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O Pupilo De Valga
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E-book145 páginas1 hora

O Pupilo De Valga

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Sobre este e-book

Uma dedicada policial civil, residente numa pacata cidade da Estônia, discreto país encravado no norte europeu, encontra-se mergulhada em dramáticos conflitos familiares e recebe uma missão aparentemente secundária, vinculada ao trivial desaparecimento de um irrelevante jovem. No decorrer das vigorosas investigações sobre o caso, incorpora-se às narrativas uma aparente naturalidade dedicada à passagem de um imenso asteroide nas cercanias da Terra, bem como incógnitas consequências resultantes da perfuração de um descomunal buraco na superfície do planeta, insólitos eventos observados com relevo em dois lugarejos vizinhos. A sagaz inspetora descobrirá que essas discrepantes ocorrências estariam sintonizadas com temas associados à integridade humana, a exemplo da vulgarização da violência, corrupção incontida nas relações entre entidades públicas e privadas, desprezo aos bons hábitos e costumes e prática corriqueira da indiferença relacionada à valorização dos valores e dogmas religiosos, transformados usualmente em mercadoria de elevado custo social. A investigadora precisará tomar uma impactante decisão visando garantir a sobrevivência da humanidade num mundo em pronto colapso.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento21 de mai. de 2024
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    O Pupilo De Valga - Dico B. Arcanjo

    AS TRÊS IRMÃS

    O midiático apresentador do programa televisivo diário sentou-se perante as câmeras do amplo auditório, ladeado por dois especialistas no tema que seria brevemente abordado durante a transmissão noturna ao vivo. Ele se serviu de uma xícara contendo café mesclado com uísque, deu boas-vindas aos dois convidados, ao público presente na plateia e aos imperceptíveis telespectadores acomodados nas poltronas das suas residências. Depois, informou que seria exibido um vídeo introdutório previamente ao início das entrevistas, reorientando a posição da cadeira giratória com vistas a assisti-lo na companhia dos outros:

    Estônia, berço de guerreiras civilizações que transformaram este dadivoso país num distinto exemplo para o mundo. Estônia, próspera terra doadora de oportunidades, onde o progresso e o dinamismo sempre andam de mãos dadas. ― divulgou a publicitária voz feminina, seguida das saturadas imagens de convenientes gráficos e inúmeras tabelas que mostravam elucidativos registros demográficos colhidos à época. ― A temperatura média anual observada no território do país, situado na fronteira com o leste europeu, mais especificamente na longitude norte ― circula em torno de 12°C. No extremo sul da região, a colheita de trigo e milho apresentaram um crescimento extraordinário em relação ao ano passado. Os agropecuaristas deste torrão apresentam-se extremamente otimistas.

    Os debates iniciaram-se de modo cortês, após breve apresentação do célebre conjunto musical designado pelo programa. Passou-se uma hora rapidamente.

    O aumento na produção de leite e carne suína também se mostra alvissareiro. ― diagnosticou o respeitável analista de mercado, diante da câmera de TV, visualizando os dados econômicos expostos na tela disponibilizada ao público. ― Embora a produção industrial e o setor terciário respondam por expressiva parcela do nosso Produto Interno Bruto, o segmento agrícola ainda é razoavelmente pequeno, todavia tem fundamental importância para o contínuo desenvolvimento deste país.

    ― Faz sentido. ― concordou o outro debatedor, ajeitando os óculos de armação preta. ― É relevante destacar que o setor de serviços, onde se insere o comércio, representa quase 70% do PIB nacional. Eu estou de acordo com o entendimento de que nós precisamos incrementar a produção vinda do campo, afinal, a redução do custo dos alimentos é imprescindível. Devemos eliminar as importações, principalmente dos produtos oriundos daqueles países subdesenvolvidos, e fortalecer os subsídios aos agricultores e pecuaristas nacionais. Entretanto, julgo que outros setores necessitam de uma atenção maior por parte do Estado, a exemplo do turismo. Vejam, por exemplo, o que estão fazendo no município de Viljandi. Aquilo será a meca do entretenimento global, um sucesso inquestionável. Ideias como aquela devem ser difundidas objetivando transformarmos a cara desta nação!

    ― O turismo é importante, claro, mas o fortalecimento da agricultura possibilita a manutenção do homem no campo. ― opinou o primeiro, apontando para um gráfico repleto de cores. ― Observem que as grandes cidades do país vêm crescendo em ritmo acelerado. Não há espaço para todos. A renda per capita no povoado de Paide diminuiu consideravelmente e já visualizamos alguns bolsões de pobreza. Essa realidade deve ser combatida.

    ― Perfeito, professor. Ersitov.  ― concordou o outro. ― Precisamos incrementar a categoria econômica dos serviços e revitalizar a nossa deficiente agricultura. Querem outro exemplo? Tomamos conhecimento da possível transformação de uma antiga usina nuclear desativada num centro de visitação, um museu dedicado à história e evolução da energia atômica. Ouvi falar que esse projeto está em estudo na região de Valga. As pessoas gostam de aventuras. Isso é turismo, é distribuição de renda, é desenvolvimento. ― opinou o primeiro economista.

    ― Paide, Viljandi e Valga. Essas três cidades estonianas têm características bastante semelhantes. ― observou o atento entrevistador, bebendo um gole da envolvente mistura. ― Justo, professor Endrich, mas não acha essa ideia um tanto perigosa? Mesmo os restos adormecidos dos materiais nucleares me parecem inseguros. ― duvidou o guia do programa, conferindo o relógio suíço.

    Perigosa?! Perigosa é a falta de comida no prato das pessoas. Os líderes empresariais precisam abrir novos caminhos objetivando garantir o desenvolvimento sustentável da Estônia.

