Relações Raciais e Escolarização de Famílias Camponesas
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Relações Raciais e Escolarização de Famílias Camponesas - Alexandra Resende Campos
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
Às seis famílias participantes da pesquisa, as quais permitiram que eu adentrasse intimamente em suas vidas, confiando-me, inclusive, seus segredos e anseios.
AGRADECIMENTOS
A todos os moradores do povoado de Goiabeiras que contribuíram para o desenvolvimento deste trabalho, principalmente aos meus informantes (D. Mariinha, Cidinha, Totonho, D. Ana, D. Maria, Elaine).
À D. Bilinha (in memoriam), pela carinhosa receptividade, que fez com que ela não hesitasse em me oferecer abrigo em sua casa. À sua filha Preta e ao seu marido Geraldo, pela simpatia e atenção.
À diretora, professoras, auxiliares educacionais e bibliotecária da Escola Municipal de Goiabeiras, sempre dispostas a ajudar nas pesquisas desenvolvidas na instituição e no povoado.
À diretora e às professoras entrevistadas da Escola Estadual Evandro Ávila, do distrito do Rio das Mortes, que demonstraram boa vontade em prestar informações sobre as famílias pesquisadas e interesse por este estudo.
Aos Professores Dr. Écio Antônio Portes, Dr. Osmar Fávero e às Professoreas Dr.ª Lea Pinheiro Paixão, Drª Iolanda de Oliveira e Drª Maria Lúcia Rodrigues Müller pelos valorosos ensinamentos, contribuições e observações importantes acerca do desenvolvimento deste trabalho.
APRESENTAÇÃO
O objetivo desta pesquisa consistiu em realizar um estudo comparativo sobre as práticas de escolarização empreendidas por algumas famílias negras, mestiças e brancas que habitam o povoado de Goiabeiras, São João del-Rei, estado de Minas Gerais (MG) e que possuíam filhos em idade escolar.
O tema me despertou particularmente a atenção quando participei como bolsista de iniciação científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) na pesquisa As Práticas de Escolarização de Famílias Rurais com Filhos em Idade Escolar: o Caso do Povoado de Goiabeiras, São João del-Rei, MG
, realizada no período 2005-2008, sob a orientação do Prof. Dr. Écio Antônio Portes¹.
A referida pesquisa consistiu de três momentos distintos, porém complementares. No primeiro, construímos o perfil socioeconômico-cultural de 44 famílias que possuíam filhos matriculados na Escola Municipal de Goiabeiras. No segundo momento, traçamos as práticas de escolarização² de 15 famílias. Na oportunidade, eu e Valéria de Oliveira Santos³ permanecemos por dois meses no povoado para conviver direta e diariamente com as famílias pesquisadas. A última etapa da pesquisa teve como foco principal a escola, trabalhando tanto com a equipe pedagógica como com os discentes, analisando as expectativas e resultados obtidos pelos alunos.
Do contato estabelecido com os moradores de Goiabeiras, verificamos uma quantidade significativa de famílias negras residentes no interior do povoado. Inclusive, era notória, nas festas religiosas e escolares, a presença de grande número de crianças negras. Com o desenrolar da pesquisa, observamos que a concentração de famílias negras no local não era somente mais uma característica do povoado e, sim, um dado merecedor de ser investigado, uma vez que as condições materiais nesses lares pareciam mais precárias que nos demais, de famílias brancas. Em algumas dessas casas não havia filtro para água, fogão a gás, geladeira, televisão a cores, dentre outros equipamentos básicos que garantem condições mínimas de saúde e bem-estar.
Ademais, em relatório referente à terceira parte da pesquisa, Portes et al. (2008) verificaram disparidades entre o rendimento escolar de alunos negros e brancos. De acordo com declaração de professoras da Escola Municipal de Goiabeiras sobre o desempenho de suas turmas, o maior número de alunos infrequentes, pouco atentos, que não executam as tarefas escolares concentrava-se entre as crianças negras.
