. Não teremos condições de isolar todas as alternadas intervenientes que poderão macular uma coleta, uma vez que não se dispõe de meios eficientes e eficazes para a constatação do inadequado, em função disso é que percebemos a necessidade de se lançar mão de mais recursos, mais tecnologias, buscando cercar o objeto de estudo com mais precisão, ao ponto de diminuir as limitações e vulnerabilidades possíveis.

    Para além de questões apenas metodológicas, temos as questões de cultura e costumes: Fragoso; Recuero; Amaral (2012) também apontam que a etnografia no mundo virtual cresce devido ao fato dos seres humanos estarem se apossando da tecnologia para mudar o mundo da escrita e para manifestar suas crenças, o que ficou espelhado e exposto na recente onda de protestos que tomou conta do Brasil nos meses de junho a outubro de 2013, com pontuais organizações por meio das redes sociais de comunicação. Para Martins (2013), uma ferramenta que facilita o contato humano e o conhecimento de determinado grupamento social também pode analisar o uso de marcadores verbais e não-verbais na internet, a fim de decifrar, compreender e perpetuar as práticas culturais mediadas por ela, ainda que diante da fugacidade de sua exposição.

    Ainda analisando os estudos de Martins (2013), que nos permite olhar para o efêmero, para o aqui e o agora, numa temporalidade fugaz (outra situação que intimida o pesquisador tradicional), ao escolhermos a internet como meio de ferramenta de pesquisa e acesso aos nossos entrevistados tomamos ciência de que tal ambiente é pródigo em situações nas quais as pessoas estão imersas em suas realidades virtuais (KOZINETS, 2011), com suas identidades no ciberespaço, além de seu cibercorpo, visto que, segundo Creswell; Clark (2012), o que caracteriza prioritariamente o espaço de virtualidades das redes é a habilidade para simular ambientes, dentro dos quais os humanos possam existir e interagir.

    É necessário que saibamos serem estes ambientes locais específicos que só funcionam como tal pelo agenciamento do visitante, cujo acesso se dá por meio de interfaces que permitem entrar para navegar, coletando e depositando informação. Sabemos que este ciberespaço está consubstanciado por linguagens hipermidiáticas (linguagens mistas, híbridas, feitas de misturas de textos linhas, sinais, gráficos, tabelas, imagens, sons, ruídos, músicas e vídeos) e disponibilizada em postagens, denominadas de arquiteturas de conteúdo organizado.

    Ainda, segundo Amaral (2010), os programas interativos oferecem ao navegador a possibilidade de mudar de identidade e de papel numa multiplicidade de pontos de vista, tal como os jogos interativos, sendo formas do internauta elaborar pensamentos que o levem a vivenciar identidades geradas no ciberespaço, proporcionando também sensações de segurança, versatilidade e impessoalidade, conforme suas interações e intervenções na rede, possibilitando ser reconhecido ou garantindo total anonimato.

    Verificamos, em nossos estudos que numa tentativa de minimizar os possíveis inconvenientes de uma pesquisa via internet, tais como, a dúvida se o pesquisador está trabalhando com pessoas reais ou perfis denominados fakes, a saída mais adequada é traçar estratégias que nos garantam a fidedignidade dos dados coletados. Para tanto, nos baseamos num artigo de Kozinets (2011), localizado em On Netnography Initial Reflections On Consumer Research Investigations Of Cyberculture, denominado desonestidade e falsa representação, em tradução livre, em que cita o fato da vigilância, bem como maior atenção e criteriosidade na coleta dados e suas interpretações, que ocorrem com cruzamentos de informações e uma base de dados coletados em outras redes sociais, sobre a pessoa em questão, que se fazem necessários para comprovar a veracidade necessária para o dado da pesquisa.

    A esta estratégia sugerida denominamos de a triangulação de dados ou de coleta daqueles indivíduos escolhidos para fazer parte da pesquisa, uma vez que, ao acessarmos as páginas pessoais destes indivíduos. Tal triangulação nos permite perceber constante interação com seus pares em situações reais do cotidiano, coisas tais como comentários sobre encontros nos mais variados locais, comunicados gerais para seus colegas de rede e, às vezes, fotos e postagens mais detalhadas sobre eventos ou situações, que nos permitam saber da fidedignidade os dados coletados, nos questionamentos. Seria como garimpar os dados.

    Outra estratégia adotada e recomendada por Kozinets (2011), para garantir a confiabilidade dos dados, foi a utilização da ferramenta de comunicação síncrona MSN, em sua interface de videochamada ou do Facebook, com vídeo. Criando um contraponto entre esta metodologia e a tradicional, Kozinets (2011) indaga: que a certeza que se tem da veracidade das entrevistas face a face, no campo real? Os participantes desta modalidade de estratégia investigativa não poderiam estar mentindo, ao responder uma questão? Acreditamos que, do ponto de vista do tradicionalismo, esteja estabelecido que a entrevista presencial seja mais fidedigna; entretanto, tais detalhes já estão superados pela Antropologia e pela Netnografia.

