Cozinha de Montanha
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Sobre este e-book
Alda Maria de Oliveira
Engenheira agrônoma
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Cozinha de Montanha - Alda Maria de Oliveira
Apresentação
Neste livro foi reunido um conjunto de receitas práticas, saudáveis e gostosas que é a soma de tudo o que aprendi em 74 anos de existência perambulando pelo mundo.
Parte delas aprendi na roça, com minha mãe e minha vó, ambas camponesas da distante cidade de Canguçu: muitas delas; com minha sogra, que cursou culinária na Alemanha, algumas outras receitas, ou foram contribuição de amigas e amigos.
No entanto, a maioria são produto das minhas horas de absoluto prazer em uma das duas cozinhas de nossa casa no Vale do Sol, na cidade, ou a 1 287 metros de altitude, em nosso Sítio Montanhas da Boa Vista, na comunidade do Cardinot, onde aos sábados, domingos e feriados relaxava no templo
preparando minhas receitas. Há contribuições também do período que morei em outras cidades e países.
É necessário que se diga com absoluta honestidade que sou uma pessoa em trânsito, tenho a consciência exata da minha passagem neste planeta com quem tenho uma relação mágica desde pequenina, por isso sou filha da impermanência; e nada mais é tão ‘inconstância’ quanto uma receita.
E assim trânsito, sem rigidez, mas com um profundo exercício de conscientização, o caminho do meio, deixando as carnes, principalmente a vermelha, em direção a uma alimentação mais leve e mais saudável.
Os poemas, a prosa, os pequenos contos, os pensamentos ou simples registros são páginas da minha vida.
O livro é dedicado ao melhor padeiro que conheço; Gero, meu marido e o amor da minha vida. Também dedico a um excelente gourmet, meu melhor amigo e filho Guilherme, ótimo com as panquecas e crepes.
A minha filha Adriana, melhor companhia e amiga de caminhada terrena, andarilha como eu; que faz um bolo de banana chamado nega maluca
que fica muito melhor quando se erra e fica solado e, acima de tudo as minhas netas Maria Clara, com cinco anos, que adora cozinhar e Micaela Flor, com dois anos, que adora comer.
As observações botânicas, químicas, nutracêuticas e medicinais sobre várias plantas usadas nas receitas, são respingos da minha atividade profissional como pesquisadora e engenheira agrônoma.
A gente à mesa
É aqui que tudo começa.
Aprontar uma mesa para servir uma refeição pode ser sempre, um ato ritualístico, um ato devocional.
Comer é comungar, partilhar, celebrar às vezes com a gente mesmo.
Toalha ou jogo americano; flores, velas, talheres, xícaras, pratos para servir e descanso para panelas, devem primar pela simplicidade e beleza.
Escolher materiais naturais do artesanato regional brasileiro, latino-americano ou africano, desde produtos das várias palhas e cipós, pedra sabão, ferro, barro, argila é firmar um compromisso com as comunidades que geram renda dentro da economia solidária em ações sustentáveis; assim contribuímos com meio ambiente, dando um toque de suavidade e bom gosto ao pôr a mesa.
Estar à mesa é estar num altar especial, onde da melhor forma que pudermos, devemos dar ao nosso corpo, a nossa mente e ao nosso coração emocional a energia necessária para trabalhar, conviver, passear, criar, enfim viver a vida sendo feliz.
Felicidade é a única coisa que realmente importa.
E a filosofia, a psicologia, a psiquiatria, a poesia e uma gama imensa de escritoras e escritores estão reafirmando, cada vez mais, que a felicidade sustentável está contida nos momentos mais simples, nos pequenos instantes de nossa trajetória onde a alegria nasce serena de dentro da gente. Às vezes, olhando atentamente uma flor, um pássaro, o sol que nasce no meio da montanha, um pedaço de rio correndo entre as pedras dentro da floresta, uma criança que ri, uma homenagem recebida, um gesto de conforto e amparo, um abraço forte, um convite inesperado para tomar café na esquina, o livro que a gente queria e uma amiga atenta comprou e deu de presente, os vizinhos que chegaram para o mutirão, o telefonema do amigo distante que iluminou a manhã de sábado ou a noite de quarta-feira de um janeiro perdido no calendário, o amado que chegou para o café da manhã, enfim, mil situações nas quais a gente se sente muito amado e pode amar sem reservas.
Comer é a celebração em cores, sabores e amores. É o fruto da terra posto na nossa frente para tornar nossa alma mais leve.
Salada
Azeite extra virgem, vinagre balsâmico, Zattar, Gersal e Shoyu precisam estar na mesa para dar maior sabor a esse festival de saúde chamado salada. Os demais temperos a gente inventa ou segue a sugestão do ‘caderno equilíbrio’ da Folha de São Paulo, que sai às quintas-feiras, pega na horta, pede à vizinha ou ao vizinho, compra na feira, na mercearia ou nos bons supermercados da cidade.
O termo salada vem do latim herba salata que significa ‘erva salgada’. Os franceses usam mais o termo crudités pois, designa melhor a ingestão de hortaliças cruas, sejam elas folhas, flores, frutos, frutas e sementes. De todas as formas, de todos os tons de verdes, de todas as cores e todos os sabores. Já os romanos começavam a refeição com o gustatio, literalmente antepasto
, aquilo que se comia antes da refeição, que incluía verduras – hortaliças de folhas – variadas, legumes como aspargos e alcachofras, queijos e ovos.
Azeite extra virgem, extraído a frio de azeitonas verdes selecionadas dos países europeus como Espanha, Portugal, Grécia e de vários países do Oriente Médio, como Turquia, Irã, Iraque, Arábia Saudita e outros, traz para nossas mesas uma das melhores fontes de gordura saudável com reconhecidas qualidades como; antioxidante e protetor do aparelho circulatório.
Os Estados do Rio Grande do Sul e Minas Gerais já tem produção nacional de azeitonas e de azeite extra virgem orgânico.
Vinagre balsâmico, que às vezes confunde as pessoas pelo seu nome em italiano ‘aceto balsâmico’ é um vinagre especial feito do mosto de uvas de alta qualidade que são usadas na fabricação de bons vinhos tintos, com baixa acidez e alcalinizante do sangue é um ótimo complemento do azeite para saladas. Uso ‘Aceto Balsâmico De Modena’, italiano, que tem baixíssima acidez e muito sabor e que conheci no Sítio Igarapé, em Macaé de Cima – Cabeceiras, da queridíssima amiga Luciana Seabra Aguiar.
Zattar é um produto do Oriente Médio, à base de gergelim moído e Sumagre ou Sumac- um tempero, de planta arbustiva, de folhas avermelhadas no outono/inverno, produzido principalmente nas montanhas do Líbano que lhe dá um sabor peculiar, um gosto ácido de fruta silvestre, extraído de suas bagas e foi usada pelos romanos antes dos limões terem chegado à Europa; é altamente energético e digestivo, restaurador físico e mental. Em Nova Friburgo, várias famílias de imigrantes libaneses trazem do Líbano, mas se pode comprar o produto, hoje, em várias lojas de grãos em Nova Friburgo. Já se comprou por aqui, na delicatéssen do Carlos e da Rebeca na Alberto Braune e no Merceeiro, em Olaria, da minha muito querida quase-irmã Regina Abicalil. Lamentavelmente ambas as casas fecharam.
Gersal é uma mistura de gergelim natural, semente do Oriente Médio, mas também produzido no Brasil no Tocantins, moído e sal, também energizante realça o sabor dos vegetais da salada.
Shoyu é um tempero de origem japonesa e chinesa, subproduto da soja, líquido escurecido porque contém caramelo,