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Portugal: paisagem rural
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E-book111 páginas1 hora

Portugal: paisagem rural

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Sobre este e-book

Partindo das paisagens rurais portuguesas da transição entre o século XIX e XX descrevem‑se as suas alterações ao longo do século XX, acompanhando a passagem das economias orgânicas fechadas para as economias abertas que caracterizam a agricultura comercial. Tendo como conceito central de que em economias fechadas a alimentação não é uma escolha mas uma consequência do que é possível produzir, acompanham‑se as alterações de dieta e de produções como forças motrizes de evolução da paisagem.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento10 de jan. de 2017
ISBN9789898838872
Portugal: paisagem rural
Autor

Henrique Pereira dos Santos

Henrique Pereira dos Santos é casado e pai de quatro filhos. Trabalhou em áreas protegidas de conservação da natureza durante mais de trinta anos, incluindo o Ordenamento e Gestão de Áreas Protegidas e na Rede Natura 2000. Tem estudado a evolução da paisagem rural de Portugal continental no século XX e a sua relação com a dinâmica da biodiversidade. Publicou os livros Do tempo e da paisagem e O gosto de Sicó.

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    Portugal - Henrique Pereira dos Santos

    Portugal: Paisagem Rural Henrique Pereira dos Santos

    Partindo das paisagens rurais portuguesas da transição entre o século XIX e XX descrevem­-se as suas alterações ao longo do século XX, acompanhando a passagem das economias orgânicas fechadas para as economias abertas que caracterizam a agricultura comercial.

    Tendo como conceito central de que em economias fechadas a alimentação não é uma escolha mas uma consequência do que é possível produzir, acompanham­-se as alterações de dieta e de produções como forças motrizes de evolução da paisagem

    Na selecção de temas a tratar, a colecção Ensaios da Fundação obedece aos princípios estatutários da Fundação Francisco Manuel dos Santos: conhecer Portugal, pensar o país e contribuir para a identificação e para a resolução dos problemas nacionais, assim como promover o debate público. O principal desígnio desta colecção resume-se em duas palavras: pensar livremente.

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    Henrique Pereira dos Santos é casado e pai de quatro filhos.

    Trabalhou em áreas protegidas de conservação da natureza durante mais de trinta anos, incluindo o Ordenamento e Gestão de Áreas Protegidas e na Rede Natura 2000.

    Tem estudado a evolução da paisagem rural de Portugal continental no século XX e a sua relação com a dinâmica da biodiversidade.

    Publicou os livros Do tempo e da paisagem e O gosto de Sicó.

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    Largo Monterroio Mascarenhas, n.º 1, 7.º piso

    1099-081 Lisboa

    Portugal

    Correio electrónico: ffms@ffms.pt

    Telefone: 210 015 800

    Título: Portugal: paisagem rural

    Autor: Henrique Pereira dos Santos

    Director de publicações: António Araújo

    Revisão de texto: Susana Vieira

    Design e paginação: Guidesign

    © Fundação Francisco Manuel dos Santos e Henrique Pereira dos Santos, Janeiro de 2017

    O autor desta publicação escreveu ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1945.

    As opiniões expressas nesta edição são da exclusiva responsabilidade do autor e não vinculam a Fundação Francisco Manuel dos Santos.

    A autorização para reprodução total ou parcial dos conteúdos desta obra deve ser solicitada ao autor e ao editor.

    Edição eBook: Guidesign

    ISBN 978-989-8838-87-2

    Conheça todos os projectos da Fundação em www.ffms.pt

    Henrique Pereira dos Santos

    Portugal: Paisagem Rural

    Ensaios da Fundação

    1. Introdução e Atlas breve das paisagens de Portugal

    2. As forças motrizes

    3. Viver habitualmente

    4. A paisagem dos limites da economia orgânica

    5. A idade de ouro

    6. Conclusão e desforra do Professor sobre o Presidente do Conselho (o fim da energia barata como base para uma recomposição da paisagem)

    Notas de leitura complementar

    Epílogo

    Uma nota sobre lobos e paisagens

    Para saber mais

    Glossário

    Estamos reduzidos a fazer deduções a partir dos acontecimentos, alguns deles de significado ambíguo, e sem o apoio de informações documentais expressas. Que o leitor não esqueça essa advertência para não transformar em certezas indubitáveis o que apresentamos apenas como uma interpretação verosímil dos factos

    José Mattoso

    1. Introdução e Atlas breve das paisagens de Portugal

    Ajudar a compreender a evolução da paisagem rural de Portugal continental nos 100 anos do século XX é o objectivo deste livro, sabendo que paisagens são instantes artificialmente suspensos de um movimento perpétuo.