    E a Psicologia do Esporte?

    Dentro da atual conjuntura e com os apontamentos citados, entendemos que qualquer campo da ciência possa vir a ser estudado pela netnografia ou usando-a como instrumento. A Psicologia do Esporte segue este caminho e, já como questão de uma realidade firmada, desde 2009 indagamos na área e iniciamos nossas investidas na netnografia, para dar conta de desenvolver pesquisas que nos apontassem para nortes mais seguros e avançados. Por inúmeras vezes nos valemos da netnografia para sondagens de grandes amostragens e de distantes localidades. Foi-se o tempo em que se imprimiam questionários ou gravavam-se depoimentos; contemporaneamente lançamos mãos de nossas ferramentas da informática, para agilizar e vencer barreiras de tempo, distância, fusos horários e demais limitações físicas, que no ciberespaço não têm significado.

    As limitações de respostas sobre pressão ou de maneira ansiosa já não cabem neste ciberespaço, em especial, porque o investigado autorizou o contato e a coleta dos dados e está distanciado do entrevistador, sem contato pessoal e sem possibilidade de ser mostrar ansioso ou aflito neste ou naquele olhar ou momento da questão. São, portanto, quebradas as barreiras que limitam a exposição ou a declaração, favorecendo uma coleta eficiente e adequada para o projeto em andamento.

    Além disso, pelo fato do questionário ou observação estar no ciberespaço, pode ocorrer em qualquer momento do dia, em qualquer lugar onde haja rede disponível para o funcionamento do aparelho que, conectado, conduzirá o processo, de maneira adequada e os dados serão armazenados com adequação e certeza do sigilo, tanto quanto (ou mais) do que no mundo real. Em especial quando se fala em questionário, visto que a resposta é remetida diretamente para o banco de respostas, sem identificação.

    Pensando (e agindo) desta forma, nosso grupo de jovens pesquisadores iniciou seus projetos de mestrado e doutorado no PPG-Dehut, na Unesp, primando pelo uso das ferramentas do ciberespaço. Entender, estudar, analisar a psicologia aplicada ao esporte ou o esporte à luz da psicologia, neste ciberespaço os fez conhecedores e usuários da netnografia e com ela, no mundo acadêmico do qual cada um faz parte, avançaram e venceram seus problemas metodológicos.

    Bancas examinadoras tradicionais e inovadoras perpassaram pelos nossos trabalhos, sugerindo, reavaliando, propondo. E como bons investigadores aceitamos todos os desafios e desenvolvemos nossos trabalhos e destrinchamos nossos projetos, transformando-os em dissertações e teses, como seguem apresentados nos capítulos a seguir. Isso nos permite dizer que se trata de um livro de Psicologia do Esporte, sim, visto tratar das mazelas psicológicas a que estão sujeitos nossos atletas, técnicos, preparadores e, inclusive, nossos especialistas em Psicologia do Esporte. Mas trata-se, também, de um livro de metodologia da pesquisa, em especial da netnografia, adotada na Psicologia do Esporte.

    Em função disto, dividimos cada capítulo em partes exatamente iguais:

    A) fundamento teórico (em que encontramos estudos bibliográficos específicos da Psicologia do Esporte),

    B) como se pesquisou o tema (em que apontamos o caminho netnográfico seguido, fundamentando-o com adequação),

    C) considerações finais para algumas questões iniciais (por não reproduzirmos a conclusão completa da tese ou dissertação, visto o fato delas serem públicas e de fácil localização) e

    D) as referências bibliográficas inovadoras (que apontam para aquilo que fez diferença na pesquisa em questão).

    Tal trajeto, acreditamos, seja útil ao pesquisador experiente, ao iniciante, ao aluno de graduação e pós-graduação, aos especialistas no Esporte e em Psicologia do Esporte e aos que buscam conhecer mais da netnografia. Buscamos avançar e propor que se lance ao novo e que conheça esta ferramenta elementar no mundo virtual. No entanto, somos sabedores de que os limites são reais: estarão nossos pesquisadores e estudiosos preparados para romper com o tradicional e se debruçar sobre o inovador? Estaremos dispostos a entender que o virtual também é real?

    Referências

    AMARAL, A. Etnografia e pesquisa em cibercultura: possibilidades e limitações. Revista da USP, n.86, jun/jul/ago, p.122-135, 2010.

    BISHOP, C.M.; WILSON, R.A.; KEIL, F.C. Pattern Recognition and Feed-forward Networks. Cambridge: MIT Press, 1995. p.629.

    CASTELLS, M. A galáxia da internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

    CRESWELL, J.W.; CLARK, V.L.P. Pesquisa de métodos mistos. Porto Alegre: Pensa, 2012.

    FRAGOSO, S.; RECUERO, R.; AMARAL, A. Métodos de pesquisa para internet. Porto Alegre: Sulina, 2012.

    KOZINETS, R.V. On netnography: initial reflection on consumers research investigations of cibercultura. Advances in Consumer Research, v.25, eds. Joseph W. Alba e J. Wesley Hutchinson, Provo, UT: Association for Consumer Research, p.366-371, 1998. Disponível em [http://www.acrwebsite.org/volumes/display.asp?id=8180]. Acessado em: 03 jul. 2011.

