Políticas Educacionais e Formação de Professores: Experiências e Práticas Pedagógicas

De Silvana Sônia Oliveira da Silva

Políticas educacionais e formação de professores: experiências e práticas pedagógicas é uma coletânea do Congresso Internacional de Educação (CIEC), que acontece anualmente na cidade de Cáceres/MT, desde o ano de 2012, e conta com a participação e contribuição de educadores e acadêmicos de diversas instituições do Brasil e do exterior. Uma das características principais do CIEC é derrubar as barreiras entre "Eles" e "Nós", permitindo que todos compartilhem experiências – professores, do Ensino Básico e Superior, acadêmicos e gestores. Enfim, todos juntos fazem a construção e a reflexão entre prática e teoria. Desde o seu primeiro ano, o evento tem a preocupação de avaliar as necessidades dos participantes, em suas diversas identidades – alunos, professores e colaboradores em geral –, para construção de um trabalho significativo na educação. Em seu quarto ano, o CIEC consolida-se e materializa-se com esta obra viva, enunciada por diferentes vozes, oriundas das mais variadas instituições, e de posições ideológicas de diferentes sujeitos. A soma dessas diferenças resulta neste interessante trabalho de reflexão em busca de alternativas de melhorias na e para a educação. Dessa forma, este livro destina-se a professores e a todos aqueles que acreditam na educação, em seu sentido real e significativo, a qual nos dá autonomia para vivermos como sujeitos livres e conscientes. Educação que vai além de transmissão conteudista; educação para a vida. Nesse pensamento, organizou-se esta coletânea, que reúne valiosas contribuições teóricas e práticas de professores que acreditam e fazem a diferença frente ao complexo desafio educacional.

• Idioma: Português
• Editora: Editora Appris
• Data de lançamento: 29 de mai. de 2019
• ISBN: 9788547327392

Pré-visualização do livro

COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE

Aos apaixonados pela Educação.

Dedico esta obra a minhas três filhas, Poliana, Paloma e Pâmela. Pessoas muito especiais em minha vida.

E dedico em especial a uma delas, que tem transformado nossas vidas, de todos os familiares e amigos, como exemplo de força, garra e determinação. Ensinando-nos que a vida é luta e vitória todos os dias.

Em julho de 2016, aos 31 anos, Poliana Oliveira da Silva Santos, casada, mãe de um menino, Guilherme, 7 anos, meu neto, descobre ser portadora de uma doença rara nos rins, que se caracteriza pela perda de proteínas. Desde então, Poliana tem vivido e nos ensinado a viver um dia de cada vez.

Em 9 de dezembro desse mesmo ano, Poli Guerreira, como tem sido chamada carinhosamente pelos familiares e amigos, foi vítima de um AVC isquêmico, e hoje encontra-se acamada com tratamento em home care. Com a misericórdia de Deus, a ajuda de médicos de diversas áreas, o apoio dos amigos e da família, ela está bem, e melhorando todos os dias.

Poli, esta obra é dedicada especialmente a você. Apesar de estarmos passando por este momento de enfermidade familiar, sinto-me forte para finalizar esta obra junto aos colegas participantes, porque tenho certeza de que você sempre me apoiou e apoiará meu trabalho pela educação. Para dar vida a esta obra, recordo-me do que você sempre me dizia:

– Mãe, faz as suas coisas. Faz o que acredita.

Poli, minha filha:

Acredito na educação.

Cáceres, 31 de maio de 2017.

Profª Mª Silvana Sônia Oliveira da Silva

Autora e organizadora do Ciec

AGRADECIMENTOS

A Deus, pela minha vida e minha grande força interior.

Aos meus pais, Vicência e Heráclio, pelo exemplo de amor e dedicação à família.

Às minhas amadas filhas, Poliana, Paloma e Pâmela, e ao meu neto, Guilherme, minhas inspirações.

Ao Manoel, eterno companheiro.

A toda a minha família.

Aos participantes do Ciec.

A todos os profissionais da educação.

Aos meus amigos.

Aos meus professores.

Aos meus alunos.

A todas as instituições de apoio.

Ao eterno professor Olegário Baldo (in memoriam), grande incentivador do Ciec.

À professora Cassia Geciauskas Sofiato, pela sua contribuição nesta obra.

APRESENTAÇÃO

Paixão pela educação. Sentimento forte que nos move para transgredir barreiras, desafiar limites e realizar projetos na/para educação. Desafios difíceis de serem alcançados diante do contexto da desvalorização no âmbito geral da carreira do profissional educador. Porém eles se tornam pequenos quando pensamos na importância da educação, em seu maior sentido: Busca e Autonomia do ser. Autonomia que nos permite ser o que desejamos ser e estar onde desejamos estar.

