Certificações privadas e seus reflexos na cadeia da manga

De Daniel Franco Goulart

As cadeias produtivas do agronegócio estão interconectadas com as demandas globais. Qualquer análise que se restrinja, tão somente, à realidade doméstica de um negócio agrícola ou agroindustrial corre sério risco de obter resultados pouco relevantes ou superficiais. Essa íntima relação com a demanda global é especialmente verdadeira quando estamos falando do agronegócio de frutas e alimentos frescos. É com esse pano de fundo colocado que convidamos estudante, especialistas, professores e pesquisadores em agronegócios e comercialização de produtos agrícolas a navegar pelo complexo universo da produção de manga do Vale do São Francisco, Brasil, e por sua relação com o mercado europeu de frutas frescas. Este livro traz à tona a relevância e o poder que esse mercado tem para o estabelecimento de relações nessa cadeia e para a definição da sua estrutura. Essa força é traduzida pela capacidade que o mercado europeu tem de impor aos produtores que almejam acessá-lo sistemas de certificações que determinam como deve ser conduzido o processo de produção, beneficiamento, manuseio e acondicionamento dessas frutas. Por que existe esse desequilíbrio de forças entre ponta produtora e ponta consumidora na cadeia da manga? Como se dá o processo de certificação? Como se estabelece a relação entre as categorias de produtores de manga no Vale do São Francisco com a finalidade de acessar o mercado europeu? Essas e outras questões são respondidas pelo autor ao longo desta obra. No centro dessa discussão coloca-se o certificado mais exigido pelos compradores europeus de frutas frescas: o Global Partnership for Good Agricultural Practices, conhecido como GlobalGAP. Para a elaboração desta obra foram consultados especialistas, gestores, produtores e auditores envolvidos com essa importante cadeia do Nordeste do Brasil.

• Idioma: Português
• Editora: Editora Appris
• Data de lançamento: 1 de jan. de 2016
• ISBN: 9788547302542

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1ª Edição – Copyright© 2016 dos autores

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AGRADECIMENTOS

À minha família, fonte de inspiração e apoio em todos os desafios da minha vida.

Ao grande mestre Luiz Andrea Favero, professor com o qual tive o privilégio de conviver ao longo da minha graduação e do meu mestrado acadêmico. Foi ele quem me motivou a escrever este livro e quem guiou meus passos em todas as etapas que compuseram a elaboração do trabalho. Que Deus o tenha.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Administração e Desenvolvimento Rural da Universidade Federal Rural de Pernambuco (PADR/UFRPE), que contribuíram para a construção da minha formação acadêmica.

Aos agentes do setor público e privado que atuam na cadeia produtiva da manga no Vale do São Francisco e que me receberam de forma muito cortês e amigável na etapa de coleta de dados de campo.

APRESENTAÇÃO

Compreender o que ocorre além dos limites da porteira é, hoje, requisito fundamental para todos aqueles que se dedicam às atividades de produção e comercialização de produtos agrícolas e agroindustriais. Tão fundamental quanto manter os custos e a produtividade da produção rural em níveis competitivos é entender o fluxo e as relações comerciais envolvidas ao longo da cadeia que terminará no consumidor final desse produto. Afinal, o objetivo de qualquer cadeia produtiva, seja ela agroindustrial ou não, é atender aos interesses dos consumidores finais.

As características das relações de oferta e demanda ao longo da cadeia determinam a direção do poder de barganha e, por consequência, o foco de concentração de poder de tomada de decisão. Em outras palavras, em um mercado marcado pela abundância de oferta e por uma limitação ou restrição de demanda é provável é que o comprador determine a quantidade, qualidade e preço do produto. A razão é muito simples: ele pode escolher entre vários fornecedores. O inverso é verdadeiro: em um mercado altamente demandante em que haja restrição de oferta, o poder de determinar quantidade, qualidade e preço concentra-se do lado do produtor. Entender em qual dessas duas dinâmicas a cadeia está inserida é fundamental para que os participantes dela possam planejar a sua forma de atuação.