    KRAUT, R. Internet paradox: a social technology that reduces social involvement and psychological well-being. American Psychologist, n.53, p.1011-31, 2014.

    MARTINS, J.S. Sociologia da fotografia e da imagem. São Paulo: Contexto, 2013.

    WOLTON, D. Internet e depois? Porto Alegre: Sulina, 2014.

    Capítulo 2

    A VULNERABILIDADE NO ESPORTE: A EXPOSIÇÃO ÀS NOVAS MÍDIAS

    Flávio Rebustini

    Esta tese é a convergência de análise de dois temas que carecem de estudos no contexto esportivo: a vulnerabilidade e as redes sociais. Como fator primário, a vulnerabilidade. Os estudos no esporte não se voltam para o debate e análise da vulnerabilidade no esporte, são pesquisados fatores que estão incluídos no conceito de vulnerabilidade, mas não se dá o tratamento específico à matéria, pois ser vulnerável não é bem-vindo no esporte de competição, demonstra fraquezas e, em muitos casos, pode trazer significativos prejuízos à imagem dos atletas, constantemente associada à superação e ao heroísmo.

    O segundo ponto da convergência está na alta utilização das redes sociais por atletas. Desta forma, a pesquisa tem como objetivo analisar a vulnerabilidade decorrente da repercussão do uso do Twitter no esporte de alto rendimento, adotando-se uma leitura cross-cultural. Para tanto foram analisadas 20 reportagens publicadas na internet, em quatro idiomas – português, inglês, espanhol e francês –, sendo cinco para cada idioma, obtidas por meio do buscador Google, sem limite temporal. Adota-se a pesquisa qualitativa cross-cultural com a aplicação da análise de conteúdo em ambiente virtual.

    FUNDAMENTO TEÓRICO

    Conforme já apontado acima, o conteúdo das reportagens foi categorizado e hierarquizado, resultando em 12 categorias: papel das redes sociais (PRS), inter-relações, provocações e confrontos, exposição do outro e ofensas, linguagem, fakes e piratas, incentivo, imagem e marca, esclarecimento e negação, punições e responsabilização, restrição e, finalmente orientação. As categorias PRS e inter-relações são primárias e posicionam-se no topo da hierarquia, delas originam-se as demais categorias.

    Na inter-relação centra-se o mote das redes sociais. Um segundo conjunto de categorias é composto por: imagem e marca, provocações e exposição, exposição ao outro e ofensas, esclarecimento e negação, esta última podendo ser resultante das três anteriores com impacto direto da linguagem, do incentivo e dos fakes e piratas. No caso da imagem e marca, o Twitter pode tanto auxiliar no desenvolvimento e valorização, como pode maculá-la, dependendo da qualidade das interações e das mensagens postadas.

    Esse bloco de categorias desencadeia um terceiro bloco composto pelas categorias punições e responsabilização, orientação e restrições. As dinâmicas detectadas e analisadas na tese dão conta de que há efetivamente pontos que conduzem os atletas à vulnerabilidade quando participam do Twitter, não havendo qualquer tipo de mitigação por serem atletas de alto nível, pelo contrário, ser uma pessoa famosa possibilita uma maior intensidade das interferências e repercussão.

    Tanto é fato que o terceiro bloco de categorias emerge para mitigar os possíveis danos, mas também tem o condão de sancionar penas às atitudes que as entidades gestoras do esporte entendem como prejudiciais ao negócio. Deve-se notar que as categorias não são estáticas, e nem poderíamos esperar isso em um ambiente tão fugaz. Com exceção das duas primeiras categorias que versam essencialmente sobre questões conceituais, todas as demais categorias interagem.

    De forma conclusiva, a hipótese aventada inicialmente foi comprovada na tese. Os atletas ou qualquer pessoa usuária do Twitter e de outras redes sociais estão expostos e são vulneráveis. De todo o trabalho realizado surgem as palavras-chaves: vulnerabilidade; redes sociais; Twitter; esporte; desenvolvimento humano e tecnologias; Psicologia do Esporte.

    Vulnerabilidade e o esporte

    Este discurso sobre a superação, sobre o heroísmo, sobre a passagem ou utilização do esporte como meio de ascensão social, de remoção do indivíduo de uma zona de vulnerabilidade, é fato?

    Se as vulnerabilidades podem ser impeditivas para o rendimento de alto nível, por que elas não são evidenciadas? Significa dizer que as porções humanas dos atletas de alto rendimento são suprimidas para patamares que não atrapalhem o desempenho nas competições. Será que é possível tal grau de abstração e distanciamento? Quando ele (a) não estiver mais no esporte de alta competição, como fica sua vida mundana? Para ilustrar podemos utilizar a entrevista da ex-número um do tênis Justine Henin, quando questionada sobre qual era o maior medo, ela responde "Ser abandonada. Tenho medo de ficar sozinha,

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