A Preciosa Substância
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A Preciosa Substância - Ricardo Almeida
Poemas de temática variada
DEPOIS
Depois de o Planeta demolido,
Depois de o Sol explodido,
Depois de o Universo apagado,
Quando novos Universos acenderem
E a lei cósmica seguir o infinito
Em face do movimento eterno,
O AMORTOTAL por certo haverá.
Depois de o conjunto de forças,
Na dança de matéria e energia,
Tornar claros os mistérios,
Triunfará indelével a substância
Do AMORTOTAL além de tudo.
Se nada mais houver por fim,
O AMORTOTAL por certo haverá.
POEMA SOLAR
O Sol tem importância maior.
Se não houvesse o Sol,
Não existiríamos,
Nenhuma obra da Humanidade aconteceria.
O Sol rege todas as coisas
De nosso sistema,
É fundamental para a vida na Terra.
O Sol é protagonista,
Aquece, dá luz e proporciona giro
A nosso Planeta de tantas maravilhas
No qual só existe ânimo
Pela incidência solar.
O Sol é um Deus bem escolhido
Por tudo o que significa.
É noite agora,
Mas amanhã ele novamente surgirá.
Nós confiamos no Sol,
E temos que confiar.
FUGACIDADE E PERMANÊNCIA
O quanto lembramos
De todo o leque de acontecimentos?
Qual é a porcentagem das passagens
Lembradas
Em relação às passagens vividas?
Quantos episódios se perderam
No sumidouro dos arquivos perecíveis?
Abro a usina das recordações,
Uma vida inteira realiza tantas coisas,
Mas nem todas se conservam na memória.
Que maravilha que lembramos
Um universo de momentos!
Contudo há um universo no esquecimento.
Quero cantar agora
O silêncio e a diluição dos instantes
Que vivemos e se tornaram
Voláteis à evocação
E de cuja forma nada mais resta.
Se ao evento falta presença na memória,
Consideremos o sentido crucial
De que um dia foi vivido.
AS GARRAFAS
As várias garrafas de vinho
Vazias sobre a mesa
Dizem que deu viagem.
Dizem que pensei em ti
Ou em alguma coisa
Que me deu saudade infinita.
Alguma coisa propulsora
Das loucuras que ainda vou fazer
Dando chance ao imprevisto.
As várias garrafas de vinho
Vazias sobre a mesa
Dizem que a poesia está presente.
Dizem que se deve procurar o amor
Onde ele se fizer bonito
E ele será refinado em ouro.
Alguma coisa sem tempo,
Sem espaço, sem qualquer equação,
Mas consistindo no teor da liberdade.
As várias garrafas de vinho
Vazias sobre a mesa
Dizem que quero a excelência.
Dizem que amo os recantos do mundo
Onde haja flores, vinho e paixão
E música a sublimar o instante.
Alguma coisa que valha a pena,
Vencendo tanta adversidade
E conquistando o território dos sentidos.
DATA
As águas do Guaíba
Estão cansadas agora
E por isso plácidas.
O cordão de luzes
Deita-se no silêncio
Da superfície molhada.
São quatro horas
De uma fixa madrugada.
Que casais se trançam?
Quem bebe nos bares?
Quem alucina nos bordéis?
Quem corre perigo?
Depois da chuva fluente,
O vento exausto parou.
Vejo da minha janela.
Dá para improvisar
Algo de superlativo
No pouco movimento?
Como não perder a noite,
Que é única e não volta,
No escaninho das moradas?
O exterior a cada ser
Restringe possibilidades,
Cala opções agora.
Sigamos a viagem interior,
Uma bebida aveludada,
O sexo no alcance.
Dizer: eu estive
Neste lugar e neste tempo
E vivi algo nesta data.
EXERCÍCIO DE IMAGINAÇÃO
Fico pensando na parceria
Que nunca aconteceu
Entre Neruda e Gardel.
Com certeza surgiria dali
Alguma apoteose
Na forma de palavra e melodia,
Um tango ou um poema
A encantar a América Latina
E o mundo por extensão.
Fico pensando nas coisas grandiosas
Que não se consumaram
Por causa dos caminhos divergentes
E do fado em desencontro.
Onde dormem tais obras maiúsculas?
Não sabemos em que lugar descansam
Sua perdida maravilha,
Mas estão agora na imaginação
De quem sonha
Mais do que a realidade pode limitar.
SUPERNOVA
Vamos, querida, assistir
Ao magnífico espetáculo
Da explosão de uma estrela supernova,
Aceitemos o delírio.
Estamos de camarote
Em um lugar solitário do futuro.
Como é lindo o espaço sideral
Visto daqui!
São tantas cores violentas
E muita luz exacerbada,
É gigantesco o panorama
No bombástico acontecimento.
Composto de matéria e energia,
O véu de noiva dissipado no breu
Tem uma plástica potente
Em sua romântica e distante solidão.
A gaze luminosa
Tingindo de fótons o vazio
Instiga à estelar reflexão:
Haverá sentimento de padrão universal?
O ARTEFATO
Vi no teor de um documentário:
Um artefato de conteúdo vário
Viaja a perder-se na amplidão,
Avança na espacial solidão.
Leva um disco de ouro
Onde está gravado um tesouro:
Elementos da terrena história
Com exemplos da nossa trajetória.