Tempos De Escravidão
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Tempos De Escravidão - Viviane Regina Catapano
Tempos de
Escravidão
pdfconverterpdfconverterpdfconverterTempos de
Escravidão
Pelo espírito de Lord Henry Ottsburg
Viviane Regina Catapano
pdfconverterpdfconverterTempos de Escravidão
Editorial / Revisão / Diagramação: Viviane Regina Catapano
Capa: site pixabay
2019 - 1º Edição
Direitos autorais reservados.
É proibida a reprodução total ou parcial, de
qualquer forma ou por qualquer meio, salvo
com autorização do Autor.
(Lei 9.610/08)
Traduções somente com autorização por escrito do Autor.
pdfconverterOs escravos de ontem se tornaram os senhores de hoje,
assim como os senhores de hoje se tornaram
os escravos de ontem.
pdfconverterpdfconverterA lei do retorno é implacável aos que ousam desafiá-la.
Não imponham sofrimento aos seus semelhantes,
a despeito do mal que lhes for ocasionado.
Saibamos esperar pela Justiça Divina, cientes de
que o tempo espiritual seja diferente do nosso.
De acordo com as nossas ações seremos julgados e
sentenciados, e se a nada fizermos, seremos gratificados.
Todavia, isso não se aplicará se o padecimento alheio for
ignorado, mesmo que não sejamos os responsáveis pelas
circunstâncias que os induziram a tal acometimento.
Empatia ao próximo é um degrau que oportunizará
a nossa evolução.
pdfconverterpdfconverterSumário
Apresentação …......................................................................... 13
Parte I
PropriedadeAlbuquerque
Capítulo 1 …............................................................................. 17
Capítulo 2 .................................................................................. 21
Capítulo 3 .................................................................................. 27
Capítulo 4 .................................................................................. 33
Capítulo 5 .................................................................................. 37
Capítulo 6 .................................................................................. 43
Capítulo 7 .................................................................................. 47
Capítulo 8 ….............................................................................. 51
Capítulo 9 ….............................................................................. 57
pdfconverterCapítulo 10 ................................................................................ 63
Capítulo 11 ................................................................................ 67
Capítulo 12 ................................................................................ 73
Capítulo 13 ................................................................................ 79
Capítulo 14 ................................................................................ 85
Capítulo 15 ................................................................................ 89
Capítulo 16 …............................................................................ 93
Parte II
PropriedadeAlmeida
Capítulo 1 ................................................................................ 101
Capítulo 2 ................................................................................ 105
Capítulo 3 ................................................................................ 109
Capítulo 4 ................................................................................. 115
Capítulo 5 ................................................................................ 121
Capítulo 6 ................................................................................ 127
Capítulo 7 …............................................................................ 133
Capítulo 8 …............................................................................ 137
Capítulo 9 ................................................................................ 143
Capítulo 10 .............................................................................. 147
pdfconverterCapítulo 11 ............................................................................... 151
Capítulo 12 .............................................................................. 155
Capítulo 13 .............................................................................. 161
Capítulo 14 .............................................................................. 165
Capítulo 15 ….......................................................................... 169
Capítulo 16 ….......................................................................... 175
Capítulo 17 ….......................................................................... 181
Capítulo 18 ….......................................................................... 187
Parte III
ConfrontoFinal
Capítulo 1 ................................................................................ 195
Capítulo 2 ................................................................................ 201
Capítulo 3 ................................................................................ 209
Capítulo 4 ................................................................................ 215
Capítulo 5 ................................................................................ 219
Capítulo 6 ................................................................................ 223
Capítulo 7 …............................................................................ 227
Capítulo 8 …............................................................................ 231
pdfconverterpdfconverterTempos de Escravidão
Apresentação
África.
Ilha de Moçambique.
Primórdios do século XIX.
Rumores pelo fim da escravidão propagavam-se pelo mundo,
suscitando uma gigantesca preocupação entre os senhores de terras e
de escravos, levando-os ao aumento da demanda de mão de obra
antes que fosse sancionada a Lei Áurea.
Por mais uma vez, a ganância pisoteava os sentimentos e a
liberdade do próximo.
A língua portuguesa, a mais falada entre os nativos africanos,
favoreceu o diálogo entre os cidadãos portugueses que visavam a
aquisição dos seus corpos como meras mercadorias: os homens para
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o trabalho braçal, e as mulheres mais jovens para o seu bel prazer.
Desventurosamente, uma caça sangrenta se iniciará.
Um povo que nunca denotou um comportamento hostil será
escravizado, num confronto que propiciará em mortes aos inocentes.