    ― Obrigado, professores Klauss Ersitov e John Endrich. Os debates sobre os aspectos econômicos e sociais demonstrados na economia local sempre se apresentam enriquecedores. ― disse o polido homem da televisão aberta, dirigindo-se à câmera. ― Bom, o nosso programa está chegando ao fim e temos a última pergunta da noite, feita por um integrante da plateia. Vamos a ela: qual o presumível impacto positivo que poderá ser proporcionado à economia local em decorrência da passagem do grandioso meteoro sobre o céu da Europa, haja vista a privilegiado localização do nosso país?

    ― Impacto positivo no fomento ao turismo? Ah, não é bem a minha área de conhecimento, mas acredito que não haverá nenhum ganho em decurso desse casual evento, considerando que a observação do bólido de fogo será fugaz. ― opinou o senhor Endrich, mestre em análise econométrica.

    ― Eu nem sabia que essa coisa poderá ser visualizada da Terra. Quando isso acontecerá? ― questionou o professor Ersitov, retirando o microfone da lapela.

    ― Esse é um tema muito interessante, digno de futuras conversas televisivas. ― arbitrou o hábil apresentador, recebendo um episódico recado da direção do programa. ― Convidados e telespectadores, levando em conta que se trata de uma curiosa matéria e atendendo aos volumosos pedidos, chamaremos um especialista no assunto para abrir os vindouros debates. Ele se encontra atualmente na Grécia e falará ao vivo. Dr. Emmanuel Mazimef, boa noite!

    ― Boa noite, telespectadores.

    ― Dr. Mazimef, dispomos de um minuto: qual a estimativa do notável meteoro ser visto do planeta Terra? Os astrônomos já sabem a distância exata em que ele se encontra? ― indagou o entrevistador ao estudioso cósmico.

    ― De acordo com atual trajetória do grande astro errante, calculamos a sua aparição visual em três dias. Ele se encontra em torno de um milhão e seiscentos mil quilômetros do nosso globo terrestre. Deverá transitar em seu intervalo mínimo a, pelo menos, novecentos mil quilômetros de distância.

    ― Isso é muito ou pouco?

    Digamos que seja razoavelmente seguro. Presumo que essa aparição se torne um belo espetáculo celeste. ― opinou o cientista, tranquilo.

    Amém. ― sorriu o condutor do programa. ― Agradeço novamente aos participantes desta exibição televisiva diária. Uma excelente noite a todos!

    O ANCIÃO DE PAIDE

    A experiente inspetora estoniana Dyrce Fernotrie vivia na capital do estado de Järvamaa, localizada na região central do país, a pouco menos de 70 quilômetros do bárbaro teatro assistido numa cidade vizinha. Ela acumulava dezenove anos dedicados integralmente à polícia local, abdicando de sonhos e inúmeros projetos pessoais. Um dos seus principais anseios consistia em possuir um filho ― na verdade, dois rebentos: uma menina e um menino. No princípio do relacionamento conjugal, o desejo materno sempre foi postergado em função dos costumeiros afazeres profissionais. Posteriormente, descobriu que não reunia condições de fecundar uma criança devido à ocorrência de penosos problemas biológicos sofridos na fase madura da vida. Ambos experimentaram vários procedimentos médicos destinados à fertilização forçada, cujos resultados se mostraram inócuos, transformando dezenas de testes de gravidez em decepcionantes alarmes falsos.  Desprovido de sentimentalismo e compreensão Inerentes à maioria da raça humana, o insatisfeito marido a abandonou tempos depois, transferindo-se em definitivo à próspera América. O ex-companheiro lhe deixou apenas uma vaga lembrança, consubstanciada no nome dos integrantes do casal gravado em seu punho direito, um sobre o outro, aparecendo um simbólico coração vermelho  desenhado entre os títulos Fernotrie & Joshua.

    Ela se encontrava sentada numa desconfortável poltrona da delegacia matriz, diante do gabinete do meticuloso chefe da repartição. Aguardava silenciosa a chamada do patrão, observando-o através do vidro transparente. A água potável do bebedouro havia se exaurido há horas. Em determinado momento, recebeu a companhia de um colega de profissão, o qual se sentou ao seu lado sem lhe pedir licença. Ele trazia um copo d’água acumulado pela metade.

    ― Boa noite, inspetora Dyrce. ― apresentou-se o detetive Amodic Nevodiev. ― Acho que aqui cabem nós dois de forma aconchegante. Quer um pouco de água natural? Trouxe-a da torneira da pia, suponho que esteja limpa. E então, resolveu se aposentar de vez?

    ― Não, obrigada. Aposentadoria?! Quem lhe falou tamanha asneira? Eu ainda sou jovem. Pretendo trabalhar por mais dez anos. Corrijo: quinze anos, se a minha saúde permitir.

    ― Jovem? Sei. ― esnobou o parceiro de trabalho. ― Parece que o seu pé não pensa desse jeito. O que foi isso? Andou pulando a cerca?

    ― Bobagem. Eu tropecei hoje pela manhã e lesionei o tornozelo. Amanhã estará novinho. ― respondeu ela, afastando-se como podia do interlocutor e olhando para o relógio de parede.

    ― Pode entrar, inspetora Dyrce Fernotrie. apontou o corpulento delegado, gritando do gabinete recém-aberto e munido de um cigarro aceso. ― Deseja tomar um café?

    ― Boa noite, delegado. Obrigada. Eu fiz algo errado?

    O superior hierárquico manteve-se impassível, soltou uma nuvem de fumaça branca e tirou um pacote de documentos do interior da gaveta, colocando tudo sobre a mesa retangular com tampo de vidro instalado sobre rija madeira.

    ― Nobre inspetora, você não cometeu nenhuma falha. É que a nossa divisão recebeu dois novos policiais

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