A Reconfiguração dos Sujeitos da EJA no Campo: O Caso da EMEFM Mariano Ferreira de Nazareth
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Sobre este e-book
Nesse contexto, esta obra se propôs a analisar as causas do fenômeno de reconfiguração que vem ocorrendo na EJA, dispondo como referência os sujeitos cada vez mais jovens oriundos do campo que vêm acessando tal modalidade na EMEFM Mariano Ferreira de Nazareth, em Domingos Martins (ES).
A metodologia proposta foi a revisão de literatura, a análise das interfaces entre EJA, Educação do Campo e Política Educativa, utilizando a coleta de dados relacionados às matrículas na EJA na escola em questão. Foi utilizada como ferramenta, a aplicação de questionários aos alunos e à equipe pedagógica, além de entrevistas com um sujeito de cada município atendido a partir de um perfil traçado, que contemplou fatores como: idade, gênero, ocupação profissional pessoal, para que fosse possível contar a trajetória desses sujeitos até chegarem à modalidade estudada.
Os resultados que se delinearam no percurso desta pesquisa confirmam a hipótese de que a reconfiguração pela qual a EJA na EMEFM Mariano Ferreira de Nazareth está passando é resultado de um processo de migração a que estão sendo submetidos os jovens do campo, cujas trajetórias de vidas escolares estão sendo impactadas por políticas públicas educacionais pautadas em avaliações externas e em resultados numéricos, descomprometidas com o direito à educação.
Este estudo traz o alerta da necessidade de compreensão sobre a identidade da EJA nessa nova dinâmica em que ela está inserida, que envolve questões de correção de fluxo, certificação, avaliações externas, índices, fechamento de turmas, turnos e escolas e de que forma tudo isso tem influenciado a trajetória de vida escolar dos sujeitos jovens do campo.
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A Reconfiguração dos Sujeitos da EJA no Campo - Fernanda Rodrigues Neves Reinholtz
Sumário
CAPA
1
A ESCOLHA DO CAMINHO
1.1 O INÍCIO DA CAMINHADA: CONVERSANDO COM OS QUE JÁ FIZERAM O PERCURSO
1.2 A RELAÇÃO ENTRE A EDUCAÇÃO E O PROCESSODE CONSTITUIÇÃO DE DOMINGOS MARTINS (ES)
1.3 A CAMINHADA DA EJA EM DOMINGOS MARTINS (ES) E A EMEFM MARIANO FERREIRA DE NAZARETH
1.4 TRAJETÓRIA DO ESTUDO
2
O PLURALISMO COMO DIÁLOGO ENTRE ABORDAGENS TEÓRICAS DISTINTAS
2.1 SOBRE AS JUVENTUDES: DESAFIOS A UMA COMPREENSÃO NÃO HOMOGENEIZADORA
2.1.1 Os jovens sujeitos camponeses
2.1.2 Juventude camponesa, educação e trabalho
2.1.3 Políticas públicas voltadas para as juventudes
2.2 POLÍTICAS EDUCATIVAS E PRÁTICAS POLÍTICAS NEOLIBERAIS NA EDUCAÇÃO
2.2.1 Políticas públicas educacionais para a juventudedo campo: o caso do Espírito Santo
2.2.2 Políticas Públicas voltadas para Educação do Campoe Educação de Jovens e Adultos em Domingos Martins (ES)
3
O QUE DIZEM OS SUJEITOS DA EJA
3.1 OUVINDO OS JOVENS: EU VIM PARA A EJA PORQUE...
3.2 OUVINDO OS DIRETORES:EU INCENTIVO IR PARA EJA POR...
3.3 OUVINDO OS PROFESSORES: E AGORA? O QUE FAÇO COM ESSES MENINOS?
4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
SOBRE A AUTORA
CONTRACAPA
capa.jpgA reconfiguração dos sujeitos
da EJA no campo
o caso da EMEFM Mariano Ferreira de Nazareth
Editora Appris Ltda.
1.ª Edição - Copyright© 2023 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98. Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores. Foi realizado o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nos 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010.
Catalogação na Fonte
Elaborado por: Josefina A. S. Guedes
Bibliotecária CRB 9/870
Livro de acordo com a normalização técnica da ABNT
Editora e Livraria Appris Ltda.