Enfatiza-se que os capitães do mato recebiam recompensas
exorbitantes para a aquisição de novos escravos, bem como a captura
dos fugitivos, se tornando tão perversos quanto aos próprios senhores
que os contratavam.
Milhares de moçambicanos foram arrancados das suas terras,
separados das suas famílias e tratados como animais, ainda que em
sofrimento contínuo, lutavam por suas vidas, de tempos em tempos,
a se rebelarem, convictos de que o Altíssimo os ouvia
silenciosamente, sendo Ele a redenção de todos os negros cativos e
refugiados.
Acontecimentos inesperados surpreenderão os leitores,
mergulhando-os no sofrimento de um povo ignorantemente
desprezado por via de uma característica física, olvidando que Deus
não detenha uma forma, um sexo, ou simplesmente, uma etnia que o
difira.
Lord Henry Ottsburg
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Parte I
Propriedade Albuquerque
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pdfconverterTempos de Escravidão
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pdfconverterTempos de Escravidão
Capítulo 1
Era uma noite de céu estrelado em que os nativos africanos
dançavam e cantarolavam ao entorno de uma fogueira, festejando em
sua plenitude a vida que lhes havia sido dadivada pelo Senhor.
Refugiados na Ilha de Moçambique, os nativos acreditavam que
a paz voltaria a reinar entre os povos, dado que boatos sobre o fim da
escravatura ressoassem pelos quatros cantos do mundo, os
desarmando de um iminente ataque.
Num trabalho solidário e harmonioso, se empenharam na
construção de casas de barro e telhados de sapé, favorecendo um
ambiente restrito para as novas famílias que se formavam.
Neste período, se alimentavam da caça e da pesca, tendo em
vista que o plantio das suas sementes se delongaria por meses para
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que todos pudessem desfrutar da colheita.
A alegria que os contagiava se prorrogou até o amanhecer,
quando exauridos pela dança buscaram abrigo em suas casas, sem
que houvesse a menor desconfiança de que os inimigos os
espreitassem.
- Chegou a hora de atacarmos! - murmurou um feitor, escondido
por detrás dos arbustos.
- Esperemos que todos estejam em profundo adormecimento -
recomendou o capitão do mato, estando ele ao comando das capturas,
e, sobretudo, a mando de um temível senhor de engenho - O patrão
se regozijará com as novas peças angariadas.
- O senhor Petrônio é um homem de sorte, todos que aqui estão
parecem-me gozar de uma excelente saúde, por certo, servirão aos
propósitos braçais - atestou o feitor.
- Sorte temos nós, ganharemos uma fortuna! - o capitão conteve
a gargalhada no anseio de não despertar os nativos.
Atrás de ambos, se encontravam muitos outros homens
fortemente armados, contratados pelo capitão para que os
auxiliassem nas capturas.
O silêncio prevaleceu por duas horas, até que o capitão bradou
autoritariamente.
- Avancem!
Acatando a determinação, homens invadiram as casas, retirando
os nativos à força, sem que os mesmos tivessem a chance de uma
defesa.
Os homens nativos revidaram com a força física dos seus
corpos, golpeados numa luta covarde e desigual, desprovidos dos
armamentos que os inimigos se utilizavam.
Tanto as mulheres jovens como as idosas eram brutalmente
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arrastadas pelos cabelos, as crianças facilmente dominadas, e aqueles
que resistissem, eram torturados e assassinados na frente das suas
família, sem dó e nem piedade.
- Ora, não matem a todos, quanto maior o número de escravos,
maior a recompensa! - zombou o capitão pensando unicamente na
somatória que lhe seria paga.
Entre os nativos estavam Nobumsu, marido de Mumbi e pai de
Edethe.
- Edethe, fuja minha filha! - clamou o pai, de mãos amarradas
ao chão.
A menina de doze anos de idade estagnou-se tamanho o pavor
sentido, testemunha de uma selvageria que jamais imaginou
presenciar.
- Edethe, fuja para a mata! - persistiu o pai.
- Cale-se senão, eu o amordaçarei! - bravejou um dos homens,
chutando-o com força.
Lágrimas se derramavam pelo rosto da criança que segurava
firmemente em suas mãos uma boneca de palha, confeccionada pelo
próprio pai.
De repente, olhando para o lado oposto, avistou o corpo da mãe
ensanguentado ao chão, em sua inocência, muniu-se de forças,
correndo em amparo, entretanto, era tarde demais.
Naquele instante, a dor de Nobumsu era semelhante à da filha,
numa perda que mudaria drasticamente as suas existências, posto que
o pior estivesse por vir.