Para produtos agrícolas e agroindustriais, existe um fator adicional que costuma contribuir para que o poder de barganha se concentre do lado comprador. Trata-se da perecibilidade. Frutas, verduras e legumes frescos ilustram essa situação. Após a colheita, o produtor precisa dar vazão às suas frutas com rapidez sob pena de perdê-las. Geralmente, as frutas são colhidas em períodos conhecidos (safras). Nesses momentos, há abundância de produto no mercado. É aí que se manifesta o poder do comprador.

Esse tipo de relação ocorre na cadeia das frutas em qualquer recorte dimensional. O produtor que colhe para levar seu produto para as Centrais de Abastecimento (Ceasas) do Brasil sofre com o poder do comprador. Ao chegar com seu caminhão na Ceasa, o produtor tem duas opções: vender para os compradores que estão dispostos a receber o seu produto ou voltar com a sua fruta para a roça. Em um cenário de excesso de ofertantes na Ceasa, o comprador define o preço que lhe convém, e o produtor se vê obrigado a fazer a venda. O produtor que exporta suas frutas para o mercado europeu precisa se submeter a várias regras para atender aos requisitos de processo e qualidade exigidos por aquele mercado. O comprador tem esse poder, pois, além dos produtores brasileiros, ele tem produtores peruanos e mexicanos, por exemplo, oferecendo o mesmo produto.

Nesta obra discutimos a relação entre a cadeia produtiva da manga do Vale do São Francisco e o seu principal mercado consumidor: o europeu. Situação semelhante à ilustrada nos dois exemplos anteriormente citados pode ser vista na referida cadeia. A forma como o poder do comprador sobre os seus fornecedores se expressa, nesse caso, é por meio da exigência de protocolos ou certificados de qualidade dos frutos e do processo de produção.

O propósito deste livro é discutir como o poder de barganha dos compradores europeus interfere no estabelecimento das relações entre os produtores no Brasil. Em outras palavras, como os produtores brasileiros do Vale do São Francisco se organizam para atender ao mercado europeu? O certificado GlobalGAP, criado pelos europeus, surge na cadeia produtiva da manga como a elemento básico para que o produtor ou associação esteja apto para vender sua produção ao mercado da Europa. Dada a importância desse certificado para a cadeia da manga na região, uma parte deste texto se dedica a discutir os fundamentos desse selo e os procedimentos necessários para a sua obtenção.

Para a elaboração deste trabalho, o autor empreendeu ampla etapa de coleta de dados junto a produtores, gerentes, especialistas e auditores envolvidos com a produção, comercialização e certificação da manga do Vale do São Francisco. Além disso, dedicou grande esforço na reunião, leitura, compreensão dos principais artigos e trabalhos escritos sobre o tema tanto no Brasil como no exterior e a soma entre a experiência prática obtida dos agentes consultados e a profunda revisão de literatura sobre o assunto.

Ao final desta leitura, espera-se que o leitor possa compreender a forma como os agentes da cadeia produtiva da manga no Vale do São Francisco organizam-se para que a demanda europeia possa ser atendida dentro dos critérios exigidos por eles. Espera-se também que o leitor possa distinguir os benefícios e as dificuldades impostas pelo certificado GlobalGAP para os agentes envolvidos com a produção e comercialização de manga, sobretudo os produtores.

Boa leitura!

PREFÁCIO

Recebi com enorme satisfação o convite para prefaciar a primeira edição do livro Exportação de Manga: certificações privadas e seus reflexos na cadeia produtiva, de autoria do professor Daniel Franco Goulart.

Esta obra oferece aos leitores todo o conhecimento e experiência em cadeia de valor, logística internacional e agronegócios, acumulados pelo autor ao longo de muitos anos como executivo e pesquisador na área.

Talentoso, o professor Daniel Franco Goulart tem uma sólida formação acadêmica e profissional. Doutorando em administração de empresas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e mestre em administração e desenvolvimento rural pela Universidade Federal Rural de Pernambuco, é responsável pela unidade de negócios de Biodiesel da empresa Noble Agri Brasil. Além disso, é professor da Universidade Municipal de São Caetano do Sul e integrante de grupos de pesquisas no Mackenzie e na Embrapa.

Sua trajetória acadêmica, que passa por algumas das mais conhecidas instituições de ensino superior no Brasil, além de sua profícua experiência executiva, assegurou-lhe um grande conhecimento prático-teórico.

O livro trata do certificado GlobalGAP e o seu impacto