Assim, verificamos que Goiabeiras – um povoado rural aparentemente homogêneo, no qual os moradores parecem compartilhar as mesmas redes de relações socioculturais e onde a situação ocupacional entre os membros das famílias não se distingue significativamente – apresentava características distintas segundo o pertencimento racial. Como explicar sociologicamente o fato de que os alunos que se encontravam em defasagem escolar eram maioria entre as crianças negras?
Foi a partir desse questionamento que, em 2009, desenvolvi um denso trabalho de pesquisa no Povoado de Goiabeiras, culminando na presente obra.
A autora
PREFÁCIO
Os trabalhos do sociólogo Pierre Bourdieu demonstraram que havia relações entre rendimento escolar e origem social dos alunos. Utilizando categorias que construiu para analisar a dinâmica social, os estudos realizados por Bourdieu e outros autores que se valeram da sua teoria, mostraram que tem mais condições de sucesso na escola os alunos que vêm de famílias que detém o que ele chama de capital cultural. A partir de Bourdieu, a compreensão das desigualdades no desempenho escolar das crianças impõe o conhecimento da cultura e do modo como ela socializa (educa) seus filhos.
Bourdieu estudou a realidade francesa, mas conhecemos inúmeros estudos que evidenciam que no Brasil como em outros países tais relações se confirmam. Os jovens de camadas populares revelam mais dificuldades no processo de escolarização que os oriundos de outros extratos sociais.
Mais recentemente pesquisadores tem se interessado por comparações no processo de escolarização de crianças de acordo com seu pertencimento racial. Há dados que mostram que crianças negras obtêm resultados inferiores aos das crianças brancas. Como boa parte da população negra encontra-se nas camadas populares emergiu, entre pesquisadores, o interesse sobre a importância do pertencimento racial e da origem social nos resultados escolares. O que pesa mais nesse processo? O pertencimento racial ou a origem social?
Este livro trata deste tema atual e ainda pouco explorado no campo da Educação: relações entre escolarização, origem social e pertencimento racial. Partindo do pressuposto de que o modo como às famílias socializam seus filhos e acompanham sua escolarização é fator importante para explicar processos de escolarização, a autora levanta a seguinte questão: há especificidades entre famílias de pertencimento racial diferentes no modo de educar e de acompanhar a escolarização de seus filhos? Há distinções nesse processo?
Para refletir sobre tais questões, Alexandra realizou um cuidadoso e trabalhoso estudo de caráter etnográfico com seis famílias (duas negras, duas mestiças e duas brancas) que vivem em um povoado próximo a cidade de São João del-Rei/Minas Gerais - o povoado de Goiabeiras. Passou dias inteiros em cada família e, algumas vezes, ali dormiu para acompanhar o cotidiano das relações entre pais e filhos, entre irmãos. Participou de outras atividades no povoado. Assim, conseguiu obter um conjunto de informações que lhe permitiu refletir sobre as famílias, sobre seus valores e sobre seus modos de educar. Além disso, realizou entrevistas com os pais e com profissionais da escola.
A realização da pesquisa foi apoiada na apropriação de resultados de estudos elaborados por um conjunto significativo de autores reconhecidos como referência no campo da Sociologia da Educação. Realizou, com sucesso, a delicada tarefa de ouvi-los sem perder a autonomia como pesquisadora. Esteve atenta, em todas as etapas de seu trabalho às características do povoado, das famílias, da escola, ao que acontecia no ônibus que a levava até o povoado, aos eventos que assistiu e ao que ouviu nas entrevistas.
Com tais informações a autora construiu um perfil de cada uma das seis famílias. São perfis que revelam a habilidade da Alexandra para produzir informações sobre as famílias e o respeito por elas. Não há, como se espera de um bom pesquisador, juízos de valor sobre sua vida, modo de vida, modos de relacionamento social, linguagem.
Sem apresentar generalizações impossíveis em tal tipo de estudo realizado com grupo pequeno, a autora coloca as análises que realizou a partir dos dados obtidos em diálogo com resultados de pesquisas realizadas sobre raça, classe e escolarização por outros autores.