    O carácter de uma paisagem é sempre profundamente marcado pela sua capacidade de produzir vida; mais tecnicamente, pela sua produtividade primária.

    É a combinação de clima e geologia, e consequentemente a disponibilidade de solo, de nutrientes e de água, que definem a maior ou menor riqueza de uma paisagem, medida pela quantidade de energia solar que consegue captar através dos organismos vivos. É o génio do homem, acicatado por uma fome ancestral, que lhe permite gerir a fertilidade e a água no sentido de alimentar o maior número de bocas possível.

    Considerando-se que não há mudanças relevantes na geologia e clima nos últimos cem anos, a evolução das paisagens portuguesas compreende-se melhor olhando para a forma como, no último século, evoluiu aquilo que comemos.

    Todas as paisagens – as paisagens ricas do Noroeste de Portugal, entre o Minho e o Mondego, assentes na economia do milho; as paisagens agrestes para lá do Marão, de trigo, centeio e pastorícia; as paisagens infinitamente pobres dos xistos do centro de Portugal; as paisagens dos calcáreos do litoral, do Oeste e Estremadura, com uma diversidade e riqueza que não são regra em Portugal; as paisagens dos plainos alentejanos, imensas charnecas primeiro, imensas searas mais tarde; ou a delicada filigrana do litoral e barrocal algarvio que as serras separam do Reino de Portugal – todas as paisagens humanizadas assentaram no princípio de utilizar os recursos do território até ao limite do possível para se alimentar o máximo de pessoas, construindo as paisagens que hoje conhecemos, partindo da fome de quem delas vive.

    Havia no Portugal do fim do século XIX excepções às economias estritamente de subsistência, nos solos mais férteis e trigueiros do Ribatejo, Estremadura e Alentejo, onde alguma agricultura comercial se foi desenvolvendo.

    Nessas áreas houve, ainda no século XIX, uma importante entrada de capital resultante do investimento de capitalistas que fizeram as suas fortunas em Lisboa. Por razões económicas e de afirmação social investiram em terra e na produção agrícola e pecuária, aproveitando as oportunidades criadas pela extinção das ordens religiosas e plena nacionalização de muitos bens eclesiásticos, posteriormente levados à praça pública. Essa acumulação de recursos e de capacidade de investimento está longe de ter sido a regra no resto do país.

    Outra excepção é o Douro vinhateiro, com uma vocação claramente comercial e exportadora, longe ainda da actual especialização produtiva. Ainda por volta de 1940 o Atlas de Amorim Girão assinala a região do Douro vinhateiro como uma das regiões de Portugal de produção – e exportação – de laranja, a que se juntavam as produções de azeite, amêndoa, trigo e hortejos.

    Compreender as paisagens geridas por economias de subsistência relativamente fechadas obriga a ter sempre presente o seu princípio central: sempre que é possível produzir alimentos vegetais de consumo directo pelas pessoas, sobretudo alimentos energéticos e fáceis de armazenar – como os cereais ou as batatas –, essa é a primeira opção de uso do solo, porque é a que permite alimentar mais gente.

    Este tipo de economia foi dominante em todo o mundo até aos inícios do século XIX, com maior ou menor capacidade de acumulação de riqueza e maior ou menor facilidade de comércio.

    A máquina a vapor e a progressiva substituição da lenha pelo carvão mineral como fonte primária de energia, mais tarde progressivamente acompanhada por outras energias fósseis, permitiram a algumas economias libertarem-se dos constrangimentos das economias fechadas, de base orgânica.

    O que distingue uma paisagem gerida a partir de uma economia de base orgânica, como a que era dominante no Portugal de princípios do século XX, de uma paisagem que assenta numa economia aberta, como a actual, é a estrita dependência que a primeira tem do território próximo. Nas economias de base orgânica, quando a população cresce mais depressa que a produção, a fome e a emigração são as principais consequências.

    No fim do século XIX, princípios do século XX, houve um forte movimento migratório de Portugal para o Brasil e restantes Américas, sobretudo com origem no Minho (uma região tradicionalmente exportadora de homens) mas também com forte expressão nas Beiras e Trás-os-Montes.

    Este movimento migratório foi uma válvula de escape que permitiu a suavização dos efeitos da pobreza endémica do mundo rural e do país, diminuindo a velocidade a que a pressão sobre o território crescia. Em 1918 a gripe

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