Nesse pensamento, elevo a minha força interior para buscar incessantemente o melhor em relação à educação para nosso contexto e trago para nossa região, desde o ano de 2012, o Ciec, Congresso Internacional de Educação em Cáceres-MT. No ano passado, o Ciec completou seu quarto ano, com o tema Salve as diferenças!. Tema este que provoca, desafia e nos faz refletir sobre o nosso complexo papel na educação.

O tema surge pela percepção de como o Ciec se manifesta e se fortalece até os dias de hoje na cidade interiorana do Mato Grosso: pela soma das diferenças. As diferenças são trazidas com a participação de diversas instituições de ensino do nosso país e do exterior, por meio da presença de renomados pesquisadores bem como dos que estão em anonimato, mas todos juntos, nas mais diversas concepções de ideias e de conhecimentos históricos, sociais, culturais. Todos participando, somando e construindo.

Desde sua origem, o Ciec carrega o símbolo da vitória-régia que, além de representar o Pantanal mato-grossense, representa a essência da educação em sua totalidade. Esse emblema ilustra também a capa do primeiro livro do Ciec, publicado em 2016 pela editora Appris, Políticas educacionais e formação de professores: Experiências e práticas pedagógicas. Este trabalho é uma coletânea das palestras e conferências realizadas desde o ano de 2012 até 2016.

O Ciec tem suas características identitárias que valem a pena destacar: Primeiro, acreditamos na concepção de que a educação é a participação e a contribuição de todos e de todas as áreas sem distinção, sem gavetinhas isoladas, sem enaltecer e/ ou desmerecer este ou aquele. A exemplo disso, temos o registro de uma foto, no primeiro Ciec, que celebra um momento ímpar no qual pode ser visto um grande abraço de todos os gestores das diferentes instituições participantes.

Outra característica relevante do Ciec é a autonomia e a sustentação da dialogicidade freiriana. Por meio do diálogo, fazemos uma avaliação permanente do Congresso, no final do evento, na qual podemos elencar e preservar o que foi bom, retirar o que não deu certo e acrescentar o que falta. Dessa forma, sabemos as necessidades dos participantes e conquistamos a autonomia do Ciec. Preservar, alterar, mudar, quando necessário.

No Ciec, abre-se espaço para todos, sem distinção. A ideia é de que todos, independentemente de credo e opiniões, venham a somar. Participar de uma mesa-redonda onde professores de ensino fundamental, médio e superior, juntos, unam a prática e a teoria, discutindo, refletindo, construindo. Isso é o resultado da soma das diferenças que pode ser visto no congresso Ciec.

Outra característica do evento é a participação dos alunos de ensino fundamental e médio na criação das pastas personalizadas. Esse trabalho já está no segundo ano de existência, com a participação de várias escolas. A arte e a criatividade dos alunos e professores são destaques no credenciamento do evento.

Enfim, para falar do Ciec, é necessário falar sobre todos os preparativos do evento. Do começo ao fim, o Ciec é pensado e realizado para todos os profissionais da educação, em suas necessidades, em sua importância e na valorização desse profissional. E para você que é um profissional da educação, aceite o nosso convite e seja bem-vindo ao Ciec.

Cáceres, 31 de maio de 2017.

Profª Mª Silvana Sônia Oliveira da Silva

Autora e organizadora do Ciec

PREFÁCIO

No ano passado, tive a honra de participar como palestrante do IV Congresso Internacional de Educação de Cáceres (Ciec), em Mato Grosso, a convite da Profª Mª Silvana Sônia Oliveira da Silva, profissional dedicada, envolvida com a educação e também a organizadora desta obra.

Confesso que fiquei muito impressionada com a impecável organização do evento e também com a ambientação que o envolvia. Além do caráter acadêmico presente em eventos dessa natureza, também foi possível vivenciar uma diferente acolhida aos participantes, com pequenos gestos que fizeram a diferença: a música que antecedeu à apresentação dos trabalhos, as pastas cuidadosamente confeccionadas pelos alunos das escolas públicas da rede municipal de educação, com desenhos que expressavam um pouco da cultura regional e, por fim, os olhares atentos de quem ali foi para aprimorar a sua formação, culminando com uma acalorada discussão. O prédio histórico da Câmara Municipal de Cáceres abrigou durante três dias educadores, pesquisadores e outros profissionais envolvidos em questões relacionadas à educação, especificamente à luz do tema Salve as diferenças!.

Por se tratar já de sua quarta edição, percebemos a importância que tal evento assume para o município, no sentido de garantir esse espaço formativo e também para a troca de experiências entre profissionais da área da educação.