Com este trabalho, Alexandra contribui para o campo da Sociologia da Educação em geral e, em especial, para se pensar uma questão que é central nesse campo: desigualdades no processo de escolarização.
Merece destaque a contribuição que o livro pode oferecer a pesquisadores que pretendem realizar estudos etnográficos. O leitor encontrará um relato cuidadoso do que a autora chama de carpintaria da pesquisa onde ela descreve e analisa os impasses enfrentados, as decisões assumidas ao realizar a pesquisa e ao produzir o texto que agora nos apresenta. Na redação das observações realizadas nas famílias, na elaboração dos perfis das famílias e nas análises formuladas emerge uma pesquisadora competente, cuidadosa e que opera segundo padrões da ética científica. São primorosos os perfis das famílias.
Também merece destaque a originalidade da pesquisa apresentada ao articular camadas populares que vivem em meio rural, relação família e escola, defasagem escolar e relações de raça na análise das seis famílias do povoado de Goiabeiras. Existem vários estudos que tratam das relações escola, família, raça e origem social focalizando crianças que vivem em espaços urbanos. O estudo aqui apresentado ocupa-se de tais relações em um universo social ainda pouco explorado: escolarização de crianças que vivem em meio rural.
A linguagem que utiliza favorece a compreensão de discussões complexas. A leitura do texto é agradável e acessível não apenas aos profissionais da área da educação. Interessados pela compreensão da escola, em geral, também, terão prazer em ler o livro. Trata-se de um livro que não deixará o leitor indiferente aos problemas da educação.