Av. Manoel Ribas, 2265 – Mercês
Curitiba/PR – CEP: 80810-002
Tel. (41) 3156 - 4731
www.editoraappris.com.br
Printed in Brazil
Impresso no Brasil
Fernanda Rodrigues Neves Reinholtz
A reconfiguração dos sujeitos
da EJA no campo
o caso da EMEFM Mariano Ferreira de Nazareth
Comitê Científico da Coleção Educação & Culturas
AO LEITOR
A Coleção Educação e Culturas organiza-se a partir de temas diversos, para fomentar debates sobre problemáticas do nosso tempo, algumas das quais são pautadas nas agendas de várias linhas e grupos de pesquisas e áreas de conhecimento. A diversidade de abordagens teóricas e metodológicas nesse cenário provoca o leitor a estabelecer diálogos que articulam interdisciplinaridade e interculturalidade na sua interface com a escola. Objetiva-se fomentar interlocuções com as análises do binômio educação e cultura – não somente a educação escolar, mas essa em especial. A ênfase recai no estudo colaborativo de práticas educativas interculturais, com esforço para superar dicotomias entre escolar e não escolar, entre aprender e ensinar. São experiências e vivências que emergem de contextos sociais diversos e seus territórios, como: indígenas, quilombolas, pomeranos, imigrantes italianos, assentados de reforma agrária, agricultores familiares de modo geral, entre outros. Ganham relevância conhecimentos produzidos pelos Povos e Comunidades Tradicionais, (Decreto 6.040/2007) cujas bases epistemológicas problematizam produção acadêmica acumulada pela Ciência e reproduzida pelo projeto de Estado burguês, por vias e formas há muito criticadas pelos intelectuais da cultura, entre eles o professorado. Assim acreditamos contribuir para a construção coletiva de projetos alternativos de educação, que promovam diversidade, autonomia e justiça social.
Erineu Foerste
Gerda Margit Schütz-Foerste
Aos meus pais, que possibilitaram a minha chegada até aqui.
Ao meu esposo, Dionisio, e ao meu filho, Henrique,
que me motivam a ir mais adiante.
AGRADECIMENTOS
A Deus, autor e consumador da minha fé, que escolheu Gerson e Maria para serem meus pais e me conduzirem por essa vida. São eles que, com amor, incentivaram-me a ser quem eu sou e, que em vida, vibraram com cada uma das minhas conquistas. Minha eterna gratidão!
À professora doutora Edna Castro de Oliveira, minha orientadora, que me ensinou valores que vão muito além de conhecimentos acadêmicos, como humildade, simplicidade, paciência, tolerância, empatia e capacidade de escuta. Com certeza sua companhia me faz um ser humano melhor a cada dia. Não tenho palavras para agradecer-lhe por tudo!
Às professoras doutoras Eliane Andrade Ribeiro e Eliza Bartolozzi Ferreira, pela leitura atenta do trabalho e pelas ricas contribuições para esta obra.
Ao professor doutor Erineu Foerste, pela acolhida carinhosa, pelas conversas e pelo convite para compor esta coleção.
Aos colegas da turma 31 do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade Federal do Espírito Santo, por cada momento de partilha de conhecimento e companheirismo. Um agradecimento especial à Eucineia, ao Adriano, ao Eduardo e à Thalyta, por compartilhar comigo toda essa trajetória.
Ao grupo de pesquisa Educação de Jovens e Adultos e Educação Profissional na cidade e campo
e aos companheiros do Neja, obrigada pelo carinho e por cada momento de troca em torno deste estudo e de outros temas.
Aos colegas de trabalho da EEEFM Teófilo Paulino, da EMEFM Mariano Ferreira de Nazareth e da Secedu, pelo apoio neste percurso.
À minha família e aos meus amigos, que souberam compreender o meu recolhimento.
Ao meu esposo Dionísio, meu companheiro e apoiador, que soube dividir comigo esse período tão cheio de ausências. Obrigada pelo amor, pela segurança e pela compreensão. Essa conquista é nossa!
Por fim, aos meus meninos e meninas da EJA que me fazem refletir sobre o meu ofício a todo instante!
PREFÁCIO
O tema que ocupa a abordagem desta obra, fruto de uma dissertação de mestrado, volta-se, como o seu título enuncia, para a Educação de Jovens e Adultos (EJA), com foco nos jovens que vivem e produzem sua vida no campo. A pesquisa se ocupou em identificar e analisar as formas de indução de políticas públicas que acabam por promover a migração de jovens camponeses para as salas de aula da EJA e convida leitoras e leitores interessados a conhecer o jogo de interesses que produzem esse fenômeno.