Falar sobre a questão das diferenças, uma das tônicas que mobilizaram as discussões, é algo ainda desafiador na sociedade hodierna, marcada pelos fenômenos da desigualdade e da exclusão. Diferentes matrizes teóricas elucidam o termo e suas implicações, mas aqui destaco um excerto de Boaventura de Sousa Santos, extraído de seu trabalho A construção multicultural da igualdade e da diferença (1999, p. 44): temos o direito a ser iguais sempre que a diferença nos inferioriza, temos o direito de ser diferentes sempre que a igualdade nos descaracteriza. O teórico em questão declarou esse imperativo categórico e entende que ele deva regular a articulação pós-moderna e multicultural das políticas de igualdade e identidade. Assunto tão polêmico e desafiador nos impele a pensar na igualdade universalista proposta pela modernidade e nos significados constituídos a partir da racionalidade científica e na ideia da diferença que hoje assume um papel aglutinador nos movimentos sociais e políticos, como ressalta Jeni Vaitsman (1997-8, p. 1).

Este livro, que ora prefacio, traz em sua essência as discussões engendradas no encontro formativo supracitado, com originais de autores de diferentes universidades do território nacional. Nas páginas que se sucedem, encontramos a abordagem de variadas temáticas que se trazem em seu bojo o diálogo com a educação, seja ela para crianças, jovens ou adultos, e a importância da inclusão, entendida aqui de forma abrangente. Os diversos temas abordados pelos autores, que versam sobre a sua área de atuação e pesquisa, fazem desta publicação um importante recorte que caracteriza a atual conjuntura educacional de nosso país.

O mosaico proporcionado por esses diferentes pontos de vista imprime uma dinâmica de questionamentos ao leitor que o impele à abertura de seus horizontes, evitando o monotonismo da pura aceitação de ideias. Sim, nesta obra o leitor sente-se parte da realidade em suas múltiplas facetas.

Esta coletânea se divide em três seções. Na primeira, temos os trabalhos que versam sobre Políticas Públicas, numa perspectiva inclusiva, para alunos público-alvo da Educação Especial e outros grupos sociais. O direito à educação perpassa as discussões e, nesse sentido, revela-se a importância da formação docente para o atendimento efetivo do público em questão, seja na escola ou no atendimento educacional especializado. Também se alinham a esse conjunto de textos as discussões sobre identidade docente, identidades em mutação e alteridade, num viés contemporâneo e instigante à reflexão.

Na segunda seção, estão reunidos os trabalhos que trazem à baila temas relacionados à língua e à literatura, entrelaçando desafios, possibilidades e também como estratégia para a inclusão na educação básica. Destaca-se a importância que a literatura imprime para a vida das pessoas e sua capacidade de transformação, a partir da reflexão e do acesso a diferentes obras literárias. A inclusão pode ser desenvolvida por meio da promoção de vivências para partilhar de diferentes pontos de vista e pelo acesso e negociação de sentidos promovidos pelas obras literárias. Destarte, diferentes públicos devem ser contemplados, e a atenção deve ser dada para a não canonização de obras que circulam mais no ambiente escolar. A importância da linguagem como recurso pedagógico também é abordada nessa seção, a partir das contribuições de Mikhail Bakhtin. Outro tema que é contemplado é a identidade de gênero e literatura. Esse estudo em particular mostra a potência que a literatura possui para a abordagem da questão de forma criativa e também questionadora. Fechando a seção, temos um trabalho que destaca a produção do poeta mato-grossense Manoel de Barros e sua convivência com os clássicos e os desheróis, que contribuíram com o erigir humano em sua poética.

A terceira seção abarca trabalhos que trazem outras especificidades em relação ao fenômeno educativo, considerando práticas pedagógicas e relatos de experiência. Nesse conjunto, temos estudos que abrangem a integração educacional no Mercosul e seus desafios; as preferências e opiniões de jovens brasileiros sobre a ciência escolar; os números semânticos como recurso didático para o aprendizado de língua brasileira de sinais (Libras) e língua portuguesa e, por fim, a contribuição do projeto Cometa Educação para a alfabetização de jovens e adultos, na cidade de Cáceres, Mato Grosso. Tal projeto faz parte das ações do Instituto Cometa Educação, uma organização social sem fins lucrativos que desenvolve vários projetos envolvendo questões socioambientais.

Essa breve incursão pelas temáticas que compõem a obra em questão nos faz perceber a magnitude e a potência presente neste segundo livro resultante do Ciec, que agora se materializa e se torna objeto de apreciação para os leitores que o elegem. Por derradeiro, constato que os autores aqui reunidos têm em comum a paixão pelo ensino e compartilham com os leitores suas ideias e convicções por meio de capítulos primorosamente preparados e que soam como um delicioso convite à reflexão.