Lea Pinheiro Paixão
Doutora em Sociologia da Educação
Professora titular de Sociologia da Educação da Universidade Federal Fluminense
LISTA DE SIGLAS
Sumário
INTRODUÇÃO
1 GOIABEIRAS: QUE LUGAR É ESTE?
1.1 Origem do Povoado de Goiabeiras
1.2 A Escola do Povoado
1.3 A Carpintaria da Pesquisa
2 FAMÍLIAS NEGRAS
2.1 Família 1: É o Sonho de Toda Professora
2.1.1 Caracterização sociocultural
2.1.2 Cotidiano da família
2.1.3 Redes de relações
2.1.4 Percepção racial
2.1.5 Vínculo com a vida escolar dos filhos
2.1.6 Família e escola: o que pensam uns dos outros?
2.2 Família 2: É o Reverso da Medalha
2.2.1 Caracterização sociocultural
2.2.2 Cotidiano da família
2.2.3 Redes de relações
2.2.4 Percepção racial
2.2.5 Vínculo com a vida escolar dos filhos
2.2.6 Família e escola: o que pensam uns dos outros?
2.3 Família 1 versus Família 2
3 FAMÍLIAS MESTIÇAS
3.1 Família 3: Centrada, Muito Interessada no Desenvolvimento Escolar do Filho
3.1.1 Caracterização sociocultural
3.1.2 Cotidiano da família
3.1.3 Redes de relações
3.1.4 Percepção racial
3.1.5 Vínculo com a vida escolar dos filhos
3.1.6 Família e escola: o que pensam uns dos outros?
3.2 Família 4: Ela participa não do jeito que deveria
3.2.1 Caracterização sociocultural
3.2.2 Cotidiano da família
3.2.3 Redes de relações
3.2.4 Percepção racial
3.2.5 Vínculo com a vida escolar dos filhos
3.2.6 Família e escola: o que pensam uns dos outros?
3.3 Família 3 versus Família 4
4 FAMÍLIAS BRANCAS
4.1 Família 5: Um Tipo de Família que a Gente Gostaria de Ter
4.1.1 Caracterização sociocultural
4.1.2 Cotidiano da família
4.1.3 Redes de relações
4.1.4 Percepção racial
4.1.5 Vínculo com a vida escolar dos filhos
4.1.6 Família e escola: o que pensam uns dos outros?
4.2 Família 6: Sei Que Eles São Presentes
4.2.1 Caracterização sociocultural
4.2.2 Cotidiano da família
4.2.3 Redes de relações
4.2.4 Percepção racial
4.2.5 Vínculo com a vida escolar dos filhos
4.2.6 Família e escola: o que pensam uns dos outros?
4.3 Família 5 versus Família 6
5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE AS PRÁTICAS DE ESCOLARIZAÇÃO DAS FAMÍLIAS PESQUISADAS
5.1 Pertencimento Racial
5.2 Configuração Familiar e Itinerários de Escolarização
5.2.1 Escolarização das famílias
5.2.2 Condições socioeconômicas
5.2.3 Relações internas e externas mantidas pela família
5.2.4 Escolarização dos filhos
5.3 Raça, Classe e Escolarização
REFERÊNCIAS
INTRODUÇÃO
Uma pergunta norteou o desenvolvimento desta pesquisa: as práticas de escolarização que as famílias de Goiabeiras empreendem para manter seus filhos na escola se diferenciam de acordo com o pertencimento racial, por determinadas circunstâncias internas presentes na dinâmica das famílias ou devido a pequenas variações entre as famílias no que se refere à posse de capital cultural, econômico ou social?
Para entender a dimensão do objeto desta pesquisa, foram levantadas informações sobre o povoado de Goiabeiras, tais como perfil geográfico, fatos relevantes do processo histórico de fundação, crescimento populacional, situação econômica e condições atuais do mercado de trabalho, assim como foi pesquisada uma gama de autores, nacionais e internacionais, que se debruçam sobre o assunto. Dentre eles, destacamos aqueles que mais especificamente trataram do tema.
Esses autores constataram, também, que a porcentagem de alunos que fazem os deveres escolares e contam com a colaboração dos pais é maior entre os brancos do que entre os negros. É a população negra que estuda, majoritariamente, em escola pública, que dispõe de poucos recursos culturais e materiais e de um contexto menos favorável e estimulante ao aprendizado escolar.
Alves et al. (2007) analisaram os dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB)/2001 referentes a alunos da oitava série, tendo por objetivo apresentar a associação entre repetência escolar e características familiares, levando em consideração o pertencimento racial dos alunos. Segundo esses autores, é possível afirmar que o efeito do capital econômico não opera do mesmo modo no processo de escolarização de famílias pertencentes a diferentes grupos raciais: [...] Os alunos pretos apresentam maior chance de repetência do que os alunos brancos com o mesmo nível de posse de bens econômicos
(ALVES et al., 2007, p. 177). Tal argumento também se aplica quando esses pesquisadores consideram a variável capital cultural
.
Sendo a posse de capital econômico e cultural um dos fatores importantes para amenizar a repetência escolar, pode-se pensar que os negros são as principais vítimas desse fenômeno, pois, como mostram os dados dos estudos produzidos pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) – Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça – 2008, pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) – Síntese de Indicadores 2007, por Garcia (2007), Henriques (2002), dentre outros, os negros são maioria entre os desempregados, os analfabetos, a população pobre do país, os que ocupam os piores postos no mercado de trabalho etc.
Cabe ressaltar que, na visão de autores como Alves et al. (2007), Henriques (2002) e Soares e Alves (2003), o fenômeno das desigualdades escolares vai além do pertencimento de classe. Ainda que os negros ocupem uma posição social privilegiada, eles sofrem desvantagens frente aos brancos dessa mesma posição; ou seja, as disparidades prevalecem dentro do mesmo contexto social: o negro pobre sofre desvantagens frente ao branco pobre. Alves et al. (2007) apontam que se o capital econômico pode ser um fator de proteção para alunos brancos, o mesmo não acontece com alunos pretos. De acordo com os dados analisados pelo SAEB/2001, esses autores verificaram que alunos pretos que possuem a mesma proporção de bens econômicos que alunos brancos têm maiores chances de reprovação escolar.