Suspeitando que Edethe traria-lhe problemas, o capitão do mato
agarrou-a pelos punhos, jogando-a aos pés do feitor, fazendo com
que a menina deixasse cair a sua boneca.
- Por favor, não a machuquem! - gritou o pai sem ser ouvido, em
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pdfconverterTempos de Escravidão
meio às súplicas dos nativos para que se mantivessem vivos.
- Não a perca de vista, essa sim, nos valerá uma ótima
recompensa! - postulou o capitão ao feitor Benjamin, o seu cúmplice
na propriedade Albuquerque.
Sem dúvidas, Edethe era uma linda menina que em breve se
tornaria uma jovem cheia de atributos, uma negra de olhos
amendoados, uma raridade entre os nativos africanos.
Lamentavelmente, o plano de fuga de Nobumsu para a filha
havia fracassado.
Na ânsia de abrandar-lhe as emoções, Nobumsu fixou os seus
olhos nos da filha, embora pequena, Edethe entendeu perfeitamente a
sua ação, o fitando com pesar, na sapiência de que sofreriam nas
mãos dos seus captores.
O momento temido chegou!
Os nativos foram conduzidos ao navio negreiro, num destino
totalmente desconhecido, muitos não suportaram os castigos
impostos, morrendo durante o percurso, e os que somente
desfaleceram eram assassinados por ordem do capitão do mato, na
alegação de que seriam fracos para o trabalho, um feito que pouparia
os seus senhores de pósteros prejuízos.
Divididos em grupos, Nobumsu foi separado de Edethe, na
esperança de reencontrá-la no porão do navio, longe dos olhares
bisbilhoteiros dos feitores para que juntos pudessem partilhar a perda
e a saudade que Mumbi deixaria em suas vidas.
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Capítulo 2
A bordo do navio negreiro, os nativos foram arremessados no
porão fétido e escuro, um agravante que se intensificaria ao longo da
árdua viagem, dado que muitos se definhariam, amontoados como
mercadorias em virtude da falta de espaço, não pelo navio ser de
pequeno porte, mas pelos moçambicanos excederem o espaço
oferecido.
Enfim, o porão foi trancado pelo capitão do mato que se
apoderou da chave.
- Edethe! - uma voz ecoou em meio à escuridão.
- Papai, não vejo o senhor, estou com medo, mal consigo
respirar - replicou a menina, sentindo náuseas.
De mãos amarradas, Nobumsu receou pisar nos seus irmãos
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nativos, caminhando com extrema dificuldade.
- Continue a falar, o som da sua voz me guiará até vosmicê -
rogou o pai.
- Estou aqui papai, não me abandone!
- Oh, querida Edethe, eu nunca a abandonarei! - para a surpresa
de Nobumsu, os nativos iniciaram um murmúrio que o guiou até a
menina.
Notando a aproximação do pai, Edethe o agarrou fortemente
pela cintura temendo uma possível separação, ciente de que a
promessa de não abandoná-la dependeria unicamente da vontade dos
feitores, sem julgá-lo se acaso isso viesse a acontecer.
Numa ação impremeditada, desamarrou-o, acabando por
machucar os seus pequeninos e delicados dedos que nunca
precisaram trabalhar, uma realidade que seria mudada assim que o
navio aportasse no destino, do qual permanecia uma incógnita.
- Me perdoe, eu não pude salvar a sua mãe, nem sequer, a
salvarei das garras de um... - em descontrole emocional, Nobumsu
foi tolhido de prosseguir por meio das lágrimas que escorriam da sua
face, naquele instante, a sua fragilidade foi exposta.
- Papai, eu imploro, não carregue o fardo de uma culpa que não
lhe pertence, o sangue de mamãe não foi derramado por suas mãos, e
a minha vida só a Deus pertence, assim como a sua e a do nosso
povoado, tudo se realizará conforme os seus desígnios - denotando a
sua maturidade, Edethe enxugou as lágrimas do pai com as pontas
dos dedos.
Estufando o peito de ar, Nobumsu aconselhou-a de maneira
direta e realista.
- Seja forte! Quando o navio aportar, será vendida como uma
reles mercadoria para o trabalho escravo, contudo, não desista de
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pdfconverterTempos de Escravidão
lutar pela sua liberdade, sobretudo, pela liberdade dos seus irmãos.
- Eu darei a minha vida pela honra dos meus irmãos! - bradou
entusiasticamente.
- Edethe, prometa-me que nunca colocará a sua vida em risco - a
rispidez de Nobumsu estremeceu-a - Orgulho-me da sua nobre
intenção, conquanto, lutar pela liberdade não significa morrer pela
honra dos