Referências

SANTOS, Boaventura de Sousa. A construção multicultural da igualdade e da diferença. Oficina do CES, n. 135, jan. 1999. Disponível em: . <http://www.ces.uc.pt/publicacoes/oficina/135/135.pdf>. Acesso em: 3 set. 2017.

VAITSMAN, Jeni. Igualdade e diferença. História, Ciências, Saúde. v. 4 n. 3. nov. 1997-fev. 1998. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/hcsm/v4n3/v4n3a08.pdf>. Acesso em: 2 de set. 2017.

São Paulo, 03 de setembro de 2017.

Profª Drª Cássia Geciauskas Sofiato

Docente da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade de São Paulo

Sumário

PARTE 1

Políticas Públicas, numa perspectiva inclusiva, para alunos público-alvo da Educação Especial e outros grupos sociais

INTEGRAÇÃO EDUCACIONAL NO MERCOSUL

Elvys Patrick Ferreira de Oliveira

Políticas públicas para a inclusão de alunos público-alvo da Educação Especial

Cássia Geciauskas Sofiato

Políticas Públicas de Inclusão e Práticas Educativas

Sonia Maria de Oliveira

PARTE 2

Língua e literatura: entrelaçando desafios, possibilidades e também como estratégia para a inclusão na educação básica

Identidades em Mutação

Lucy Ferreira Azevedo

Estética do Ser Professor: Convergências, Insurgências e Divergências

Claudio Alves Benassi

Identidades de Gênero e Literatura: Roberta, de Flávia Helena

Divanize Carbonieri

Gêneros Discursivos com o Professor-Sujeito e Identidade

Rosemary Pinto de Arruda Gonçalves

Laboratório de Aprendizagem Avançada: Identidade e Alteridade na Construção da Aprendizagem do Estudante Surdo No AEE/Ensino Superior

Sebastiana Almeida Souza

Simone de Jesus Padilha

Literaturas Africanas e Afrodescendentes como ferramentas de Inclusão na Educação Básica

Sheila Dias da Silva Laverde

Literatura: Desafios e Possibilidades

Soraya do Lago Albuquerque

PARTE 3

Práticas pedagógicas e relatos de experiências

Ouvir os jovens? Algumas reflexões acerca das preferências e opiniões do jovem brasileiro sobre a Ciência Escolar

Jaqueline Pinafo

Nelio Bizzo

Números Semânticos, Língua Portuguesa e Libras na Educação: valorização da aprendizagem e não dos rótulos sociais

Anderson Simão Duarte

Relato de Experiências de Alfabetização de Jovens e Adultos Projeto Cometa Educação

Silvana Sônia Oliveira da Silva

Eliziane Senes Alves

Educação pela despalavra: a formação omnilateral com Manoel de Barros

Maria Elizabete Nascimento de Oliveira

Aline Pires de Morais

SOBRE OS AUTORES

PARTE 1

Políticas Públicas, numa perspectiva inclusiva, para alunos público-alvo da Educação Especial e outros grupos sociais

INTEGRAÇÃO EDUCACIONAL NO MERCOSUL

Elvys Patrick Ferreira de Oliveira

1 A INTEGRAÇÃO REGIONAL

A integração regional é a existência de sentido de comunidade, de instituições e de práticas (Deutsch, 1957, p. 23-25), a qual traz benefícios para os participantes, até porque para haver integração, deve haver interações entre os estados. Essas interações não devem ser exclusivamente entre seus governantes, mas carecem ser também entre seus povos, suas instituições e suas estruturas sociais. Dessa forma, o processo de integração implica o estreitamento de laços econômicos, políticos e sociais entre países que, muitas vezes, se caracterizam por diferenças substantivas em termos de riqueza, recursos produtivos e graus de desenvolvimento econômico.

2 O MERCOSUL E SUA FORMAÇÃO

O processo de integração da América do Sul vem ocorrendo desde 1960, com a formação da Associação Latino-Americana de Livre-Comércio (ALALC) e da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi). A Aladi foi criada como sucessora da ALALC, porém foi caracterizada pelo endividamento da América Latina e por processos de moratórios aplicados por países como o México, o qual era um dos membros.

O Mercosul teve na Ata de Buenos Aires de 6 de julho de 1990 o marco para a formação do bloco. A ata fez com que fosse adiantado o processo de integração econômica entre Argentina e Brasil em cinco anos, já que, anteriormente, fora proposto pelo Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento entre o