Acrescente-se a esse quadro o papel das famílias. Para Soares e Alves (2003) e Alves et al. (2007), um dos indicadores de desfavorecimento dos negros são as características da escola e do ambiente familiar. Como as estatísticas apontam que a população branca apresenta um nível de escolaridade maior que a dos negros, entende-se que as famílias brancas se sentem autorizadas e têm condições intelectuais de ajudar os filhos nas tarefas escolares. Nesse sentido, pode-se avaliar o peso do envolvimento familiar no processo de escolarização de crianças negras e brancas.
Alguns estudos na área da Sociologia da Educação – como os de Bressoux (2003), Charlot (2000), Lahire (2008), Portes (2000), dentre outros – vêm demonstrando que o fator classe social
não é determinante para definir a trajetória escolar de um sujeito. Além do peso da posse de capitais (cultural, econômico e social⁴), há uma série de fatores e circunstâncias atuantes que pode influenciar positivamente no processo de escolarização e na trajetória escolar dos diferentes sujeitos, sejam eles pertencentes a classes privilegiadas ou não. Lahire (2008) e Portes (2000) apontam, entre essas circunstâncias, a presença da ordem moral doméstica; a atenção dos pais com o trabalho escolar dos filhos; a presença do outro na vida do estudante; a ajuda material; a existência de um duradouro grupo de apoio construído no interior do estabelecimento escolar; as formas familiares de cultura escrita; um esforço para compreender e apoiar o filho etc.
Por essa vertente, é possível acreditar na mobilização dos atores sociais, no caso as famílias, no sentido de propiciar situações de favorecimento para o processo de escolarização de seus filhos. Há famílias populares que, mesmo desprovidas de capital econômico, adotam estratégias no sentido de assegurar aos filhos uma escolarização menos árdua e desigual se comparada à dos filhos pertencentes a classes médias ou elites. Os estudos de Almeida (2007), Lacerda (2006), Piotto (2008), Portes (2000), Silva (1999) e Viana (2000), dentre outros, abordam algumas estratégias familiares empreendidas no sentido de possibilitar a longevidade escolar dos filhos, ou seja, o acesso ao ensino superior.
Levando em consideração os apontamentos de Alves et al. (2007), Henriques (2002) e Soares e Alves (2003), de que as disparidades sociais dos negros frente aos brancos prevalecem dentro de mesmo contexto e posição social, é possível pensar que as práticas de escolarização que as famílias do povoado de Goiabeiras empreendem, para manter seus filhos no interior da escola, apresentam discrepâncias segundo o pertencimento racial? Os estudos relacionados a famílias brancas e negras têm apontado para essa questão?
Estudos realizados no contexto norte-americano têm focalizado essa temática e apontado que o fator pertencimento racial
não apresenta influências no processo de escolarização de crianças negras e brancas. Segundo essas pesquisas, um dos fatores determinantes é o pertencimento a uma determinada classe social (LAREAU, 2007) e o tipo de interação que as famílias estabelecem com os filhos (CLARK, 1983).
Os estudos sobre famílias negras foram bastante desenvolvidos nos EUA, as quais, segundo a caracterização de vários autores, constituem lares quebrados
representados por mulheres e seus filhos. (TEIXEIRA, 2006, p. 83; grifo do autor).
Essa predominância de considerar a composição dos lares nas pesquisas norte-americanas também é ressaltada pelo sociólogo Reginald Clark em seu livro Family Life and School Achievement: Why Poor Black Children Succeed or Fail
(1983), no qual ele analisa as interações familiares de 10 famílias negras urbanas.
Segundo Clark (1983), as pesquisas que eram produzidas na época, para explicar a relação dos pais com o desempenho escolar dos filhos, levavam em consideração algumas variáveis, como: composição dos lares, renda familiar, nível de escolaridade dos pais etc. De acordo com o resultado dessas pesquisas, o sucesso ou o fracasso escolar dos estudantes estava atrelado à composição familiar, ou seja, nas famílias