Esses sujeitos constituem um dos segmentos da juventude, a quem tem sido dado pouca visibilidade nas pesquisas, segundo alguns estudiosos deste campo, no Brasil. Por essa razão, este estudo é relevante para a compreensão dos modos como esses jovens acessam a escola, permanecem nela ou são levados a abandoná-la, o que caracteriza a expulsão da escola, como defendia Paulo Freire, ou mesmo a exclusão na escola, como nos diria Alceu Ferraro, tendo em vista os mecanismos que as políticas neoliberais têm acionado para reduzir e modificar as funções do Estado. Este tem deixado cada vez mais de prover e garantir direitos básicos de interesses da população para assumir o papel de subserviência aos interesses do mercado e do capital financeiro.
É nessa lógica de mudanças no papel do Estado, compreendido em sua assunção neoliberal, que o tema da reconfiguração dos sujeitos camponeses que acessam a EJA ganha sentido e nos chama a conhecer os jovens camponeses, matriculados na EMEFM Mariano Ferreira de Nazareth, em Domingos Martins (ES), que são afetados.
A pesquisa desenvolvida por Fernanda Reinholtz, no Programa de Pós- Graduação em Educação do Centro de Educação da Ufes, em 2019, empreende um esforço teórico e empírico na busca de compreensão das causas da reconfiguração que passa a ocorrer no perfil dos sujeitos da EJA — jovens oriundos do campo — em suas buscas por matrículas, ou levados a buscar matrícula na única escola que ofertava a modalidade, em Domingos Martins (ES). Foi tomada pela afluência de jovens camponeses de 15 anos cada vez em maior número, buscando a escola, que a pesquisadora assumiu essa investigação. Para tal, a escuta dos sujeitos envolvidos foi fundamental, principalmente nos entrecruzamentos que faz das vozes de estudantes, gestores e professores.
O estudo se insere no campo da política educacional numa perspectiva pluralista, com um olhar que entrelaça a temática da juventude, da Educação do Campo e da EJA e das políticas públicas. Esse entrelaçamento constitui as lentes que tornam este trabalho original, abrindo possibilidades para novas questões de pesquisa.
Em tempos que se evidenciam de forma perversa os ataques à educação pública em nível nacional, em nível local temos testemunhado o enxugamento da oferta da educação básica, principalmente nas escolas do campo. Esse fato chama a atenção para a especificidade do olhar desta pesquisa, que trata dos jovens que, no percurso regular de escolarização, migraram de dentro do Ensino Regular para a EJA, diferentemente dos sujeitos da EJA, que tiveram seus percursos de escolarização interrompidos.
Essa foi a inquietação que mobilizou Fernanda a embarcar nesta pesquisa. No percurso, a migração dos jovens provocou sua busca de compreensão da concepção de juventude. Com base nos estudos da sociologia da juventude, ela problematiza a visão determinista da juventude, considerando-a na sua diversidade quanto aos aspectos sociais, econômicos e culturais. Incorpora assim a ideia de juventude(s) no plural, entendida em sua multiplicidade intergeracional e intrageracional, abandonando a ideia de um grupo uniforme e assumindo o entendimento das relações sociais tendo em vista os diversos contextos
(p. 54 deste livro).
A migração dos jovens do ensino fundamental regular para a EJA indica que essa realidade resulta da desobrigação do estado e dos municípios diante das políticas de elevação de índices, de negação do direito à educação, do descompromisso dos municípios de ofertarem a EJA, fenômeno descrito como algo que não é novo na história do município em foco. Em função da inexistência de escolas próximas de suas comunidades, fruto de políticas de nucleamento e fechamentos das unidades, os jovens são obrigados a migrar, o que passa a compor os tensionamentos e a permanente luta em prol do direito à educação, no campo e na cidade.
A denúncia que encerra esta pesquisa é tensionada pelo anúncio da permanente luta dos movimentos sociais do campo e da cidade para que a justiça e a dignidade humana prevaleçam, e a educação como um direito humano seja protegido.
Fica o convite para a leitura do que a autora chama a conhecer desse instigante fenômeno que provoca a revisão da própria concepção de EJA tal como afirmada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) 9394/96.
Vitória, abril de 2022
Edna Castro de Oliveira¹
Acima de tudo, que não seja negado a ninguém, nem no campo nem na cidade, o direito ao acesso e à permanência na escola, mas com qualidade e justiça social.
(Fernanda R. Neves Reinholtz)
¹ Possui graduação em Pedagogia pela Universidade Federal do Espírito